— Quando você não gosta de alguém, não tem como te fazer mudar de ideia.

— Não dá para esquecer que ela gosta de você.

— E eu de você. Deixei isso bem claro.

— Então você vai ter que ser mais claro.

— Estamos a menos de um dia juntos e já estamos tendo uma DR? – Gabriel tentou quebrar o clima que estava se formando.

Acabei sendo vencida por seu sorriso e deixando a discussão para outro momento. Dei a volta no sofá e sentei ao seu lado.

— O que tanto vocês conversavam na cozinha?

— Assunto de mulher – falei enquanto tentava achar uma posição para sentar antes que Valentina começasse com seu cronograma de chutes.
Gabriel colocou sua mão sobre minha barriga e ficou acariciando.

— Estamos caminhando para o sétimo mês.

— Sim, estamos. Como o tempo passou rápido, parece que foi ontem que descobri que estava grávida.

— Está com medo?

— Eu não diria medo, apenas ansiosa... Quero ver seu rostinho, saber se tem algo meu nela, os olhos talvez... – falei colocando minha mão sobre a sua.

— Tenho certeza de que vai vir igual a você.

Gabriel me beijou e depois passou o braço pelos meus ombros, me puxando para um abraço.

— Estou feliz que estamos juntos – ele sussurrou ao meu ouvido.

— Eu também.

Ana tinha razão. Um raio não poderia cair no mesmo lugar duas vezes. Tentar fazer comparações entre Gabriel e Eduardo não seria justo para nenhum dos dois. Em poucos meses, Gabriel tinha demonstrado que não era mais nenhum adolescente.

Mesmo com a pouca idade, ele já sabia o queria e corria atrás. Ele poderia muito bem ter me dado apenas uma ajuda financeira e seguido com sua vida, mas ao contrário disso, me levou para sua casa, me inseriu no seu cotidiano e tem cuidando de mim melhor do que meus pais. Eu era parte da sua vida, assim como ele agora era parte da minha.

— Está tudo bem?

— Sim, porque a pergunta?

— Estou aqui sugerindo uma volta na praia e você nem está me dando bola.

— Me desculpe, acabei me perdendo em meus pensamentos.

— Alguma coisa que eu deva saber?

— São apenas pensamentos fugitivos.

— O que seria pensamentos fugitivos?

— Eu não saberia te explicar nesse momento.

— Então quando você descobrir como, voltaremos a esse assunto.

— Ei, o casal aí... Podem vir para a mesa, por favor? O almoço já está pronto – Ana gritou da cozinha.

— Graças a Deus. Achei que esse almoço só iria sair no Natal – falei enquanto Gabriel me ajudava a me levantar, não que eu não pudesse fazer isso sozinha.

Quando voltamos para casa, no final da tarde, eu estava exausta. Então Gabriel achou melhor deixar nossa caminhada na praia para outro dia. Tomei um banho enquanto Gabriel respondia alguns emails urgentes que havia recebido.

— A onde a senhorita pensa que está indo?

— Para o meu quarto dormir?... – falei sem entender sua pergunta.

— O seu quarto agora será o meu.

— Mas...

— Sem mais. Acha mesmo que vou dormir sozinho se tenho você para me aquecer?

— Nós não vamos... – parei a frase no meio do caminho, imaginando o que ele queria dizer com "tenho você para me aquecer"

— Ei, seja lá o que imaginou, a resposta é não. Eu só quero dormir abraçado com você.

— Eu não falei nada...

— Seu rosto vermelho te denunciou, sua mente pervertida – disse rindo.

— Não tenho mente pervertida, eu apenas entendi mal o que você falou, é diferente.

— Vamos com calma, tudo no seu tempo, sem cobrança, lembra?

Balancei a cabeça concordando.

— Jamais a forçarei fazer algo que não queira. Agora, dê meia volta e vá para o nosso quarto. Eu vou só terminar de responder isso aqui e vou te fazer companhia.

— Vou ganhar outra massagem?

— O que você quiser.

— Isso inclui sorvete? – eu sabia que ele iria dizer não, mas gostava da carranca que se formava em seu rosto.

— Sem sorvete.

— Não posso dizer que tentei.

— Não vamos levar outra bronca do seu médico porque você não consegue se controlar.

— Mas não sou eu, é a Valentina.

— Já parou para pensar que tudo é a Valentina? Coitada da minha garotinha, vai nascer traumatizada.

— Sua garota?

— Claro, minha garotinha. Posso não ter tido participação em sua concepção, mas quem é que fez aulas de como cuidar de um bebê? E deixando bem claro aqui, eu fui bem melhor. Você afogou o seu bebê.

— Se você contar isso para Valentina, eu te afogo na banheira.

— Que banheira?

— A que vamos comprar amanhã e colocar no seu banheiro.

— Você quis dizer nosso banheiro?

— Seu banheiro, nosso banheiro, não importa. Vamos comprar uma.

— Porque isso agora?

— Porque estou grávida. Ponto final.

— Já vi grávida com desejos estranhos, mas desejar comprar uma banheira, é a primeira vez.

— Cada um tem a grávida que merece.

— Então sou o mais sortudo de todos.

Ganhei uma massagem completa e eu precisava admitir, Gabriel era muito bom nisso. Eu precisava encontrar um defeito nele, nem que fosse um dedão do pé torno, apenas para desmistificar e torná-lo um pouco mais humano, mas eu estava falhando em minha busca. Era como se ele conseguisse captar todos os meus desejos.

Depois da maravilhosa massa que recebi, o que ajudou muito com minha dores, deitei minha cabeça em seu colo.

— Eu não quero jamais te machucar novamente.

— Você nunca me machucou, pelo menos não intencional – disse acariciando meus cabelos.

— Eu sei, mas me sinto culpada de qualquer forma.

— Não se sinta. Estamos juntos agora. Isso é tudo o que importa.

Eu sabia que não merecia esse amor incondicional que ele tinha por mim. Gabriel já tinha sido magoado demais, era minha missão cuidar para ele soubesse que sua espera havia valido a pena. Fechei meus olhos e esperei o sono me alcançar, certa de que no dia seguinte, ele ainda estaria comigo.


A sua esperaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora