"Mas meu ex namorado tinha o pau pequeno! Hahahah! Ah, não tinha como continuar!"

"Nem me fale, o meu não tinha pau pequeno, mas gostava de ficar de conchinha... ele fazia as coisas direitinho, sabe? Só que o Pedro já chegava chegando. Fiquei com o Pedro, né? Hahahah"!"

"Pelo menos o de vocês ainda tinha jeito. O meu, aff... Ficamos casados por 15 anos. Quinze anos! E adivinha? Ele mandava flores ainda! Ai que meloso! Não aguentei!"

"E você? Conta dos seus namoradinhos. Conta dos seus casinhos. Você tem cara de quem gosta mesmo é de pular a cerca!"

"O que foi? Ah, nada a ver! Está com suas amigas! Conta pra gente, não precisa ter vergonha!"

Não sei se era bem vergonha. Só... me incomodava. Era a estranha por me incomodar. Fui afastada logo, afinal, achavam que eu me fazia de santa. 

Não sou.

Já desejei e fiz coisas... que...bem, enfim.

Mas acredito que tenho o direito de não querer falar disso. Até para... amigas. Não?

Entendo que queriam me conhecer. Trocar coisas de amigas...

Mas...

Eu não queria.

Ah...

Passei por problemas muito parecidos quando ia trabalhar. As pessoas pareciam disputar quem chamava mais atenção. Quem não tinha talento vivia tentando criar casos. Quem tinha talento... se perdia. Não acreditava em si mesmo. Me pediam conselhos: como você vive calma? Na sua?

Como?

Eu também não sei.

Eu só estava fazendo o que sempre fazia. 

As coisas ficaram mais complicadas quando tive um breve momento de alegria. Descobri meus caminhos espirituais. Pensei que tudo se tornaria melhor. Que encontraria pessoas dóceis, compreensivas. 

Quando expus, pela primeira vez, algo de dentro de mim... Uma oração que criei tão espontaneamente...

"Que ridícula, está querendo dizer o que com isso?"

"Acha que é a deusa para sair falando o que fazer?"

Meu coração sofreu um golpe tão forte... Eu lembro como meu sorriso murchou. 

Recolhi meus cacos, minhas palavras, e voltei à minha caverna. Minha zona confortável, imutável.

Abri um dos meus livros favoritos e comecei a folhear. Fazia-me tão bem...

Ia colocar uma música no celular para me acompanhar, quando vi uma mensagem. Era de alguém que quase nunca conversei.

"Oi! Deixa eu ler a oração que você escreveu? Eu ia copiar, mas você apagou... Posso? Eu achei linda! Me deu até uma inspiração!"

Uma... inspiração.

Acendi uma centelha em alguém.

GrimórioWhere stories live. Discover now