Capítulo 2 - Silêncio

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     Os trovões lá fora denunciava o grande temporal que iriamos ter. Eu havia me afundado na literatura de William Shakespeare, que havia sido minha única companhia todo o sábado. Eu havia ficado horas e mais horas refletindo o sonho que tive; e tentando achar explicação logica para aquela pele nas minhas unhas, me pego mais uma vez em devaneios, e sentindo a minha cabeça doer. Havia passado a tarde inteira no quarto, coberta e olhando para a janela, e assim eu havia dividido meu sábado, em leitura e varias horas de silencio.
     Depois de ter terminado todo o livro, decido ir à cozinha, meu pai com certeza estaria sentindo minha falta. Ao chegar à mesma, vejo o meu pai cortando alguns legumes, para preparar o jantar.

     — Ora ora, mas se não é a margarida desaparecida, achei que eu deveria chamar os bombeiros para te salvar daquele quarto. Fiquei assustado, pensei que havia morrido e entrado em estado de decomposição! – meu pai brinca, e fala com aquele sorriso encantador, que me trazia alivio.

     — Praticamente, mas eu estava sendo devorada pela a sabedoria de Shakespeare! – enquanto falo pego uma maçã e dou-lhe uma mordida; ele sorri e para de cortar o seu tomate para poder dar sua atenção para mim.

     — Recite algo para mim! – respiro fundo, e acabo por corar as bochechas, meu pai sabia que eu tinha memoria fotográfica, e que certamente eu saberia o que recitar, mas aquilo me deixava um pouco envergonhada,  mas o faço até porque eu sabia que ele insistiria. Depois de um longo suspiro começo a recitar parte do meu ato favorito

     — ''O pensamento assim nos acovarda, e assim
É que se cobre a tez normal da decisão
Com o tom pálido e enfermo da melancolia;
E desde que nos prendam tais cogitações,
Empresas de alto escopo e que bem alto planam
Desviam-se de rumo e cessam até mesmo
De se chamar ação''. – recito com emoção e pausadamente; sem quebrar o contato visual com meu pai, que esboça um largo sorriso e de forma calma, volta os seus afazeres.

     — Você me orgulha muito, filha! – acabo por dar um sorriso curto, um tanto envergonhado, mas grato. Meu pai era um homem forte e digno, ele era o ser humano mais correto e calmo que eu havia conhecido, passava sua ternura para qualquer coisa que estava fazendo e eu queria um dia ser um terço do que meu pai é. Depois de uma longa conversa e risadas, o jantar ficou pronto e nos pomos a comer; prezávamos o jantar em família. Desde que a mamãe havia falecido, tentamos nos manter unidos.

. . .

     Depois do jantar, começo a uma limpeza na cozinha; estava tão distraída que o som de algo caindo me fez dar uma pulo e me virando bruscamente, percebo que a faca havia caído. Minha respiração pesa, mas minha mente grita comigo

"Não seja ridícula!"

     Nego com a cabeça, expulsando aqueles pensamentos idiotas e caminho até a mesma. Me abaixo para pega-la, quando ouço um barulho atrás de mim; me viro bruscamente, com a faca na mão, em posição de ataque; até que ouço passos e alguém atrás de mim, me viro rapidamente e vejo meu pai.

     — Hey, hey, hey... cuidado com essa faca mocinha. Pode se machucar. – Suspiro de forma pesada

     — Papai... me assustou! – Ele me olha com a sobrancelha arqueada; logo sorrio para mostrar a ele que estava calma e ele vem até mim e me abraça

     — Meu anjo... me desculpe, não foi a intenção. – Afirmo com a cabeça rente ao seu peito, já que ele me abraçava; tentando me consolar do susto. Sorrio para ele, para que ele percebesse que eu estava bem. Ele beija a ponta do meu nariz, como sempre fazia quando eu era uma criança e começa a andar para fora da cozinha, caminhando para a sala. Volto a fazer meus deveres. Estava limpando a pia quando ouço sua voz distante

So insaneWhere stories live. Discover now