A Cinderela é Você

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 Quando aqueles homens a tocaram, destruíram-na com gestos e palavras, tentaram machuca-la de todas as formas, não havia machucado tanto quanto saber que ele havia mandado. Por que ele faria aquilo com ela? Machucava, ele sabia que machucava? O quanto doía? Cortava profundamente o coração e alma, o quanto ela havia chorado? Chorado como um bebê, chorado como a criancinha que era. Ele sabia? Será que ele sabia sobre o amor dela? Céus, ela choraria até perder a voz se perguntando até que ponto ele sabia.

— O importante é que fizemos o que o príncipe mandou. — Ouviu a madrasta má dizer quando achavam que ela estava desacordada.

Com o passar do tempo havia aprendido a fingir que estava dormindo para se poupar de toda ou qualquer humilhação. Estava tão suja e humilhada que não gostaria de se vista nem mesmo pela garota que todos os dias a levava comida. Escondia o rosto e ficava encolhida em um canto até que ela fosse embora, odiava aquela garota.

— Se não comer vai morrer, por favor, alteza, coma. — A garota dizia todos os dias.

A criada insistia em usar os títulos como zombaria, escondendo-se por trás de uma máscara de gentileza, mas sabia como a garotinha era de verdade e não seria manipulada por aquelas mentiras. Sabia que uma hora aquela criada ria dela, como um dia ela riu da criada, sabia que em algum lugar todos os criados riam dela, como as pessoas cruéis que eles eram.

Deitou-se no chão, antes todos os dias lutava. Agora não fazia mais diferença, tudo o que tinha caiu com ela. Por isso cansou-se de lutar, lutar contra aquilo, lutar contra tudo e todos. O seu corpo não aguentaria muito tempo, mas agora estava morta, então o seu corpo pouco importava, poderiam fazer o que quisessem com ele. Machucaram tanto a sua alma, se ao menos soubessem que foram capazes de mata-la antes do esperado fariam aquilo de novo?

A primeira vez em que se viram, os olhares se cruzaram e tudo correu como se fosse mágica, desde o primeiro momento sabia que estava apaixonada por ele, desde o primeiro momento amava-o incondicionalmente. Seus olhares se cruzaram por um instante, tão rápido que pareceu durar uma eternidade, é belo o fato de que quando o amor surge tudo se transforma. Segundos se transformam em uma eternidade e uma eternidade se transforma em segundos e o mundo se transforma em mais belo, tudo parece perfeito.

Desde o primeiro momento soube que precisava encontrar aqueles olhos mais uma vez, nem que por um instante, não importava desde que pudesse vê-los novamente. Ele era o príncipe, ela era ninguém e se seu amor não fosse correspondido jamais deixaria de ama-lo, foi uma promessa que fez a si mesma, tudo o que queria era ver aqueles lindos olhos novamente, para que nunca mais pudesse tira-los de sua mente.

Jamais imaginou que aquela bondosa senhora passaria de fada a bruxa. Foi ela quem lhe deu o vestido, assim como os sapatinhos, ambos eram simples, jamais seriam tão chamativos quanto os da rica senhoras, mas como já mencionado o amor transforma as coisas e o amor com qual aquela senhora havia feito as coisas, fizeram que aos olhos dela o vestido fosse de seda, os sapatinhos de cristal.

Foi o baile a melhor chance de encontrar aqueles olhos novamente, tinha até meia-noite e os buscava desesperadamente, entretanto foram os olhos dele que encontraram os seus e quando os lábios se uniram aquela sensação quente tomou conta de si. Aquela sensação era como uma enorme chama sendo acesa dentro dela e foi nesse beijo fogo onde acabou descobrindo que somente ao lado dele poderia ser feliz, estando ao lado dele de nada mais precisaria.

As ordens eram claras, precisava devolver as coisas para a senhora durante a meia-noite ou a senhora que a ajudou perderia seu emprego, mas não fez isso, não quis deixar de lado o seu amor. Foi dessa forma que percebeu o motivo daquilo tudo ocorrer, talvez a senhora tivesse perdido o emprego, dito ao príncipe que viu a coisa horrível feita por ela e ordenou que ela pagasse.

Se sua história estivesse correta, não havia necessidade de ser tão cruel, não precisava mandar com que eles a machucassem, poderiam ter resolvido. Ele não precisava ter feito nada daquilo. Não sabia de quem era a culpa. Mas sua culpa, minha culpa, culpa dele ou dela, que diferença fazia agora que as coisas estavam feitas? Que diferença fazia agora que as doces lembranças que a faziam lutar havia sido destruídas com poucas palavras? Pouco, eram números muito pequenos.

— Olá, doce coração. — Um homem disse enquanto abria a porta.

Os homens que a machucavam vinham todas as noites e ela não gastava seu tempo com outra coisa além de sobreviver, por isso jamais olhou na face deles, somente se contorcia o máximo que podia, lutando e tentando escapar, dessa vez tudo o que fez enquanto ele a tocava, feria, cortava e machucava foi ficar parada.

— Olha que garota má, aprendeu a gostar? — Foi a coisa menos cruel que ele comentou.

Eram homens muito malvados, ela não entedia por que gostavam de fazer aquilo, por que gostavam de machuca-la daquela forma? Deveria ter feito alguma coisa muito malvada para eles tratarem ela desse jeito, algo muito pior que aquilo, não havia outro motivo e se tinha feito eles se sentirem do jeito que ela se sentia agora gostaria de se desculpar, sentia muito, se pudesse desejaria que ninguém nunca se sentisse assim.

Um de seus sapatos escorregou de seu pé, não se importou até perceber quem havia pegado ele, estava lá, em pé, com um sorriso no rosto que era tão poderoso que foi capaz de enfiar milhões de facas dentro de seu coração, por isso não olhou de novo, olhou somente naqueles lindos olhos que a acalmavam, mesmo depois de tudo.

— Por quê? — Perguntou. Sabia que não tinha muito tempo, então precisava perguntar.

— Por quê? Porque eu quis, porque eu gosto, — ele respondeu. Cada palavra era cruel, fria como gelo, afiada como lâminas — porque eu não aceitaria um insulto como esse. Uma plebeia em meu baile que ousou me dirigir a palavra? Que ousou se apaixonar por mim? Somente o fato de sua existência já me enoja. Você não é mais do que uma puta, como sua mãe, sua avó e as que antes delas vieram. Achou mesmo que eu lhe amaria? Eu te usei como exemplo, para que meu povo visse o que aconteceria com quem me insultasse. Mas como sou um homem bom, darei um fim ao seu sofrimento, o sofrimento de viver sabendo que me insultou. Também deixo que peça por perdão, mas não posso garantir que a perdoarei.

Pensou no que ele havia dito. Aqueles homens conseguiram machucar o seu corpo de diversas maneiras, porém nada que haviam feito poderiam machucar mais do que as palavras do príncipe naquele momento. No entanto ela não seria a mesma garotinha agora, não era capaz de saber o que ele sentia e ele nunca lhe disse e se insulta-lo havia lhe causado tanta dor e vergonha quanto aquilo tudo a causou devia um pedido de desculpas.

— Desculpe-me, meu príncipe. — Começou a dizer — Eu jamais imaginei que faria algo tão ruim ao senhor, somente gostaria de ser agraciada com a beleza de seus olhos novamente. Por isso peço perdão ao senhor. Desculpe-me, meu príncipe. Faça o que for de seu agrado e direi que mereço.

O príncipe a machucou novamente com o seu belo sorriso, porém fez com que parte da dor passasse quando beijou sua bochecha e com delicadeza colocou o sapatinho em seu pé.

— Eu te amo, sempre vou amar. — Disse.

Amava-o e não importa quantas vezes fosse cruel ou a ferisse continuaria amando, sabia disso desde a primeira vez que o viu, quando os seus olhos se encontraram, não poderia evitar esse fato, amava-o incondicionalmente, com todo o seu corpo e alma, não importava o que acontecesse, amava-o e ninguém seria capaz de impedir isso.

— Eu também te amo, minha linda princesa. — Ele respondeu e foram essas as ultimas palavras que ouviu antes de fechar os olhos para sempre, não se importava com sua morte, tendo aquelas palavras poderia descansar em paz durante a eternidade, não importava o que viesse agora.

Lembrou-sede sua mãe, havia deixado-a de lado para ficar com ele, não se incomodava, masagora se lembrava dela e de uma antiga história que contava antes da hora de irdormir. Falava sobre uma princesa, uma madrasta má, uma senhora que a ajudava,sapatinhos de cristais e um príncipe. Lembrou-se do que a mãe dizia antes deela dormir: "A Cinderela é você". Curiosamente foi da mãe que se lembrou aomorrer e não de seu amado ou de suas palavras, lembrou-se de uma princesa,lembrou-se de seu conto de fadas e seu desencantos. E

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⏰ Última atualização: Feb 01, 2017 ⏰

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