⚜Prólogo

93 13 27
                                    




                                                                                             I        

Cartas à minha Loucura

O que escrevo é para mim, para minha mãe, para mim, para meu pai e para minha Loucura. Aqui se vão os dias e dias vão-se. Não imploro por meu dano. O mal está em mim. Está em mim, talvez, antes de eu mesma ter nascido, devo aceitar sem vaidade, pois desse crime não ficarei isenta, mas quem sabe Deus me livre. Pensei que um dia ainda seria feliz e que as lágrimas da minha dor mais forte veriam dias de glória e se secariam. Que eu pudesse enfim dizer-me, caveira fria: "Não recues! De mim não foi-se o espírito..." -Nem isso, querido Byron!

                                                                                      II 

Minha família era anormalmente perfeita. Acredite, todos pensavam que não éramos uma família. O ar parecia parado, jamais se ouvia meus pais me corrigindo. Não porque eu era a filha exemplar, muito pelo contrário, sempre fui a filha que eles não quiseram ter: desejava amar e ser amada. Eu só queria ter uma família! Nossa relação era como um gelo não quebradiço, faltava-lhe calor humano.

                                                                                        III

Durante toda minha infância, bem como agora, sentia minha alma em lugares mais fundos. É estranho, eu sei, uma solidão escondida do espaço terrestre e em tudo que me rodeia. Não me pertencia à nada, mas tão somente ao meu Universo. Um vaso no qual os olhos só contemplam o seu fundo. Quando olhava para vida dos pobres, sentia-me que deveria refletir o quanto era abençoada e então começava a contar infinitas coisas que eu tinha, mas nenhuma só vez tive a sorte de contar o carinho; o respeito e o amor. Não os conheci! Não fui feliz! No amor fui eternamente infeliz! Vivi a vida que não sonhei para mim! Quem dera, quem dera não ter vivido essa Loucura sem fim.


Com âmago,


Júlia Alcântara Barbieri 

06 de junho de 1994                                                    


                                                                               ********************

Memórias de Ninguém #WATTYS2017Onde as histórias ganham vida. Descobre agora