Capítulo 1

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LONDRES, SEGUNDA-FEIRA, 10:52AM

As pessoas costumavam a não colocar fé nos nossos planos; uma hora diziam que Will jamais conseguiria o movimento de um único dedo, outra falavam que ele sequer resistiria a dois anos sem ter a ideia de voltar para Dignitas. Se dependesse de tudo o que as pessoas de Stotfold diziam, jamais seriamos felizes. Por isso nos mudamos de lá depois de um ano e meio tentando conviver no meio daquele monte de gente que apenas nos conheciam como "o casal de Dignitas". Odiava isso. E odiava ainda mais sair nas ruas e ser olhada da cabeça aos pés, conseguindo ler nos olhos de todos o que estavam pensando: Dignitas. Esse lugar me atormentou muito por tanto tempo que eu não conseguia mais viver em um lugar onde as pessoas só me conheciam por isto. Queria uma vida nova. Um começo novo. Ao lado de Will.

Depois de quatro anos em fisioterapias diárias e em intermináveis consultas e estudos médicos, Will, com muita dificuldade, conseguiu recuperar alguns movimentos. Não eram precisos e nem rápidos como o de todas as outras pessoas, mas já era um grande avanço... Ele movia os braços. Os dedos continuam esticados, sem conseguir se dobrar para segurar alguma coisa — como o garfo, por exemplo —, mas já eram movimentos suficientes para erguer os braços e me envolver entre eles. Depois de quatro anos, eu finalmente recebi um abraço do meu marido. Não tão apertado, mas o suficiente para me sentir protegida como jamais nenhum homem me fez sentir antes. Eu podia sentir o calor deles me aquecer, as veias saltarem nos antebraços com o esforço e podia perceber o quanto era terno. Para muitos casais, um abraço é comum e é trocado a qualquer momento, mas para nós esse abraço significou que a vida dele vale a pena.

E meus pais costumavam falar que eu e Will éramos um milagre em Terra.

Minha mãe sempre acreditou em milagres e nunca escondeu isso de ninguém. Eu até acreditava, mas nunca pensei que chegaria ao ponto de um milagre acontecer em minha vida. De todas as surpresas que aconteceram com nós, essa foi a maior de todas — principalmente para mim. Nunca imaginei que minhas noites de amor com Will — um pouco dentro dos limites dele — resultariam em uma nova vida.

— De novo aqui?

A voz de Will me fez parar de dobrar a blusa minúscula. Pousei minha mão sobre minhas pernas, com os dedos agarrados no tecido macio. Levantei os olhos e o vi parado na soleira da porta, a mão sobre o joystick, com os cabelos levemente arrepiados. Na boca, um sorriso torto, com os lábios rosados formando um belo contraste com as bochechas vermelhas. Carinha de cansado e de quem acabara de terminar sua fisioterapia. Sorri ao vê-lo ali. Ao longo de todos esses anos, a cada vez que eu o via, era como se fosse uma dádiva. E eu não podia não me sentir grata a cada uma dessas vezes por ter conseguido fazê-lo ficar.

— Gosto dessas roupinhas — comentei, sorrindo de volta para ele.

Em silêncio, mas ainda sorrindo, ele se aproximou de mim. O zunido leve da cadeira de rodas era o único som do quarto cuidadosamente mobiliado — além dos sons dos passos pesados de Nathan no cômodo ao lado. Embora o mesmo ainda não trabalhasse como antes para nós, ele ainda continuava presente na rotina de Will para realizar nas sessões de fisioterapia. Não precisávamos mais dele quase o tempo todo, pois os anos vivendo sozinha com Will me deixaram acostumada com todos os processos e os horários dos remédios. Apesar disso, Nathan tornou-se nosso grande amigo e ele nunca excitou na hora de ajudar em alguma tarefa.

— Também gosto — Will disse, parando ao meu lado. Seus olhos foram da blusa em minhas mãos até a bolsa de bebe, agora vazia, que estava pousada atrás de mim. Era a terceira vez em menos de dois dias que eu esvaziava a bolsa e mudava as roupas para levar ao Hospital. — Será que você poderia...

Como Eu Era Antes De Você - Cinco anos mais tardeDonde viven las historias. Descúbrelo ahora