Capítulo 11- A viagem - Revisado

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Na Oxford Street, saindo de um restaurante, uma família com um menininho pequeno caminhava feliz pela rua, dando risadas e conversando sobre assuntos aleatórios. Sininho foi até eles e parou alguns metros á cima, comigo a sua espreita. Os pais continuaram andando como se não estivéssemos ali ou como se fossemos algo tão corriqueiro que chegasse a ser ignorado. Já a criança parou de andar e ficou nos encarando. O garotinho puxou a mão da mãe fazendo ela parar e apontou com o dedo para nós.

-Mãe tem uma menina voando.- ele disse sem desviar os olhos de mim. A mão e o pai se voltaram para ele e depois para onde o dedo apontava e eu sentia que olhavam na minha alma, além de mim. A mulher se voltou para o menino colocando uma mão na cabeça dele e disse:

-Não tem não Jake. Você deve estar imaginando coisas.- a mãe disse voltando a caminhar e a puxar o garoto pela mão.

-Mas mãe...- ele replicou resistindo ao puxão. O pai então por sua vez se virou para ele e disse:

-Jake você já tem seis anos, sabe que essas coisas não passam de imaginação.- ele respondeu acariciando a cabeça do menino.

Eles passaram por nós, o menino caminhando aos tropeços. Jake se virou uma única vez e olhou na nossa direção, mas não era o mesmo olhar. Era mais vazio.

-Você tá certa mãe, ela sumiu.- replicou a criança.

Eu estava boquiaberta. Sininho deu de ombros ao meu lado e se virou voltando a voar alto. Fiquei alguns segundos ali e depois a segui. Quando finalmente a alcancei ela disse com um olhar vazio:

-E é assim que vocês humanos se tornam estatísticos. Quando param de acreditar. 

...

Chegamos no Big Ben o marco da maravilhosa cidade nublada. Ali em pé coberta pela noite escura, em frente a tela branca do relógio eu senti que estava em um sonho, eu era minha bisavó Wendy e estava em um filme da Disney. Os ponteiros marcavam meia-noite e quarenta e sete.

Olhei travessamente para Sininho que me esperava enquanto pairava no ar entediada. Ela apertava as folhas da sua saia impaciente.

-Vai logo, eu sei que você tá louca pra fazer isso. –ela me dirigiu a palavra sem desviar sua atenção das folhas.

-Okay!- respondi com a voz um pouco mais fina que o normal, um pouco mais histérica. Eu estava muito ansiosa pra fazer aquilo.

Avancei na direção do relógio até ficar milímetros de toca o ponteiro. Pensei e pensei e pensei, que horas eu deveria colocar para bagunçar com a vida do povo de Londres?

Com cuidado ajeitei os ponteiros até que marcassem exatamente meia-noite. Com um olhar confuso Sininho se aproximou de mim se pondo ao meu lado batendo suas asas num ritmo tão rápido e frenético que era impossível acompanhar.

-Meia-noite? Só?-ela disse parecendo decepcionada.- Só atrasou quarenta e sete minutos.

-É que esse é o horário que eu saí e é o horário que eu quero que seja quando eu voltar.- respondi sincera recebendo nada mais nada menos do que uma risada de escárnio. Conhecia Sininho a pouco mais de meia-hora e já não gostava muito do jeito dela.

-Quando voltar? Ninguém volta da Terra do Nunca.- ela respondeu rindo de deboche, foi quando seus olhos pararam para analisar o meu rosto e desceram até chegar ao medalhão. Deve ter percebido a minha cara de interrogação e com um pigarro tratou de se corrigir e mudar de assunto.- Quer dizer, sim, talvez, quem sabe. Bom já deu uma última olhada na sua cidade? Vai ficar sem vê-la por muito tempo.

Estranhei seu último comentário mas preferi não ficar muito encucada. Me virei para a bela Londres, vendo cada prédio, cada pessoa, carro, criatura parecerem apenas formigas. Respirei fundo dando mentalmente um adeus e me voltei para ela:

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora