Na Oxford Street, saindo de um restaurante, uma família com um menininho pequeno caminhava feliz pela rua, dando risadas e conversando sobre assuntos aleatórios. Sininho foi até eles e parou alguns metros á cima, comigo a sua espreita. Os pais continuaram andando como se não estivéssemos ali ou como se fossemos algo tão corriqueiro que chegasse a ser ignorado. Já a criança parou de andar e ficou nos encarando. O garotinho puxou a mão da mãe fazendo ela parar e apontou com o dedo para nós.
-Mãe tem uma menina voando.- ele disse sem desviar os olhos de mim. A mão e o pai se voltaram para ele e depois para onde o dedo apontava e eu sentia que olhavam na minha alma, além de mim. A mulher se voltou para o menino colocando uma mão na cabeça dele e disse:
-Não tem não Jake. Você deve estar imaginando coisas.- a mãe disse voltando a caminhar e a puxar o garoto pela mão.
-Mas mãe...- ele replicou resistindo ao puxão. O pai então por sua vez se virou para ele e disse:
-Jake você já tem seis anos, sabe que essas coisas não passam de imaginação.- ele respondeu acariciando a cabeça do menino.
Eles passaram por nós, o menino caminhando aos tropeços. Jake se virou uma única vez e olhou na nossa direção, mas não era o mesmo olhar. Era mais vazio.
-Você tá certa mãe, ela sumiu.- replicou a criança.
Eu estava boquiaberta. Sininho deu de ombros ao meu lado e se virou voltando a voar alto. Fiquei alguns segundos ali e depois a segui. Quando finalmente a alcancei ela disse com um olhar vazio:
-E é assim que vocês humanos se tornam estatísticos. Quando param de acreditar.
...
Chegamos no Big Ben o marco da maravilhosa cidade nublada. Ali em pé coberta pela noite escura, em frente a tela branca do relógio eu senti que estava em um sonho, eu era minha bisavó Wendy e estava em um filme da Disney. Os ponteiros marcavam meia-noite e quarenta e sete.
Olhei travessamente para Sininho que me esperava enquanto pairava no ar entediada. Ela apertava as folhas da sua saia impaciente.
-Vai logo, eu sei que você tá louca pra fazer isso. –ela me dirigiu a palavra sem desviar sua atenção das folhas.
-Okay!- respondi com a voz um pouco mais fina que o normal, um pouco mais histérica. Eu estava muito ansiosa pra fazer aquilo.
Avancei na direção do relógio até ficar milímetros de toca o ponteiro. Pensei e pensei e pensei, que horas eu deveria colocar para bagunçar com a vida do povo de Londres?
Com cuidado ajeitei os ponteiros até que marcassem exatamente meia-noite. Com um olhar confuso Sininho se aproximou de mim se pondo ao meu lado batendo suas asas num ritmo tão rápido e frenético que era impossível acompanhar.
-Meia-noite? Só?-ela disse parecendo decepcionada.- Só atrasou quarenta e sete minutos.
-É que esse é o horário que eu saí e é o horário que eu quero que seja quando eu voltar.- respondi sincera recebendo nada mais nada menos do que uma risada de escárnio. Conhecia Sininho a pouco mais de meia-hora e já não gostava muito do jeito dela.
-Quando voltar? Ninguém volta da Terra do Nunca.- ela respondeu rindo de deboche, foi quando seus olhos pararam para analisar o meu rosto e desceram até chegar ao medalhão. Deve ter percebido a minha cara de interrogação e com um pigarro tratou de se corrigir e mudar de assunto.- Quer dizer, sim, talvez, quem sabe. Bom já deu uma última olhada na sua cidade? Vai ficar sem vê-la por muito tempo.
Estranhei seu último comentário mas preferi não ficar muito encucada. Me virei para a bela Londres, vendo cada prédio, cada pessoa, carro, criatura parecerem apenas formigas. Respirei fundo dando mentalmente um adeus e me voltei para ela:
ESTÁ A LER
Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)
Fantasy#1 em peter pan 25/6/2019 #3 em fantasia 5/01/2020 #3 em aventura 10/5/2018 #7 em romance 22/7/2019 #9 em mistério 28/12/2018 Adaline Darling nunca se sentiu verdadeiramente parte de algo. Talvez fosse a orfandade ou a crianção rígida da vó, quem...
Capítulo 11- A viagem - Revisado
Começar do início