Capítulo 1

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SELENE

Corria tão rápido que mal via as árvores passando. A umidade nos olhos deixava a visão tão turva que nem via o chão sob meus pés. Eu não parei de correr, mesmo com a dor nos tornozelos e nas pernas, que pareciam queimar de tanto se moverem. A garganta seca ardia cada vez que respirava, mas não parei, não conseguiria...

A floresta estava silenciosa, só havia o barulho dos meus pés e a minha respiração alta, porém, o som das chamas estalando e dos gritos de dor ainda estavam presos na minha mente assim como o cheiro de madeira e carne queimada. O fogo destruíra tudo e todos que eu conhecia. Só de lembrar disso me deixava enjoada, foi difícil conter a vontade de colocar o que eu comi para fora. Eu não aguentei ficar lá, tive de sair de perto.

Lágrimas escorriam pelas bochechas. Eu ainda não acreditava no que havia acontecido. Poucas horas atrás, eu estava tranquila perto do lago da vila, gostava de passar o tempo longe de todos, para refletir. Sentia uma grande paz caminhando sem rumo; fazia isso desde pequena. Perdi a conta de quantas vezes me perdi pela floresta só para ser reencontrada no meio da noite pelos meus tios, que me criaram. Sempre quis me afastar e me mudar para algum lugar longe, mas agora que eu havia perdido tudo, nunca me senti tão solitária e tão arrependida antes.

Ninguém sobreviveu. Quando eu percebi que algo estava errado e voltei para a vila, tudo ao redor já estava coberto pelas chamas intensas. Como não vi a luminosidade antes? Como não senti aquele cheiro forte de queimado mais cedo? De tarde, eu apenas queria me afastar, como se algo me impelisse para longe, era um sentimento estranho. Porém, se eu estivesse lá, poderia ter feito alguma coisa. Eu deveria ter feito alguma coisa. Eu deveria tê-los salvado. Ou ao menos ido com eles, pois assim não estaria sozinha.

Tropecei em alguma raiz de árvore e caí. Sentei devagar, meus músculos tremiam, talvez eu tivesse corrido demais. Arfando, apoiei as costas contra a árvore que me fez ir ao chão e abracei os joelhos. Eu não tinha para onde ir, nem ninguém para pedir ajuda ou apoio. Todos se foram.

Tentei conter os soluços que não paravam de sair enquanto eu chorava ao pegar o livro grande e pesado dentro da bolsa. Essa bolsa era tudo o que eu tinha agora, por sorte eu tinha mania de carregar tudo o que eu precisava comigo. Observei a capa de couro antigo e o abri, folheando. Vários feitiços foram registrados nas páginas amareladas, mas nenhum podia trazer os mortos de volta ou me fazer viajar no tempo para consertar meus erros. Se eu estivesse lá, talvez pudesse ter acabado com o incêndio no início, no entanto, quando eu cheguei, o estrago já havia sido feito. Provavelmente descobririam esse livro e os feitiços. O que fariam depois? Não importa, ao menos estariam vivos.

Fechei o livro e joguei para o lado. Aquela porcaria não servia para mais nada. Continuei chorando e soluçando incontrolavelmente, já estava até com dor de cabeça quando um barulho de algo grande se chocando contra o chão chamou minha atenção. Não parecia ter sido longe, mas era difícil dizer, estava escuro demais nessa noite fria e densa.

Levantei pegando o livro muito mais por hábito do que por vontade, e caminhei na direção do som, poderia ao menos me distrair com alguma coisa, ficar chorando no meio da noite na floresta não ajudaria em nada. Mas era só isso o que eu queria fazer no momento: deitar no chão e chorar pela morte da minha vila inteira.

Minhas pernas ainda estavam trêmulas e doíam ao andar até encontrar algo massivo se mexendo parcialmente dentro da água de um rio.

Era um dragão.

Tio George e tia Nora diziam que eu era sortuda por raramente ter visto um tão de perto e quase nunca ter sofrido um ataque deles, afinal, dragões eram criaturas perversas e simplesmente cruéis. Só que não era maldade o que eu via naqueles olhos enormes e azuis, com pupilas negras verticais arredondadas e dilatadas. O dragão estava caído, havia uma rede por cima dele, certamente fora atingido por uma das catapultas dos caçadores e isso o derrubou.

Selene e o Dragão {Degustação}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora