V - Sangue e lágrimas

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"Na verdade, tudo foi uma droga-- tive uma infância ridícula, mas poderia ter sido pior." Mais alguns soluços, ela procurava forças dentro de si para continuar falando.

"Meu pai era um aborto, sabe?" Emma recentemente havia descoberto o que significava ser um aborto no mundo bruxo, e foi por essa razão que sua boca se abriu com seu repentino espanto, porém Regina nunca chegou a ver a expressão surpresa da moça, sua visão estava embaçada demais.

"Mas como meus avôs já estavam mortos há muito tempo, não poderiam negar seu sobrenome bruxo na frente da mamãe. Ele a enganava, era um bom homem, mas tinha alguns truques na manga para fazê-la acreditar que era um bruxo autêntico. Nem é preciso contar o que ela fez quando descobriu, eu tinha alguns meses de vida na época." Um novo silêncio preenchido pelos soluços. Conhecer seu pai sempre fora um dos maiores desejos de sua vida, mas como tantos outros nunca seria possível, e era por essa razão que doía tanto.

"Logo depois que a verdade sobre o papai veio à tona, todos os olhares recaíram sobre mim. Eu sempre fui muito pressionada a mostrar meus dons mágicos. Mamãe tinha um plano pra mim caso eu tivesse puxado ao papai, qualquer rua trouxa seria meu novo lar. " Lembranças de uma Cora mais nova invadiram sua mente. Naquela época a garota possuía a convicção de que fora adotada, pois de outro modo era impossível ter seu sangue correndo em suas veias. Infelizmente, aquele não passava de só mais um devaneio de infância, quem dera fosse verdade.

"Claro que na época eu não sabia disso, mas ouvia cochichos entre mamãe e a tia Cissa, que sempre soube de tudo e por isso tentou ajudar, sugerindo novos métodos de me testar. Talvez essa coisa toda tenha provocado um atraso na manifestação dos meus poderes, aos 8 anos finalmente aconteceu, elas estavam prestes a desistir de mim. " Ah, como agora Regina preferia que elas o tivessem feito! A verdade é que naquele tempo desejara ser um aborto, como seu pai. Ela se identificava com ele imensamente, mesmo não o tendo conhecido. Em parte porque Cora sempre se referira aos dois de modo semelhante, com o mesmo tom de desgosto, quase nojo. Quando finalmente se dera conta de tudo pelo que passou, percebeu que sua magia só tardara a aparecer por que essa coisa toda, era a vontade ser mais como seu pai e menos como sua mãe.

"Depois que eu provoquei um incêndio numa velha poltrona da sala, fizeram uma festa e a partir daí eu recebia instruções de algumas pessoas, principalmente da tia Cissa, que tentava me tornar uma mini versão de sua irmã." Naquele dia, por um simples acidente, deixara de querer ser um aborto. Foi num momento de raiva, de tudo e de todos, que toda a ira se materializou no fogo que destruiu um dos móveis que Cora mais amava e que não teve, porém tempo suficiente para lastimar devido ao sentimento de grande felicidade por ter uma bruxa na família.

"Isso era tudo o que eu sabia sobre minha infância até pouco tempo. Peço desculpas a você por não ter contado antes, eu não pude evitar, é nojento!" Regina enxugou o rosto molhado numa das mangas das vestes, sua visão se tornou mais nítida conforme as lágrimas começaram a descer num ritmo menos intenso.

"Assim que matou meu pai, mamãe tomou medidas desesperadas para que o nome de nossa família não fosse manchado devido a um envolvimento com um aborto. Ela me jogaria em qualquer canto se eu fosse como ele, mas se eu fosse uma bruxa-- ela-- ela fez o voto perpetuo-- ela prometeu ao Lorde das Trevas. Ele teria planos para mim." As palavras foram sumindo da garganta, Emma a olhava, paralisada, chorava em silêncio e parecia estar apenas tentando digerir tudo.

"Eu não consigo falar, deixe-me mostrar." Regina aproximou-se um pouco mais e com a mão direita levantou a manga de seu robe, deixando exposta a cicatriz que ganhara ao completar 17 anos, quando fora marcada para sempre pelas mãos Dele. Em sua pele estava tatuado, numa coloração escura, o sinal maldito de sua eterna conexão com Ele: A Marca Negra.

A Maldição ImperdoávelWhere stories live. Discover now