Capítulo 14

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LONDRES, DOMINGO, 03H45MINAm

— O pior já passou — o Dr. Harris, em seu jaleco branco, disse em minha frente, sem tirar os olhos do formulário de Will. Eu o via muitas vezes por ano desde 2007, e eu nunca desejei tanto não precisar reencontrar uma pessoa como desejava ao ver ele. Não porque Dr. Harris é uma pessoa ruim, mas porque significava que Will estava em apuros. — Ele vai ficar bem. Gostaria de vê-lo?

Sem conseguir falar nada, apenas balancei a cabeça. Com uma mão atenciosa e cuidadosa, o médico que já tinha uma grande intimidade comigo e minha família, me conduziu até o final do corredor. Seu toque era acolhedor e parecia querer dizer em silêncio "calma, eu sei o que está passando, e não irei desistir do seu marido". Olhei por cima dos ombros enquanto caminhava, enxergando Nathan, com seu corpo imenso, sentado nas cadeiras de espera. Ele estava com os fones de ouvido, mas seus olhos eram firmes em mim, o que dizia que ele ainda estava atento em tudo. Meu coração ficou descompassado, porque eu já sabia exatamente o que me esperava: era Will deitado sobre o leito, com seu corpo vulnerável, a mente grogue e a voz rouca. Se eu tivesse sorte, ele não estaria usando uma máscara de oxigênio — o que eu achava muito difícil, pois, na maioria das vezes, ele sempre usava.

O Dr. Harris abriu a porta para mim, me dando espaço para passar e eu sabia que a partir daqui eu estaria sozinha. Ele nunca me acompanhava, sempre nos deixava a sós, pois sabia que sem ninguém para nos supervisionar seria mais fácil e menos tenso — como se fosse possível — lidar com a situação. Com um empurrãozinho de encorajamento nas costas, ele me impulsionou para dentro do quarto. Assim que entrei, ouvi o barulho dos aparelhos e isso já bastou para apertar meu peito até doer. Respirando fundo, me aproximei do leito. O corpo esguio de Will estava esparramado ali, debaixo da coberta fina e branca do Hospital, com seus braços — cheios de fios — repousando ao lado do corpo. Me perguntei quanto tempo ele levaria para ir embora dali e tive medo do que meu inconsciente atrevido me respondeu. Quando fiquei ao lado dele a primeira coisa que fiz foi segurar seus dedos grandes. Estavam gelados. Colei meus lábios em sua testa, respirei fundo e voltei a olhá-lo. Seu rosto estava claramente cansado, como se não dormisse há dias. Sua pele estava pálida e a boca esbranquiçada. E, infelizmente, a máscara estava ali, cobrindo metade do seu rosto, aterrorizando minha mente com aquela imagem. Eu odiava vê-lo assim. Odiava ainda mais saber que antes de ele estar assim, estava também bravo comigo. O que ele diria quando abrisse os olhos e me visse aqui? A possibilidade de me mandar para casa era grande. Será que ele se esqueceria disso ou manteria um muro de barreira entre a gente?

Minutos depois, quando estava quase me convencendo de que não haveria possibilidades de conversar com ele hoje, senti seus dedos apertando os meus de leve, como se tentasse me avisar que sabia que eu estava ali. Sorri assim que senti.

— Will — sussurrei com a voz rouca. Pisquei algumas vezes, assustada com o fato de estar chorando sem nem perceber. Pigarrei, desejando que ele não tivesse notado. — Não tente falar nada, por favor. E não precisa abrir os olhos. Vou ficar aqui, não se preocupe.

Ele tentou mover o braço, indo com a mão em direção ao rosto, mas o cansaço era maior que sua força e então seu braço caiu sobre o peito. Eu vi seus olhos se apertando e, se não me engano, seus lábios franziram por detrás da máscara. Eu sabia o que ele estava tentando fazer.

— Não precisa falar nada, Will — repeti, apertando meus dedos aos dele. — Não se esforce agora.

Ignorando-me completamente, ele tentou repetir o movimento. Revirei os olhos. Will era a pessoa mais teimosa que eu já conheci no mundo inteiro. Mas, mesmo não querendo, eu o ajudei. Coloquei uma das minhas mãos sobre seu braço, avisando que ele podia descansar e, com a mão livre, tirei sua máscara. No mesmo segundo ele puxou forte o ar, depois soltou.

Como Eu Era Antes De Você - Cinco anos mais tardeOnde histórias criam vida. Descubra agora