Capítulo 10 - Um convite inesperado

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Ao acordar sexta-feira pela manhã, eu estava totalmente oca e com a sensação de que um ônibus passou por cima do que sobrou. A vergonha da noite anterior ainda pairava sobre o meu quarto em forma de xícaras, restos de folhas e remédios. Não fui à emergência, pois detesto hospitais, então, minha noite foi à base de chás e outras receitas caseiras que minha mãe aprontou. No final, deu tudo certo, as receitinhas resolveram meu problema e ainda pude experimentar ficar ao lado da minha mãe como antigamente.

A dor tinha ido embora e meu estômago vazio já implorava por comida. Levantei da cama, segui o cheiro de café que vinha da sala e me deparei com uma cena incomum: a mesa posta e todos sentados como uma família normal. Júlio lia alguma coisa no celular, Caio atolava o pão de Nutella e minha mãe servia café nas xícaras. Dei "bom dia" e sentei também, atraindo todos os olhares para mim.

- Irmã-ã... Que noite de bosta! - Caio disse, rindo.

- Ha, ha, ha! - eu respondi, fingindo estar zangada.

- Caio, com quem você aprendeu essa palavra horrível? - minha mãe perguntou.

Eu dei de ombros para ela e fiz sinal para ele quando minha mãe não via.

- Você está melhor, Marina? Eu comprei algumas coisas para você - Júlio disse.

- Estou melhor, obrigada por se preocupar.

Em cima da mesa havia banana, maçã, melão e uma jarra de água de coco bem gelada, prova de que ele saiu bem cedo para providenciar. Minha mãe sorria de orelha a orelha porque ela adorava aquelas tréguas entre nós dois.

- Acho que não devemos viajar com você desse jeito - Júlio disse.

- Ah, poxa, pai! Eu quero ir à praia - Caio lamentou. - Você prometeu.

- Não, Júlio, acho que vocês devem viajar sim. Eu já estou melhor.

- Yeah! - Caio gritou.

- Filha, tem certeza? - minha mãe perguntou, preocupada.

- Claro, mãe, já está tudo bem, não tive mais episódios. Eu preciso apenas descansar um pouco, pois estou me sentindo ainda indisposta. E eu também quero muito ficar porque preciso estudar, já tem muita matéria acumulada.

- Em duas semanas de aula? Eu disse que essa escola era boa, Estela.

Tive que me segurar para não revirar os olhos, Júlio só pensava nisso.

- E vocês não estão indo muito longe, não é? Se eu precisar de alguma coisa, dá para vocês voltarem rapidinho - falei.

- Então, ... - minha mãe respondeu. - Já que você quer tanto se livrar da gente, nós vamos.

- Ieba! Vamos para praia, vamos para praia! - Caio logo inventou um música e fez uma dancinha para acompanhar.

- Mas vou te ligar todo dia no telefone fixo, às 21h. Combinado, mocinha?

- Claro, mãe. Para onde eu iria?

Não era a primeira vez que eu ficava sozinha em casa, minha mãe e Júlio já viajaram a trabalho algumas vezes e eu fiquei tomando conta de Caio. Na verdade mesmo, eu estava sem a menor disposição para as atividades em família que minha mãe, com certeza, inventaria. Eles reservaram um chalé, num resort no Litoral Norte, há poucos quilômetros de Salvador e ela ficou a semana toda lendo a programação do local pela internet, toda empolgada, dizendo que a nossa família precisava se unir. Eu não estava com o menor clima para isso, preferia ficar sozinha.

Onde eu quero ficar (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora