CAPÍTULO I - Sob o olhar do Devoto

719 75 123
                                    


  Os olhos inocentes dela me encaravam, inexpressivos, enquanto eu permanecia sentado na velha poltrona, inerte, inatingível por sua cena há alguns minutos atrás; o som de seu choro causava em meu intimo um rebuliço, um misto inebriante de sentidos

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Os olhos inocentes dela me encaravam, inexpressivos, enquanto eu permanecia sentado na velha poltrona, inerte, inatingível por sua cena há alguns minutos atrás; o som de seu choro causava em meu intimo um rebuliço, um misto inebriante de sentidos.

Agora calada, ela abraçava as pernas enquanto continuava recostada á parede, delicada como uma porcelana. Se ao menos desse a mim a chance de mostrar minhas intensões, ela veria que não sou o monstro que pensa.

Mas seu medo a impedia de enxergar a verdade e despertava em mim uma fúria há muito adormecida, eu não devia, não queria tê-la machucado, mas o cheiro de seu medo me transformava no que ela temia, e isso me levava a um extremo, onde não conseguia distinguir nada além da raiva imensa que crescia.

- É melhor se limpar.- falei, enquanto levantava num impulso, ela se encolheu quando meu corpo se ergueu, me fazendo revirar os olhos.- Ou o cheiro do seu sangue vai impregnar a sala.

Segui em direção à pequena cozinha do apartamento, bufando ao olhar para trás e vê-la ainda paralisada, encostei o corpo no balcão, enquanto vasculhava nos bolsos de meu casaco pelos cigarros; a única coisa que conseguia me acalmar.

Pelas janelas imundas da sala, era possível ter um vislumbre do tempo terrível que estava aquele dia, a umidade no ar, o som das gotas de chuva a bater contra o vidro, um dia completamente fudido, que não colaborava para o meu humor.

Traguei profundamente, sentindo a fumaça invadir-me, enquanto observava o rosto dela a ser escondido por seus cabelos loiros, os mesmos se grudavam em sua pele translucida, ela estava começando a ficar imunda como aquele lugar.

Continuei ali, tragando o cigarro lentamente, sentindo meus pulmões a protestar, quando se está completamente atolado na merda, apressar o processo com um vicio não é nada mal.

Caminhei novamente em sua direção, sustentando o cigarro ao canto de meus lábios, abaixei meu corpo com calma á frente dela, um ser tão pequeno, o cheiro de seu sangue se misturava ao da fumaça do cigarro e não consegui decifrar se aquilo me atiçava ou me causava ânsia.

- Sua falta de obediência me irrita, sabia...- informei, enquanto traguei mais uma vez, deixando a fumaça ser solta logo após contra o rosto de minha doce Sienna, que tossiu algumas vezes, agora tentando não focar em meus olhos.- Se não quer fazer, eu mesmo terei que limpar essa merda toda.

Por fim, levantei, atirando o cigarro no chão, pisoteando-o, peguei em uma de suas mãos, fazendo com que ela se erguesse, observei seu vestido manchado e os hematomas em sua pele macia. Eu era um completo filho da puta, machucar algo tão belo como aquela garota...

Guiei-a até o banheiro, onde o mau cheiro era ainda pior do que o que ela exalava, aquele lugar inteiro fedia, era uma das consequências de ser alguém como eu. Fiz com que sentasse sobre o sanitário, enquanto ligava a água para encher aquilo que um dia pode ser chamado de banheira.

- Pode tirar a roupa, Sienna.- falei ainda de costas enquanto sentia a água morna em minha pele, não houve movimento algum, então virei-me, encarando seus doces olhos, ergui uma sobrancelha, sorrindo de canto ao ver a suas bochechas adotarem um coloração avermelhada.

Ela então levou a mão até a fina alça de seu vestido, retirando-a com calma, ela poderia demonstrar não saber, mas aquilo me atiçava, e no fundo, ela sabia, minha doce menina sabia como deixar-me completamente louco.

Ela então levantou e deixou o tecido imundo deslizar em sua pele pálida, respirei fundo, tragando o perfume de sua inocência quando ela passou por mim, encaminhando-se para a banheira. Ao sentar-se na água, a coloração tornou-se avermelhada pelo sangue seco preso em sua pele.

Entreguei a ela a pequena esponja, enquanto me sentava, observando cada movimento de seu corpo, o modo calmo com que passava o objeto na pele, evitando novamente me olhar nos olhos, gostava de vê-la daquela forma, a vergonha vertendo de cada poro de sua pele.

Após algum tempo ela parou repentinamente, encarando a água agora completamente avermelhada, estreitei os olhos, estranhando, ela então ergueu uma mão, a que continha a esponja, esperando paciente, sorri ao entender. Peguei-a e ela inclinou o corpo para frente, expondo suas costas desnudas, tentando ser o mais delicado possível começo a limpa-la deixando a espuma escorrer lenta até atingir a água novamente.

Meu intimo se aquecia a cada toque repentino de minhas mãos contra sua pele quente, o controle sobre meu próprio corpo estava esvaindo-se, mas a calmaria no ar fazia com que ele eu temesse quebrar aquele momento, não queria vê-la sofrer nem mais um minuto.

- Pode continuar sozinha, vou aquecer uma daquelas malditas latas de feijão, vista o roupão.- falei me erguendo por fim, precisava esfriar a mente, o corpo inteiro, deixei-a sozinha.

[...]

- Veja só...- comentei, enquanto largava a o garfo sobre o prato, Sienna olhou-me de esguelha, enquanto comia com certa rapidez.- Minha menina esta falada, os jornais não param de informar sobre seu desaparecimento.- Mostrei o jornal a ela que estreitou os olhos, buscando ler o que a noticia dizia, não dei a ela o tempo necessário para isso, ela não precisava ler tais besteiras.- Na televisão estão falando de você também, até mais, é uma pena aquela porcaria ali na sala não funcionar!

Seus olhos se fixaram nos meus por longos segundos, não consegui de inicio decifrar o que aquele olhar significava, mas compreendi, o incomodo e a fúria era inevitável por parte dela.

- Sente raiva por isso?- indaguei, abrindo um sorriso de canto, pousei o jornal fechado sobre a mesa e vi seus olhos o seguirem.- Eles vão esquecer de você, toda essa comoção vai acabar, é sempre assim, essas pessoas esquecem daqueles que um dia conheceram, pessoas não são boas, Sienna...

Ela cerrou os olhos, pude ouvir sua respiração se alterar e logo suas orbitas verdes se embasaram.

- Mas eu não sou assim, não a esquecerei, minha doce menina, eu a tirei de um mundo perdido.- articulei, buscando sua mão pequena sobre a mesa, ela as retirou rapidamente, me olhando de forma triste. Fechei os olhos fortemente.- Um dia ainda vai aprender que aqueles que diziam te amar mentiram, e vera que só tem a mim a partir de agora.

________________


Trata-se de conto com sete capítulo ao todo.

Está é uma historia completamente ficcional, todos os personagens e situações aqui descritas foram criadas por mim.

A história envolve abuso e agressão, não tendo nenhum intuito de denegrir ou magoar ninguém, os avisos servem exatamente para isso, caso não sinta-se a vontade com esse tipo de tema peço sua compreensão para que entenda que isto é apenas uma obra de ficção.

A síndrome de Estocolmo se encontra também presente na trama.


Devoção DoentiaWhere stories live. Discover now