Capítulo 2

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1.

Eu não era quem achava que era. Eu me sentia diferente da maioria. Dentro de mim talvez eu sempre soubesse, mas precisei de um "empurrãozinho" para observar que meu futuro já estava traçado. Sempre esteve.

As coisas que sentia não tinham impacto tão destrutivo no início da minha adolescência. O que há de errado em achar um outro cara bonito? O que há de errado imaginar esse cara pelado? O que há de errado imaginar seu pau fodendo o cu desse cara sem parar até gastar a porra do pinto? Realmente não há nada de errado desde que todos esses pensamentos saiam de você numa punheta bem batida. Aí, é só esperar o cérebro carregar mais pensamentos como esses para que você possa descarregar novamente, assim como eu normalmente fazia. Pode ser no chuveiro, na cama, na comida dos outros. Bom, na comida dos outros não é legal desde que isso seja feito com o intuito de vingança inerente a todos aqueles que de alguma forma se sentem ou já se sentiram prejudicados. Confesso que já fiz isso uma vez. Nunca mais consegui comer Strogonoff.

Talvez se ninguém nascesse com pinto, problemas como os que eu passei simplesmente não existiriam. As pessoas não seriam condenadas por querer meter o pinto no rabo de quem quer que fosse. Seria mais útil se viéssemos com uma flor no lugar do pinto. Todos os dias poderíamos deitar ao sol com a plantinha pra fora e deixar as abelhas virem polinizar. Poderíamos deitar nos parques sem as calças e ver seu pinto-flor cheio de borboletas. Chega a ser poético, além de ser útil para a natureza. Mas na atual situação mundial, talvez fosse conveniente vir com uma arma no lugar do pinto. Punhetar uma escopeta seria mais fácil do que tentar fazer isso com uma flor. Clack-clack, já pensou? Excita só de pensar. Além disso ao invés de ficar admirando o tamanho do caule, as pessoas admirariam o seu calibre. Na hora "h" perguntariam: "humm você é três oitão!" ou então "posso experimentar o seu calibre 22?". Acho que nenhum cueca se sentiria a vontade com uma pistolinha 9 milímetros. Se tem gente que reclama quando leva uma gozada no olho, imagine o estrago que faria uma "rola-bazuca"! O problema dos cuecas é deixarem que um órgãozinho que fica escondido lá embaixo a maior parte do tempo interaja com o cérebro em quase todas as tomadas de decisões. E isso acaba refletindo em sua conduta.

Minha vida havia tomado um rumo totalmente diferente do que eu tinha previsto. Tinham momentos tempestuosos, mas tinham momentos ensolarados. Sol é chuva todos já sabem o que dá. Não, não é casamento de viúva como diz o o dito popular. É o arco-íris. Eu e vários cuecas somos iguais ao arco-íris. Surgimos alegres (como as cores), uns até mais do que deviam. Vivemos entre dias ensolarados de passividade e tempestuosos de preconceitos próprios e alheios. Nem sempre somos vistos ou admirados, mas existimos. Nem sempre aparecemos, mas quando aparecemos chamamos atenção. Uns pelo comportamento outros pelo simples fato de fugirem a regra. Somos lindos, lúdicos, grandiosos. Somos amigos, confidentes, misteriosos. Somos gays. Somos orgulho. Somos um símbolo. Assim como a bandeira que nos representa.

Foi na San Francisco Gay Freedom Day Parade que a bandeira do arco-íris foi usada pela primeira vez com a intenção clara de simbolizar o orgulho gay, aconteceu no dia 25 de junho de 1978. No início dos anos 70, nos Estados Unidos, haviam várias bandeiras de arco-íris simbolizando a união dos povos. Mas no final da década, a sua associação ao orgulho gay estava já bastante marcada. Durante uma Guerra no século XVI na Alemanha, foi usada como sinal de esperança na nova era. Atualmente a bandeira é sobretudo reconhecida como símbolo do movimento LGBT. Também usada como símbolo da Paz. Mas será que existe paz? Haverá paz?

A minha paz acabou numa noite. Eu sabia que era uma manobra arriscada, mas eu não estava interessado em saber disso. Ele era o meu desafio. Tinha se tornado uma questão de honra. Ele não escaparia como das outras vezes. Eu sabia que estava sendo filha da puta, não só com ele. Mas o que posso fazer quando os instintos falam mais alto que a razão? Eu ia pegá-lo e seria naquela noite e a qualquer custo.

VERDADE ENTRE CUECAS (2017)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora