Eu voltei a passos pesados para perto do taxi. Seu Getúlio estava apoiado no capô do carro, comendo com gosto um cachorro quente que parecia estar muito bom. Percebeu a minha chegada e se sobressaltou. Deixou cair sobre a camisa uma pelotinha que tinha mostarda, maionese e batata palha misturadas. Coitado!- Não precisa ter pressa, Seu Getúlio!
- A menina já vai? Eu termino no carro mesmo. Você quer um pedaço?
- Hum... esse aí parece estar muito bom! Pode comer sossegado. Eu vou ali comprar um para mim.
Fui à barraquinha e pedi um hot dog com tudo o que eu tinha direito. O cheiro estava realmente convidativo. E o sanduíche estava delicioso, de fato.
Aproximei-me de Seu Getúlio e acenei com a cabeça, impedindo o seu movimento de voltar para o volante: encontrei um lugar para mim no capô, bem do seu lado. Ainda bem que ele tinha escolhido uma árvore como ponto de sombra no estacionamento do parque.
- Hum... que delícia de hot dog!
Eu comi fazendo uns barulhos de satisfação tão estranhos, que Seu Getúlio até interrompeu a briga que estava travando com a mancha de molho em sua camisa antes branquinha... E riu, reparando no meu apetite voraz. Eu falei de boca quase cheia:
- Isso é muito bom, Seu Getúlio! Eu não resisti ao cheiro deste molho de tomate com legumes picadinhos, subindo pelo ar. A fumaça foi me buscar, igual aos desenhos do Pica-pau... Lá fora, cachorro quente é pão, salsicha e mostarda... Aqui, vem de tudo! Ketchup, maionese, tomate, cebola, pimentão, batata palha, ovo de codorna, azeitona, milho, ervilha, passas... Hum... E este cheirinho no ar!? Hum...
Ele riu mais uma vez.
- A menina estava fora há muito tempo?
- Dois anos. Mas eu não vinha aqui, a este Jardim Zoológico, desde os dez anos de idade...
Olhei de volta para os portões do parque e revi a imagem da ambulância partindo, com luzes e sirenes ligadas, levando o corpo desfalecido do Dimitri. Revi meus gritos de desespero e senti novamente os braços fortes da coordenadora me segurando; entregando-me para uma professora, que tratou de juntar a turma e tapar os meus olhos para que eu não visse o menino ser removido para dentro do automóvel imenso.
Senti um bolo na garganta e não consegui continuar com o sanduíche, que eu tinha comprado com tanta empolgação.
Suspirei pesado.
- A menina parece triste... logo num lugar onde tanta gente sempre parece estar tão feliz...
Enchi o peito de ar. Coloquei o hot dog sobre o capô. Ainda hesitei um pouco, antes de deixar uma explicação escapar...
- Quando eu era bem pequena... eu estava aqui num passeio de escola... O meu melhor amigo e eu tivemos um desentendimento. Coisa de criança, sabe? Depois, no mesmo dia, eu tentei fazer as pazes. Mas meus planos foram interrompidos... Uns garotos encrenqueiros se meteram...
ESTÁ A LER
Aqueles Postais
Teen FictionStephanie volta para casa depois de dois anos de fuga. Fuga do medo que sentiu quando descobriu que amava o amiguinho de infância; fuga da insegurança que sentiu quando se supôs traída; fuga dos sentimentos que eram maiores e mais fortes do que ela...