Extra 19

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Olho pelo espelho do carro e vejo o João sentado na sua cadeira a olhar pelo vidro. Gostava de conseguir perceber pelas suas feições faciais no que ele pensa, mas não sou capaz. O meu filho transformou-se numa incógnita para mim e isso é horrível, sempre fomos tão íntimos e ele agora camuflou-se.
Já deixei o Noah no infantário, agora é hora de levar o João à escola e falar com a sua professora. Ele não voltou a tocar nesse assunto, mas também não parece muito importado por a senhora McVey me chamar.
Estacionei o carro e logo ele se aprontou para sair, peguei na sua mochila que estava no banco do pendura ao meu lado e ajudei-o a mete-la às costas.
- Mãe, posso ir ter com os meus amigos? – Ele inclinou a usa cabeça para cima, encarando os meus olhos.
- Claro, filhote. – Sorri. – A mãe quando sair da reunião com a tua professora vai ter contigo, está bem? – Agachei-me para ficar da sua altura.
- Está bem, mamã. – Ele ofereceu-me um pequeno sorriso e envolveu os seus braços no meu pescoço mas não me deu tempo de o abraçar de volta e fugiu a correr pro pé das outras crianças.
Acabei por sorrir ao vê-lo a conversar com os seus amiguinhos. Este pequeno ser e o seu irmão são o brilho dos meus olhos. Sou apaixonada pelos meus dois filhos.
Tomei caminho até à sala de aula do João e encontrei lá a sua professora.
- Bom dia. Posso? – Pedi licença para entrar na sala vendo aquela mulher com pouco mais idade que eu a levantar-se da sua secretaria.
- Bom dia, entre. É a mãe do João Horan, certo? - Ela recebeu-me com um sorriso.
- Sim, sou. – Ofereci-lhe também um sorriso e ela estendeu a mão para me cumprimentar.
- Ainda bem que veio. – Falou enquanto a cumprimentava.
Ela convidou-me a sentar e assim fiz, ficando de frente para ela.
- Fiquei preocupada, passa-se alguma coisa com o meu filho? – Fui direta ao assunto.
Já matei demasiado a minha cabeça com o que poderia ter acontecido com o João, quero respostas. O meu coração está tão pequenino.
- Eu temo que sim. – Ela falou e eu lancei-lhe uma expressão confusa. – Desculpe pela indiscrição, mas está tudo bem em casa? No ceio familiar?
Eu fiquei a olhar para ela sem reação, mas talvez eu já tenha entendido onde ela quer chegar.
- Não lhe vou mentir, eu e o meu marido não estamos a passar a melhor face das nossas vidas quanto casal. Tenho feito de tudo para as crianças não saírem afetadas disto, mas temo que seja impossível conseguir isso. Por muito que eu queira.
- Mas infelizmente talvez seja isso mesmo. O João sempre foi uma criança divertida, carismática, doce, comunicativa, inteligente e sempre pronta a aprender e agora parece que a sua luz está apagada, entende?
- Sim. – A minha voz saiu baixa e uma dor começou a tomar conta do meu peito.
- Ele não mostra muito interesse nas aulas, mas também não mostra interesse em ir pro recreio. Anda sempre calado, acaba por passar os dias a desenhar no caderno em silêncio e anda quase sempre sozinho. Não se aproxima dos amigos e também não permite que se aproximem dele. Acho que ele está triste, talvez deprimido… Por isso a chamei aqui, eu já tentei falar com ele mas ele não se abre. Talvez consiga entender como o ajudar.
- E-eu não sei bem o que fazer. – Tentei segurar as lagrimas pressas na minha garganta – Tudo o que eu menos queria era que os meus filhos sofressem com isto tudo.
- Pois eu acredito nisso, nenhuma mãe quer. Mas as crianças são inteligentes, apercebem-se de tudo. Eu tento ajudar à minha maneira mas eu acho que ele precisa mesmo é de carinho e amor, o vosso amor.
- Irei fazer o meu melhor. Obrigada por esta conversa, irei ajudar o meu filhote. – Fiz um leve sorriso.
Sorrir para não chorar.
Saber que o João está a ser envolvido no caos que eu e o Niall estamos a criar, mata-me. Eu até posso sofrer e engolir muitos sapos mas o meu filho não! Recuso-me a vê-lo perder o seu sorriso e a sua alegria!
Tenho mesmo de conversar com o Niall, temos de chegar a um consenso, pelo nosso filho.
Ainda falei mais uns minutos com a professora do João mas logo eram horas das aulas começarem.
Chamei pelo João antes de ele entrar para a sala.
- Já vais, mamã? – Ele perguntou sentando-me ao meu lado no banco do corredor.
- Já filhote, mas a mãe hoje vem-te buscar à hora de almoço, está bem? – Falei enquanto penteava a sua frança para o lado com as minhas mãos.
- E as atividades da tarde, mamã? – Ele parecia confuso.
- Hoje não vais, sim? Já falei com a professora e está tudo bem. – Descansei-o.
- Hum… está bem. Mas porquê? – Sempre tão curioso o meu pequeno.
Sorri como fato de ele fazer sempre tantas perguntas.
- Hoje vamos almoçar só os dois. Vamos onde quiseres, boa? – O meu coração acelerou ao ver os seus olhos a começarem a brilhar.
- Mesmo, mãe? E posso comer gelado? – Ele sorriu entusiasmado.
- Podes, sim amor. – Ri. – Pensa onde queres ir e depois quando te vier buscar dizes-me. Combinado? – Estiquei a minha mão ao nível do meu pescoço.
- Combinado, mamã. – Ele assentiu com um sorriso e a sua mão bateu contra a minha, selando assim o nosso acordo.
Despedi-me dele com um beijo naquelas bochechas gordas e ele caminhou devagar até à sua sala, olhando para mim antes de entrar.
Meu deus, a minha vida está um caos.
Entrei no carro e fiquei alguns minutos a olhar para o volante, a minha mente estava aos berros e o meu corpo congelado. O que estou a fazer à minha vida?
Eu era uma mulher feliz, era mesmo. Eu e o Niall sempre tivemos os nossos desentendimentos mas ele sempre foi o homem da minha vida e sempre me fez muito feliz. Ele também sempre foi um bom pai e sei que é capaz de fazer de tudo pelos nossos filhos.
Porquê que do dia para a noite as coisas deixaram de resultar? Como deixamos de nos comunicar e de deixar sentimentos tão maus nos consumirem?
Pergunto-me se o problema está na insistência. Haverá a possibilidade de que, o fato de estarmos sempre a tentar resultar, nos leve a este desfecho? E se tivermos simplesmente medo de estar sozinhos e não vê-mos que o que havia de bom acabou?
O que é bom sempre acaba. Quando nos metemos no início de algo, temos sempre noção que haverá um fim. É simples, tudo que começa acaba.
Hoje não fui trabalhar. O Jack disse para não me preocupar com a galeria que ele assumia a responsabilidade, também a galeria não tem muito por onde sobreviver. Mais dia, menos dia vamos fechar.
Quando chegou a hora de almoço, fui até à escola do João e logo o vi a correr para o carro entrando para os bancos de trás.
- Mete o sinto, amor. – Pedi-lhe e ele assentiu com um leve sorriso nos lábios. – Então filho, já decidiste onde queres ir? – Virei-me para ele oferecendo-lhe o meu melhor sorriso.
- Já mamã! Vamos ao Nando’s. – Respondeu-me com entusiasmo.
- Então vamos ao Nando’s. – Virei-me para a frente começando a dirigir.
Claro que ele iria escolher o Nando’s, ele é igualzinho ao seu pai.
Um aperto tomou conta do meu peito, eu sinto a falta do Niall. Sinto falta daqueles adolescentes que discutiam muito mas amavam-se acima de tudo. Como é que agora a discussão é maior que o amor?
- Tens muita fome, filho? – Tentei fazer conversa.
- Sim mamã. Muita! – Ele parecia animado, pelo menos mais animado do que anda ultimamente. – E posso comer um gelado, não é mamã?
- É, filho. – Assenti rindo.
Quando chegamos ao Nando’s pedi o do costume e sentei-me na mesa mais reservada do restaurante. Precisamos de paz e eu preciso também de ter uma conversa com o meu pequeno filho.
O João estava empenhado na sua comida, porem o empenho em falar não era igual. Passou grande parte do almoço calado, comendo tudo o que tinha no prato e só abria a boca quando eu perguntava algo.
Quando veio o famoso gelado que ele tanto queria, eu resolvi ir para caminhos mais sensíveis.
- Filho… – A minha mão acarinhou a sua, pousada sobre a mesa e o seu rosto direcionou-se para mim. – A mãe precisa de falar contigo.
Os seus olhos encararam os meus e ele nada disse.
- Sabes porquê que a tua professora me chamou? – A minha voz era calma.
Ele assentiu com a cabeça contendo tristeza nos seus olhos.
- Não queres falar sobre isso? – Olhei-o cautelosamente.
Ele deixou escapar um suspiro e os seus olhos encararam o seu copo de gelado.  Eu aproximei mais a minha cadeira para perto da dele.
- João, a mãe só quer te ajudar. Fala comigo, por favor. – Levei os meus dedos ao seu queixo e delicadamente fi-lo encarar-me. – Não há nada que me queiras dizer, ou até mesmo perguntar?
Ele ficou uns segundos calado. As suas bochechas estavam vermelhas e os seus dentes atacavam o canto dos seus lábios.
- Eu… – Começou por dizer baixinho. – Eu vi o tio Jack a bater no papa. – Ele confessou criando lágrimas nos seus olhos.
Eu fiquei imóvel sem saber o que fazer ou dizer. Fui apanhada de surpresa.
Eu não sei o que aconteceu ao certo naquela noite mas seja o que for, o João viu e eu sinto-me horrível por ter ficado fora essa noite. Culpei ontem o Niall por ter ido embora quando eu fiz o mesmo.
Acho que agora entendo que ele não desapareceu por não se importar com os filhos, connosco. Ele foi embora porque se continuássemos a ver-nos a bomba iria arrebentar uma e outra vez. Ele foi porque sabia que era o melhor, precisávamos de espaço e de meter a cabeça em ordem.
- Eu sei que tu e o papa vão separar. – Ele continuou o seu discurso quando percebeu que eu não sabia o que dizer. – Muitos dos meus amigos não tem os papas juntos, mas eu queria os meus juntos. Só que o papa estava muito chateado e tu estás sempre triste, só não sei como posso fazer para vocês sorrirem outra vez.
A sua voz é tipicamente acriançada e a sua capacidade de formular frases não é a melhor mas o seu discurso era de uma pessoa grande. O meu filho cresceu tanto.
- Juntos ou não, vocês são a melhor coisa que eu e o papa temos na vida. A culpa do que está a acontecer não é tua, filho, nem do mano, a culpa é dos papas. – A minha voz falhava a cada palavra dita, estava a custar horrores ver o meu filho naquele estado.
- Não achas que podemos ser como antes? Tu sabes, amigos e juntos? – Ele suplicou.
- Vem aqui, filho. – Abri os meus braços e ele levantou-se da sua cadeira e sentou-se no meu colo.
Logo os meus braços envolveram o seu pequeno corpo e depositei muitos beijinhos na sua bochecha fazendo-o rir.
Este deveria ser o som que ele deveria soltar sempre, e não lágrimas.
- A mãe promete que eu e o papa vamos voltar a ser amigos, sim? – Eu não sei mesmo o que dizer. Como se cura as feridas de alguém quando nós mesmos estamos a sangrar?
Eu tenho noção do que estou a prometer e vou fazer de tudo para não falhar com a minha palavra. Eu e o Niall podemos não voltar mas seremos bons um para o outro, pelos nossos filhos. As nossas crianças merecem o nosso melhor.
- Boa, mamã! – A sua animação era notória.
- Mas para isso quero ver-te a sorrir e empenhado na escola, sim filho? És muito pequeno para te preocupar com assuntos dos crescidos. – Abracei-o mais contra mim.
- Eu já sou crescido, mamã! – Ele refilou e eu ri.
- Claro que sim, filhote. – O seu sorriso era safado, tão safado quanto o do pai.
Ele será sempre o meu bebé, não importa o quão grande ele possa parecer.

Oi oi voltei com novo capitulo minhas lindas!! 😊
O que acharam do capítulo? O que acham do que o João está a passar? E da conversa dele com a mãe? Acham que ela vai conseguir cumprir o que prometeu? E o que irá achar o Niall disto tudo?
COMENTEM MUITO FOFAS E SE GOSTARAM, VOTEM!!!
Um enorme obrigada a vocês todas, por tudo mesmo! Mas principalmente pelo carinho e pelas mensagens que me mandam... Sou mesmo uma sortuda por ter leitoras como vocês!
Beijinhos grandes 😘❤❤❤

Irresistible 3   (Acabada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora