— E isso importa? – Gabriel perguntou.

— Para mim não muito, mas minha mãe me deserdaria por engravidar sem casar.

Senti que o comentário se apegava a mim também. Eu não tinha notícias dos meus pais desde que contei a eles sobre o fim do meu noivado e a notícia da minha gravidez.

Ana percebeu a besteira que tinha falado e logo se arrependeu do que falou.

— Ai amiga, me desculpe, eu não quis...

— Está tudo bem – falei, mas não era verdade.

Algumas vezes me peguei pensando se meus pais nos receberiam se eu aparecesse com Valentina em meus braços.

Espantei o pensamento da minha mente e sorri para minha amiga.

— Aposto que Beto logo marcará a data – falei mudando de assunto.

— E quero uma festa grandiosa, com direito a despedida de solteira e tudo. Com caras seminus desfilando na minha frente...

— Lia com certeza, não irá participar – Gabriel falou sério.

— Claro que irá, assim como as outras madrinhas.

Depois de alguns segundos, ela começou a rir.

— Você precisava ver sua cara Gabriel, foi impagável.

— Será que algum dia, você irá parar de implicar com ele? – perguntei rindo também.

— Algum dia, quem sabe.

— Vou trabalhar antes que enforque sua amiga. Precisa de dinheiro?

— Não. Estou com o cartão de crédito que você me deu.

— Se demorar no shopping, podemos almoçar juntos, o que acha?

— Pode ser. Aviso-te qualquer coisa.

— Certo. Preciso ir agora.

Gabriel me beijou e se levantou para ir embora.

— Tchau para você também Gabriel – Ana não iria perder a última do dia.

Gabriel apenas acenou antes de bater a porta.

— Você não tem jeito Ana...

— Deixe-o acreditar que eu estava brincando sobre os stripers – ela riu alto.

— Eu desisto. É sério – falei rindo – preciso ir agora. Obrigada por ficar de babá a noite passada.

— Não agradeça por isso. Estou vendo que a noite rendeu.

— Pode acreditar.

— Qualquer dia desses você vai ter que me dar detalhes, os sórdidos.

— Não mesmo – falei sério, mas logo comecei a rir.

— Você é uma grande estraga prazeres...

— Eu não fico perguntando sobre sua intimidade com Beto – me defendi.

— E nem precisa, posso te contar quando quiser.

— Não mesmo. Não quero saber das... Céus, nem quero imaginar.

Esperei Ana se arrumar para a aula e aproveite para pegar uma carona até o shopping.

Cheguei na hora em que abriu. Iria fazer as compras e depois iria encontrar Gabriel para almoçar.

Meu telefone tocou e demorei a encontrar o aparelho dentro da minha bolsa. Quando consegui pegar, não acreditei quando vi quem era.

— O que você quer Eduardo? Já não deixei bem claro que não temos mais nada para conversar?

— As coisas entre eu e você nunca irão ficar claras até você me dar uma oportunidade para explicar meus motivos...

— Você já teve a oportunidade, ouvi tudo e deixei claro que você não tem mais nenhum significado em minha vida.

— Falar por telefone é fácil. Qualquer mentira pode ser contada. Essa é você, só se sente segura com algo que a mantenha longe.

— Deixe-me em paz Eduardo.

— Por que não aceita se encontrar comigo e me falar isso cara a cara?

— Esquece...

— Está com medo de cair em si e perceber que ainda me ama?

— Eu já falei que não te amo.

— Vou precisar mais do que palavras jogadas ao vento para acreditar. Venha me encontrar. Estarei naquele mesmo restaurante te esperando em meia hora.

— Vai me esperar a toa.

— Vou mesmo?

Eduardo desligou antes que eu pudesse responder. Fiquei olhando para o aparelho por algum tempo antes de jogar dentro da bolsa.

Passei rapidamente na farmácia e depois liguei para pedir um táxi. Ainda estava cedo para almoçar com Gabriel, mas poderia aguardar na recepção.

Dei uma olhada em minhas mensagens e tinha uma de Eduardo.

"Estou aguardando".

Ele não iria desistir e se eu não colocasse um ponto final nessa conversa, ele não me deixaria em paz. Nem ao Gabriel e nem Valentina.

Olhei para a hora e calculei o tempo. Dava para conversar com ele e ainda almoçar com Gabriel. Quando o encontrasse falaria do encontro com Eduardo e sobre o ponto final da nossa história.

Mudei o endereço de destino e esperei o táxi vir nos buscar.

Vinte minutos depois, estava estacionando no lugar onde tudo tinha começado e onde tudo terminaria.

Ajeitei Valentina no carrinho e entrei no restaurante. Não levei muito tempo para avistar Eduardo. Quando ele me viu, sorriu e se levantou para me receber, colocando o telefone no bolso.

— Sabia que você viria – disse quando me aproximei.

— Não vim pelos motivos que pensa. Quero deixar bem claro como vai ficar nossa relação.

— Me adiantei e pedi um vinho...

— Não sei se percebeu, mas estou com minha filha e ainda estou amamentando.

— Claro, tem razão. Vou pedir para cancelar então.

Ele fez sinal para o garçom, enquanto eu verificava se Valentina havia adormecido novamente.

— Você tem jeito com criança. Na verdade sempre teve. Parece que nasceu para ser mãe.

— Eu não sabia se seria uma boa mãe até tê-la em meus braços.

Houve um breve silêncio antes de Eduardo voltar a falar.

— Eu lamento muito pelo o que a fiz passar.

— Pois eu não.

Ouvi meu telefone tocar e peguei minha bolsa para pegar o aparelho. Era Gabriel.

— Não vai atender?

Desviei o olhar do aparelho e encarei Eduardo.

— Pode ser importante – ele foi insistente.

Coloquei o telefone no silencioso e guardei de volta na bolsa.

— O que você quer com esse almoço?

— Você – disse direto.


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