Paixão ardente

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Yaren também se sentou, e uma moça até bonita para uma servente veio trazer uma jarra de vinho e outra de suco. A Capitã aceitou do vinho, mas Yaren preferiu o suco. Havia taças de cristal. Yaren franziu a testa. Pensava consigo mesmo que era curioso uma taverna servir clientes com taças tão bonitas, dignas apenas da nobreza.

— Esperem aqui um pouco, já volto! — disse Greyhill animado.

O jantar ainda ia demorar, mas a moça retornou trazendo pães, fatias de queijo e algumas frutas numa bandeja. Hégio voltou e foi servindo mais vinho para si e para a Capitã. Não demorou muito para que a bebida começasse a tirar palavras da boca dela. Conversaram, os três, de maneira animada por algum tempo. O jantar foi trazido pelo próprio dono. Era um sujeito barrigudo, meio careca, com bigodes grisalhos, rosto vermelho, mas bastante simpático. Trazia sobre uma travessa de metal uma grande ave assada, bem corada, com batatas e molho de cogumelos.

— O que é isso? Galinhão? Peru? — indagou Yaren.

— Galinha de Griss.

— Hã?

— Nós temos um criadouro lá no quintal. Uma beleza, não é?

Os três começaram a jantar e o dono, senhor Jodo, os acompanhou. Contou muitos casos sobre o Barão Calisto, obtendo total atenção do trio.

— Preciso descer, mas poderia lhe fazer um pedido? — encarou Yaren.

— Sim, claro!

— São umas jovens... Que... Precisam de orientação, se é que me entende. O Hégio me disse que você é muito bom nisto, e todos por aqui já ouviram falar no Monge Yaren de Kamanesh.

— Eu não sou mais monge...

— Sei disso, sei disso, mas ainda assim, poderia falar um pouco com elas?

— Claro, com licença.

Yaren acompanhou Jodo para o andar de baixo deixando Hégio e a Capitã sozinhos. A servente trouxe a terceira jarra de vinho e depois desceu. Lá em baixo, já se formava movimento e músicos haviam chegado preenchendo o ambiente com melodias alegres.

A Capitã balançou a cabeça reprovando o que via. Yaren estava cercado por algumas mulheres e pelo aspecto delas, a Capitã logo soube que não eram jovens precisando de orientação espiritual.

— Você armou para o Yaren! — ela acusou.

Ele fez cara de paisagem. — Eu? Eu não tenho nada com isso. É sério, aquelas moças são sobrinhas do Jodo, ele realmente acredita...

— Papo furado, Greyhill! Uma loira, uma ruiva, uma morena e duas branquelas? Sobrinhas uma ova!

Ele riu e deu com os ombros.

— Bom, foi só o jeito que arrumei para pagar o jantar e o vinho.

— Como assim?

— Apostei com o Jodo que Yaren é casto e que vai resistir às investidas delas. Ele apostou que não. Que eu pagaria o dobro por tudo. Se eu ganhar, pagamos só metade.

— Ora Hégio, francamente... Francamente... Há... Há há... — ela se esforçava para segurar o riso, mas quando ele começou a rir também, caiu na gargalhada. Ambos olhavam o jeito como Yaren recuava às investidas das prostitutas, mas de modo inocente, tentava convencê-las de ir para o bom caminho.

Hégio pegou a mão da Capitã. Ela parou de rir na hora. Seu coração pulou. Ele a olhou fixamente e ela reparou em algo bonito que havia em seu olhar. Havia bondade naqueles olhos cinzentos, mas também outras coisas. Malícia? A mão dele era quentinha. Ela queria tirar a mão, mas algo, talvez o vinho, a impediu de fazer isso.

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