Capítulo 5 - Como as pirâmides

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Eu voltei a passos pesados para perto do taxi

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Eu voltei a passos pesados para perto do taxi. Seu Getúlio estava apoiado no capô do carro, comendo com gosto um cachorro quente que parecia estar muito bom. Percebeu a minha chegada e se sobressaltou. Deixou cair sobre a camisa uma pelotinha que tinha mostarda, maionese e batata palha misturadas. Coitado!

- Não precisa ter pressa, Seu Getúlio!

- A menina já vai? Eu termino no carro mesmo. Você quer um pedaço?

- Hum... esse aí parece estar muito bom! Pode comer sossegado. Eu vou ali comprar um para mim.

Fui à barraquinha e pedi um hot dog com tudo o que eu tinha direito. O cheiro estava realmente convidativo. E o sanduíche estava delicioso, de fato.

Aproximei-me de Seu Getúlio e acenei com a cabeça, impedindo o seu movimento de voltar para o volante: encontrei um lugar para mim no capô, bem do seu lado. Ainda bem que ele tinha escolhido uma árvore como ponto de sombra no estacionamento do parque.

- Hum... que delícia de hot dog!

Eu comi fazendo uns barulhos de satisfação tão estranhos, que Seu Getúlio até interrompeu a briga que estava travando com a mancha de molho em sua camisa antes branquinha... E riu, reparando no meu apetite voraz. Eu falei de boca quase cheia:

- Isso é muito bom, Seu Getúlio! Eu não resisti ao cheiro deste molho de tomate com legumes picadinhos, subindo pelo ar. A fumaça foi me buscar, igual aos desenhos do Pica-pau... Lá fora, cachorro quente é pão, salsicha e mostarda... Aqui, vem de tudo! Ketchup, maionese, tomate, cebola, pimentão, batata palha, ovo de codorna, azeitona, milho, ervilha, passas... Hum... E este cheirinho no ar!? Hum...

Ele riu mais uma vez.

- A menina estava fora há muito tempo?

- Dois anos. Mas eu não vinha aqui, a este Jardim Zoológico, desde os dez anos de idade...

Olhei de volta para os portões do parque e revi a imagem da ambulância partindo, com luzes e sirenes ligadas, levando o corpo desfalecido do Dimitri. Revi meus gritos de desespero e senti novamente os braços fortes da coordenadora me segurando; entregando-me para uma professora, que tratou de juntar a turma e tapar os meus olhos para que eu não visse o menino ser removido para dentro do automóvel imenso.

Senti um bolo na garganta e não consegui continuar com o sanduíche, que eu tinha comprado com tanta empolgação.

Suspirei pesado.

- A menina parece triste... logo num lugar onde tanta gente sempre parece estar tão feliz...

Enchi o peito de ar. Coloquei o hot dog sobre o capô. Ainda hesitei um pouco, antes de deixar uma explicação escapar...

- Quando eu era bem pequena... eu estava aqui num passeio de escola... O meu melhor amigo e eu tivemos um desentendimento. Coisa de criança, sabe? Depois, no mesmo dia, eu tentei fazer as pazes. Mas meus planos foram interrompidos... Uns garotos encrenqueiros se meteram...

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