— Sua amiga é bem engraçada.

— Totalmente louca e sem filtro. Desculpe-me – era tudo o que poderia dizer.

— Está tudo bem. Se eu lhe contar por quais situações já passei, você não acreditaria. Agora vamos ver como essa garotinha está.

Confesso que por mais que tenha passado por isso centenas de vezes durante a gestação, era algo desconfortável, ainda mais por meu médico ser tão jovem e lindo. Que Gabriel não descobrisse isso.

— Está tudo bem. Ainda teremos um pouco de tempo. Vou pedir para colocá-la no soro, para induzir as contrações.

— Isso ainda vai demorar um pouco? Gabriel quer assistir o parto.

— Vamos ver se Valentina vai cooperar, ok? Não podemos arriscar a vida das duas.

— Eu entendo.

Minutos depois que Marcos saiu, Ana voltou para o quarto.

— Você quase me matou de vergonha.

— Eu? Você queria que eu ficasse aqui assistindo a cena? Acredite, de onde eu estava, não era a melhor visão. Trouxe água, é tudo que você pode beber – disse me entregando um copo descartável.

— Vá se preparando para quando for sua vez.

— Estou pensando seriamente em adiar isso ao máximo de tempo que eu puder. O que fazemos agora?

— Esperamos.

— Ok, esperar... Acho que dou conta disso. Posso te deixar sozinha por alguns minutos? Preciso avisar ao Beto onde estou.

— Tudo bem. Vou ficar por aqui, sabe, esperando... Esperando...

— Não sei como você consegue ser engraçada nessa hora. Eu já volto.

Os minutos passaram lentamente. Ficar esperando não era meu melhor passatempo. Ana estava fora há quase trinta minutos. Enquanto isso, enfermeiros vieram colocar o soro e medir minha pressão, que estava controlada, só não fazia ideia de como eu estava conseguindo fazer isso.

Marcos deu mais uma passada para ver como eu estava e me tranquilizar, que eu estava indo muito bem. Quando senti a primeira contração, achei que Valentina iria nascer naquele momento. Entrei em desespero, porque eu não queria admitir, mas estava com medo. Gabriel ao meu lado me daria mais segurança.

— Onde inferno você estava? – gritei quando Ana voltou para o quarto.

— Não precisa gritar, porque ainda não fiquei surda. Estava tentando fazer Beto entender que ele não precisava vir, porque é você que vai ter um bebê e não eu. Achei melhor ele vir quando Gabriel chegar. Como estão as coisas aí?

— Alguém deveria ter me avisado como essa merda dói. – falei sentindo mais uma contração se aproximando.

— Não olhe pra mim. Sei sobre muita coisa, mas contrações não estão na minha lista.

— Agora entendo totalmente porque minha mãe não quis me dar um irmão. É uma dor infeliz.

— E só estamos no início da viagem – Marcos entrou na sala novamente.

— Eu preciso de algo para dor, e tem que ser agora – falei segurando a respiração.

— Isso é algo que não vou poder lhe dar, faz parte do trajeto.

— Como assim não vai me dar nada? Falaram-me que era um pouco pior do que cólicas... Isso é a dor da morte.

— Quanto exagero Lia. Onde está a garota forte de meses atrás? – ele perguntou segurando minha mão.

A sua esperaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora