III. A BANDEIRA VERMELHA

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Muito tempo atrás, Howard chorara a morte de sua família. Sua mais vívida lembrança era do dia em que chegara em casa e ouvira os gritos de seu irmão enquanto queimava. Incêndio criminoso, disseram os peritos. Entretanto, nunca foi descoberto o porquê e ou quem. O evento daquele dia o destruiu. Desde então, Howard nunca pensou que fosse sentir aquela dor outra vez. Infelizmente, estava enganado. Quando soube que seu aluno e pupilo estava morto, reviveu seu pior pesadelo.

Dan Stevens tinha cinco anos quando foi matriculado na escola. Era uma criança miúda, quase esquelética e nunca sorria. Tinha um brilho curioso no fundo do olhar, como se quisesse fazer mil perguntas mas tivesse medo das respostas. Esse mesmo brilho era a principal característica de Corey, falecido irmão de Howard. Instantaneamente, nasceu um vínculo entre os dois. Via de regra, um professor não pode favorecer nenhum aluno, porém, a relação entre Howard e Daniel era tão natural que ninguém ousava contestar. Sem pai presente, Dan via em seu professor um modelo a ser seguido; uma figura masculina exemplar. Enquanto isso, Howard o tomava por um amigo, um irmão mais novo, um filho.

Na manhã do incêndio, Cassandra, mãe de Dan, deixara-o na escola mais cedo. O garoto, que agora tinha oito anos recém-completos, ficaria sentado perto da sala da diretora, a primeira membro do corpo docente a chegar na escola, até que as aulas começassem. Segundo a perícia, o fogo teria começado pelo lado oeste do prédio. Maxime, quando percebeu as chamas se arrastando pelos corredores, saiu desesperada procurando por Dan – que não estava onde deveria.

A perícia encontrou uma bandeira vermelha no portão de entrada. Um pequeno retalho quadrado de pano, colorido em vermelho forte. Em qualquer lugar do mundo, aquele detalhe passaria despercebido. Em Autumn Valley, o objeto tinha um significado terrível.

Nos últimos sete meses, a cidade sofria um medo coletivo. A ameaça não tinha nome, rosto ou qualquer indicativo de que realmente existia. Exceto, claro, os vários prédios queimados até o chão e a pilha de corpos. Vinte incêndios, de todos os tamanhos e proporções. Sete mortos, dezoito feridos e dezenas de famílias que perderam seus lares. Em todos esses incêndios, havia algo em comum: uma bandeirinha em tecido vermelho. No começo foi visto como coincidência, mas, na medida em que as ocorrências aumentavam e as autoridades não paravam de encontrar semelhanças entre os casos, foi admitida a hipótese de um incendiário em série. Queimara lojas, residências, escritórios, galpões e, aparentemente, escolas.

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