III

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Uma dor excruciante atinge meu peito o fazendo arfar rapidamente em busca de ar e me forço a tossir, mas nenhuma gota sequer de água salgada foi expelida de mim. A dor irradia  por cada centímetro de meu corpo, descendo até a ponta de meus pés e quando meus olhos se abrem rapidamente não reconheço o lugar em que estou. Olho para todos os lados e tudo ali é um completo vazio com paredes estranhas e porosas. Será que tínhamos chegado finalmente ao nosso destino?

Me forço a me sentar e um frio percorre minha espinha ao me apoiar no que parecia ser pedra abaixo de mim e minha palma dói com pequenas pontinhas que se fincam nela. Jogo minhas pernas pra fora da cama. Não me lembrava de ter colocado uma saia verde justa horrorosa como aquela. Levanto minhas pernas para vê-la melhor e meu coração quase para quando avisto uma calda no lugar de minhas pernas.

O grito fica entalado em minha garganta e o som não sai, em vez disso observo pequenas bolinhas de ar subirem diante de meus olhos e estourarem desaparecendo. Minhas mãos sobem rapidamente até minha boca do a tampando por instinto. O que estava acontecendo? Baixo as mãos até o pescoço e tento  dizer algo em voz alta. Apenas bolinhas novamente. Tampo minha boca rapidamente novamente.

"Ela acordou." alguém disse próximo a mim. Olho para trás em busca de respostas, mas não havia ninguém ali, tudo a minha volta se resume a pedra e se forçasse muito a vista, conseguia ver pequenas ondulações de água. Isso não estava certo!

Se antes eu tinha medo de estar em um navio em alto mar, agora estava apavorada por estar embaixo dele. Meu deus, o que estava acontecendo?
Numa tentativa estupida em ficar em pé, caio no chão batendo meu cotovelo. Isso não daria certo.

Sinto uma mão fria passar por baixo de meus braços e me levantar, e quando vejo meu corpo diante de mim, estou flutuando. Ou melhor dizendo, boiando. Como por instinto, bato rápido minhas nadadeiras e me afasto dali me chocando contra a parede.

"Fique calma." Me pedem.

Aquele ser a minha frente se aproxima nadando lentamente até mim e estica a mão. Em outra tentativa frustrada de falar, faço mais bolhas escaparem de dentro de mim me deixando com raiva enquanto aquele ser ali parado a minha frente sorri. Ela aponta para a cabeça e pude escutá-la falar comigo.

"Você não tem mais voz, minha querida. Mas, não tenha medo."

"O que aconteceu?" Pergunto analisando-a.

"Você se tornou uma sereia." Ela conta como se fosse a coisa menos obvia ali.

"Quero saber como isso aconteceu!"

"Você deu sua vida por aquele a quem amava. Foi um preço alto a ser pago." Ela explica

"Eric está vivo?" Quero saber imediatamente.

"Sim. E está a sua procura."

"Então, eu tenho de encontrá-lo." Prontifico-me endireitando o corpo. "Ele precisa saber que estou viva."

"Calma." Ela me pede segurando meu braço. "Posso te levar até ele, mas você não pode falar com ele."

"Por que não?"

"Se você disser uma única palavra a ele, ele se jogará ao mar e de nada terá adiantado seu sacrifício." Ela me explica.

"Ele morrerá?"

"Infelizmente. Pense bem, se você quiser vê-lo posso te levar até ele, mas você tem de ficar quieta."

Meu corpo frio estremece só de imaginar Eric voltando a cair na água e se afogando, por isso apenas aceno brevemente com a cabeça e aceito os termos. Pelo menos ele está vivo, posso me contentar com isso.

Oceano profundo (completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora