4 - Feverish

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Não considerava minha vida monótona. Daquele tipo que costuma ser a lista clichê de coisas que as pessoas querem fazer antes de morrer, eu já havia feito muito. Já pulara de paraquedas, escalara uma montanha – e não importava o que Stark dizia sobre alturas mínimas e outras tecnicidades, aquele maldito morroque eu tinha me esgotado para chegar ao topo definitivamente era uma montanha –, desci esquiando por quilômetros de neve, já tinha andado de camelo em um deserto e comido sobremesas que levavam sua nacionalidade no nome.

O Brownie Belga definitivamente era muito melhor em Luxemburgo.

Também tinha feito coisas que certas pessoas só podiam sonhar, como dividir uma garrafa da verdadeira vodka russa com a Viúva Negra, ou conversar com Thor sobre se ele, como Deus do trovão que era, podia fazer o som chegar primeiro do que a luz.

O que eu não havia feito antes, todavia, era me aconchegar com um veterano herói de guerra e ex-assassino profissional. Ou me aconchegar, em geral. Talvez por isso não seja a maior especialista na etiqueta apropriada do dia seguinte para esse tipo de situação, mas tinha bastante certeza de que ela não envolvia ignorar a outra pessoa.

A hipocrisia em minha reação era quase palpável, afinal nunca fui de ligar no dia seguinte, porém não conseguia deixar de me sentir ferida quando Barnes passou por mim no corredor com pouco mais de um aceno de cabeça. Como se não nos conhecêssemos, como se não tivéssemos dividido um sofá na noite anterior.

Por óbvio, meu orgulho, que era quase do tamanho da arrogância de Stark, não me deixou fazer nada a respeito. Se Barnes não queria falar comigo, tudo bem. Era grandinha demais para correr atrás de quem visivelmente tentava me evitar.

E vida que segue. Tudo estava bem. Até que, de repente, não estava.

A forma velada de desrespeito, eu podia aguentar. Fazia parte da vida adulta aprender a lidar com pessoas que simplesmente fingiam que você não existia. O que não era aceitável, contudo, era a humilhação de várias pessoas saberem que você é o motivo de outra pessoa ter deixado um cômodo.

Então, é... minha paciência definitivamente evaporou uma semana depois, quando fui me sentar para uma das exclusivas sessões de cinema que Tony tanto gostava de organizar, e Bucky Barnes se levantou do lugar e marchou para fora, com a mesma graça de quem tinha mil cães dos infernos lhe perseguindo. Minhas bochechas queimaram em uma mistura de raiva e humilhação. Cuspindo fogo, passei meu objetivo anterior – o lugar no sofá ao lado de Mia – e segui pelo caminho que ele tinha tomado.

Por óbvio, minhas aulas de pilates não foram páreo para sua velocidade de super soldado e, ao virar um corredor, já tinha perdido suas costas largas de vista.

Filho da mãe – resmunguei, olhando para os lados e, me rendendo ao inevitável, arrastei meus pés cobertos por sapatilhas até a cozinha.

Decidi que ao menos podia tomar um chocolate quente, uma vez que tinha perdido toda a vontade de assistir ao filme. Estava acrescentado os marshmallows e sentindo pena de mim mesma quando Barnes apareceu no portal, e por ali mesmo parou.

Sentindo-me pequenininha, decidi que a melhor defesa era o ataque.

– Não precisa se preocupar – mantive minha atenção na colher que girava ao resmungar. – Já estou de saída.

Pude sentir seu olhar em mim, pesado como vários sacos de cimento.

Eu não preciso me preocupar?

Depois de vários dias de tratamento de silêncio, contudo, não esperava uma pergunta tão sinceramente desentendida. Franzindo o cenho, levantei a cabeça para encontrar seu bonito rosto em uma careta de confusão.

Burning IceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora