Capítulo I

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– Ela está acordando!

Esta foi a primeira frase que eu ouvi. Mal havia retomado minha consciência – mal mesmo, pois nem sequer sabia quem eu era, onde estava, qual a data... – e já me vi cercada por várias pessoas. Todas pareciam tão chocadas quanto eu.

Logo o médico apareceu. Nem fomos apresentados, mas a aparência dele era de médico. E na boa, se ele não fosse médico, estaria desperdiçando um tremendo talento. Ele devia ter uns quarenta anos. Era o que se pode chamar de um 'coroa boa pinta'. Cabelos grisalhos, cara de bom moço, mas não muito, sorriso de quem sabe das coisas.

– Bom... - disse ele, em meio à confusão causada pelas outras pessoas – Vejo que você finalmente acordou.

Minha cabeça doía muito. Doía tanto, que eu nem consegui responder ao médico simpático. Fechei os olhos imediatamente e senti que precisava vomitar. Será que é essa a sensação que se tem quando uma pessoa acorda de algum coma ou algo do tipo?

O médico percebeu que eu não estava bem, porque despachou toda aquela gente do meu quarto e chamou algumas enfermeiras. Logo injetaram algo no caninho que entrava na minha veia e eu me senti leve. Tão leve que capotei.

Acordei muito mais tarde. Desta vez, não me sentia tão mal. A cabeça ainda doía, mas a dor era suportável, e as náuseas também estavam mais controladas. O médico não estava no quarto. Na verdade eu estava sozinha, o que eu achei o máximo. É um tanto perturbador dividir o ambiente com pessoas que você não conhece. Ou, pior, que você não consegue se lembrar.

Permaneci ali durante horas, tentando colocar os pensamentos no lugar. Não me lembrava de absolutamente nada. Pensei que pudessem ser efeitos dos medicamentos. Pelo menos, tentei convencer a mim mesma de que talvez fosse isso.

Quando o médico retornou ao meu quarto, sua expressão não era nada amistosa. Não parecia nem de longe o cara boa pinta de horas atrás. Ele me olhou com urgência e disse:

– Vamos aproveitar que estamos aqui sozinhos. Quero que você me conte exatamente o que aconteceu.

Ele não podia ter perguntado algo mais simples? Tipo... Qual o nome completo de Dom Pedro II? Seria mais fácil lembrar de todos os dezessete – são dezessete mesmo? – nomes do que responder o que ele queria!

– Eu pensei que você pudesse me contar o que aconteceu comigo, porque... eu não lembro de nada!

O médico fez cara de "Por favor! Diz que você está brincando comigo". Quando ele viu que não se tratava de nenhuma brincadeira, seu rosto tornou-se sombrio. Aquilo estava começando a me assustar.

– Você não se lembra de absolutamente nada? – perguntou ele.

– Nadica de nada!

– Nem seu nome? 

– Nadica de nada!

– Isso é péssimo! – exclamou ele, andando de um lado para o outro – Isso é péssimo! Isso é péssimo!

–  Eu sei que isso é péssimo! – exclamei zangada – Eu pensei que você pudesse me dizer o que está acontecendo...

– Quem me dera – respondeu ele.

–  Como assim? Eu estou numa cama de hospital. Eu estou aqui há... quantos dias?

–  Dez.

–  Dez dias! Isso é tempo pra caramba!

Aquela história toda estava me deixando cansada. Onde já se viu? Aquele médico devia ter batido a cabeça. Ou cheirado ópio demais. Sei lá!

– Quem são vocês? E o que eu estou fazendo aqui? – perguntei.

A Segunda Geração - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora