— Gabriel, olha bem para o meu corpo, continua o mesmo, minha barriga insiste em não aparecer... Acha mesmo que vou engordar?

Lia apertou a camisa para mostrar que sua barriga continuava a mesma.

— Se vai engordar ou não, a questão é que só vai tomar o iogurte e pronto.

Andei até a geladeira que agora vivia cheia de tudo o que Lia precisava e tirei um potinho, peguei uma colher e coloquei em suas mãos.

— Agora coma se reclamar.

— Você fala da Ana, mas age como ela. Qual a graça de ficar grávida e não poder comer tudo o que der vontade?

Lia me deu as costas e foi para a sala. Jogou-se no sofá e ligou a TV, colocando em um canal de desenho animado e aumentando o volume no máximo, tudo para me irritar, porque ela sabia que eu não suportava ver desenho.

Sorri ao ver como ela se comportava como uma criança quando era contrariada.

— Que tal irmos à praia? – perguntei quando sentei ao seu lado com minha xícara de café.

— Não estou afim. Vou passar o dia aqui.

— Vendo desenho animado? – não pude segurar um sorriso ao ver que ainda estava zangada.

— Vendo desenho, lendo... Sei lá...

— Você está mais branca do que papel, precisa pegar uma cor e sem falar que pode fazer bem para o bebê.

— O bebê é meu e eu sei o que é bom ou não para ele.

— É sério que vai ficar com essa tromba o dia inteiro?

— Vou ficar até você comprar meus biscoitos – disse voltando o olhar para o desenho.

— Ok, você é quem sabe. Eu vou nadar um pouco e aproveitar o sol lindo que está lá fora.

Levantei-me e fui para o quarto. Coloquei uma sunga azul marinho e depois voltei para a sala.

— Se mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

Lia não olhou e nem falou nada. Eu já estava acostumado, acho até que sentiria falta das birras dela quando o bebê nascesse.

A praia ficava a poucos metros de casa e dava para ir andando. Como era dentro do condomínio, ela era meio que privada e dava para aproveitar sem aquele tumulto todo. Segui pela trilha e após quinze minutos, eu estava entrando no mar.

Não havia muitas ondas, então eu apenas fiquei aproveitando a tranquilidade. Não demorou muito e eu vi Lia se aproximando, trazendo uma canga e colocando na areia. Tirou sua saída de banho deixando seu biquíni rosa a mostra. Dei o último mergulho e depois fui me juntar a ela.

— Achei que iria ficar vendo desenho.

— Mudei de ideia. Lá dentro estava muito quente...

Era só ligar o ar-condicionado, pensei em falar. Mas estava feliz por ela ter vindo, então aceitei sua resposta.

— Não quer entrar? A água está maravilhosa.

— Daqui a pouco.

— Ok. Vou te fazer companhia, então.

Sem esperar sua resposta, sentei ao seu lado, encostando meu corpo molhado no seu ombro.

— Já marcou a ultra? – perguntei puxando assunto.

— Sim. Quarta-feira.

— Ana vai com você?

— Acho que sim. Ela tem uma prova importante, não sei se vai conseguir ir.

— Posso ir no lugar dela, se quiser – dei a deixa.

— Você tem que ir trabalhar...

— Acho que posso chegar um pouco mais tarde, afinal estou louco para saber se vou ter um sobrinho ou uma sobrinha.

— Vou ver direito com Ana. Te aviso se não der para ela ir.

Eu iria torcer muito para Ana não conseguisse sair da prova a tempo.

Nos divertimos como duas crianças nas duas horas que ficamos no mar. Quando voltamos, Lia estava faminta e com uma pele rosada por conta do sol. Enquanto ela tomava banho para tirar o sal do corpo, preparei o nosso almoço. Fiz uma omelete, que descobri que Lia amava tanto quanto chocolate.

Também tomei um banho e voltei para a cozinha para almoçarmos juntos. Ela repetiu duas vezes justificando que o bebê ainda estava com fome.

— Lia, eu queria saber se posso falar para os meus avós que você está grávida – perguntei enquanto lavava a louça e ela secava.

— Achei que você já tivesse contado a novidade.

— Estava esperando você mencionar alguma coisa.

— Eu não tenho motivos para esconder minha gravidez. Acha que eles vão gostar?

— E porque não gostariam? É o primeiro bisneto que vão ter.

Lia sorriu com o meu comentário.

— Poderíamos ir amanhã.

— Amanhã? Uma viagem assim sem planejar? Preciso ver preço de passagem...

— Eu cuido disso. Reservo nosso vôo para amanhã cedo, assim chegamos a tempo do almoço e fazemos uma surpresa.

— Você sabe que passagem comprada em cima da hora não custa barato.

— Deixe isso por minha conta. Preocupe-se apenas em colocar uma muda de roupa na bolsa.

— Ok, depois vou ter que te reembolsar...

— Nem vem, enquanto estiver comigo não precisa se preocupar com isso.

— Devo ser uma garota de muita sorte por ter um amigo com dinheiro e que não se preocupa com o valor que vai gastar.

— Quando coisas como essas colocar um sorriso em seus lábios, nunca vou me apegar a detalhes.

— Tenha cuidado quando esses "detalhes" começar a doer no seu bolso.

— Vai valer apena.

Lia não sabia, mas por ela eu faria qualquer coisa, desde que eu pudesse ter sempre o seu sorriso comigo.


A sua esperaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora