Capítulo 1

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Oi, mãe, como está?

 

 

Bom, acho que não é assim que  eu  deveria  começar  essa  carta. Mas eu realmente gostaria de saber, afinal, há muito não recebo notícias suas.

 

Sei que gostaria de saber que estou bem, mas saiba que não gosto da forma que sou tratado aqui. Todos me olham como se eu fosse um assassino, mas você poderia dizer a eles que estão enganados, mãe. Não me arrependo do que fiz, e sei que não serei castigado por isso; qualquer pessoa no meu lugar teria feito o mesmo. Sei que também gostaria de saber que tenho tomado meus remédios. Às vezes eles me amarram também, mas não é nada demais. Dizem que tudo que fazem é para o meu bem, mas não sei como alguém pode se sentir melhor ao ficar em um quarto branco, sem janelas ou qualquer outra diversão.

 

Tudo bem, vou direto ao ponto. O motivo de escrever essa carta é para lhe dizer que eu falhei no dia de ontem, portanto, acho que ficarei mais dias trancado. Jane diz que eu não deveria ter agredido o Peter,     do FBI. Mas, mãe, me compreenda. A cada segundo eles me fazem perguntas sobre aquele dia, sim, esse mesmo, dia 16/09/2010. Eles querem que eu diga coisas das quais não quero recordar, é como se fosse um  jogo, quando erro a resposta, eles me amarram na cadeira elétrica. É    um pouco doloroso e geralmente eu desmaio, mas no dia seguinte, já   esta tudo bem. Não se preocupe mãe, eu vou sobreviver a essa tortura. Eu só queria que soubesse que nem um inferno é pior do que os dias    que passo longe de  você.

 

Com amor, James.

 


 

Assim que terminei de escrever a carta, Jane entrou no quarto com sua famosa bandeja de comprimidos. Eu ainda não me decidi sobre qual era o pior: o que me dava sono e tontura, ou aquele que me fazia ficar olhando para a parede como um idiota. Ela se aproximou, deixou os remédios em cima da mesinha e me olhou.

 

–   Como está se sentindo, James? – perguntou ela.

 

Jane já era uma mulher de idade, porém, muito atenciosa e paciente. Além de ser minha enfermeira, era também a única pessoa que gostava de mim no manicômio.

 

–   Você mandou as cartas que pedi? – perguntei, com euforia, ignorando sua pergunta.

 

–  Mandei, James. – falou, com lentidão.

 

–  Todas elas? – insisti.

 

–  Todas elas.

 

–    Mandou para o endereço certo? – perguntei, não porque eu duvidava dela, mas eu necessitava ouvir isso todos os dias.

 

–  Sim, James, mandei para o endereço que me deu.

 

–  Será que não anotou o número errado? – falei, a encarando. Por um momento, penso que seria bom se ela tivesse se enganado com o número. – Talvez você tenha se esquecido de mandar.

E se ela soubesse?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora