Trinta e cinco: Siga seu coração

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Dona Esmeralda estava me encarando de braços cruzados do outro lado da mesa fazia, no mínimo, cinco minutos. E, confesso, que já estava ficando incomodada com aquilo. Veja bem, eu só queria terminar de estudar para química em paz, só que ela queria resgastar assuntos do fundo do baú para me desconcentrar.

- Tá, legal. O que a senhora quer que eu faça exatamente? - perguntei largando a caneta em cima da mesa e soltando um suspiro audível.

Ela arqueou uma sobrancelha e ainda ficou me olhando por um minuto e meio - acho que eu estava contando demais - antes de falar.

- Júlia, minha querida, - ela apoiou os cotovelos na mesa e pousou o queixo sobre a palma da mão esquerda -, quero que você entenda que precisa fazer isso.

- Fazer isso o que? - me fiz de desentendida.

Ela bufou e fechou a cara para mim.

- Ele é seu pai - falou devagar, quase soletrando as palavras.

- Ele pensou que era pai quando traiu a mamãe? - foi a minha vez de arquear a sobrancelha.

- Querida, sua mãe já te explicou a situação...

- Ela pode ter até explicado, vovó, mas, pelo que eu entendi, ela só continuou com ele porque estava com depressão e ninguém, nem a senhora, muito menos eu, foi capaz de ajudá-la. Além de que estava completamente cega por aquele canalha. Tem noção do que ela fez nesse período que continuou com ele? Ela me deu pra senhora. Literalmente. Não estou reclamando disso, de forma alguma, graças a Deus que isso aconteceu, mas eu só não vim simplesmente morar com a senhora e eles vinham me ver todos os dias. Não, não era isso. Eles não me viam. Nunca. E eu tenho que ir conversar com ele? Porque, sinceramente, pensei que teria que ser ao contrário - desatei a falar com lágrimas rolando dos olhos. Peguei meu material rapidamente e corri para o quarto, socando a porta e a trancando em seguida.

Sei que Dona Esmeralda não precisava ouvir essas coisas, mas eu estava farta. E, a coisa melhor a se fazer, era me isolar do mundo.

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Eu com certeza precisava fazer alguma coisa com a minha vida. Isso era um fato exposto nas vitrines da Avenida Paulista. O problema é que esses fatos estão caros demais para que eu tenha dinheiro para comprar agora.

- Troque as palavras "caro" e "dinheiro" por complicados e sanidade, respectivamente, que irá entender o que eu estou falando - foi o que eu disse para Bruna parada ao meu lado no corredor da escola.

Ela fez uma cara engraçada e depois começou a rir de mim como se eu estivesse brincando de ferrar minha vida.

- O que você anda lendo? - ela perguntou se recuperando do surto psicótico - Você nunca usou uma metáfora tão engraçada em todo esse tempo de vida que compartilhamos.

Revirei os olhos e me virei para dar de cara com os meus sonhos de todas as noites: João Felipe.

Ele estava parado a poucos metros de mim com olheiras maiores que as minhas debaixo dos olhos e um ar angelical que dava até medo. Mesmo assim, ele estava lindo, o que não foi bom para a minha sanidade. É por isso que eu não queria encarar os fatos.

- A gente pode conversar, Júlia? - sua voz saiu entrecortada e baixa. Ele estava magoado e triste. Eu tinha certeza disso só de ouvi-lo dizer meu nome.

Olhei para trás buscando socorro em Bruna, mas ela já estava no portão puxando Pedro para a direção da sorveteria nova do outra lado da rua do colégio.

Meus olhos lacrimejaram e respirei fundo para não derramar nenhuma lágrima, pelo menos, ainda não.

Ele estava mais perto de mim quando me virei. Seus olhos tinham a esperança que se refletia nos meus. Então eu só concordei e o segui para onde ele queria me levar. De agora em diante, deixaria meu coração tomar as rédeas da situação ao qual a razão me enfiou.

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#FALTAM2CAPÍTULOS

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