✉Capítulo 4✉

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Valentina.

Eu queria sumir.

Desaparecer.

Ou quem sabe ter o poder de retornar no tempo.

Ainda estava no meu consultório, arrasada, destruída e pior... Culpada. A dor, a culpa e o maldito sentimento de aflição em meu peito me inundavam.

Eu me sentia suja, fraca.

— Imbecil! Idiota! — Estapeei minha própria testa.

As lágrimas da minha vergonha jorravam de modo incessante de meus olhos e, ainda sentada na minha cadeira encarando o papel molhado onde estava o recado mais insensível que eu poderia receber na vida, amaldiçoei Pedro.

— Você me decepcionou. Eu fui burra em achar que talvez tudo aquilo fosse mesmo saudade. Mas você me provou não possuir mais coração. Lamento tanto por isso, mas infelizmente terei que me afastar de você, de uma vez por todas. Pra sempre.

Eu disse encarando o papel, como se aquilo me sanasse.

Minha mente então voou até dezesseis anos antes, quando após a primeira noite de sexo minha e dele, onde havíamos juntos perdido a virgindade, Pedro ficou abraçado ao meu corpo.

Como vamos viver um sem o outro? — perguntei com a voz embargada pela saudade.

Vamos dar um jeito, meu amor. Somos um do outro e isso nunca vai mudar. — Ele disse acariciando meus cabelos, me abraçando na cama.

Eu vou lembrar desse momento pra sempre. Todos os dias que eu ficar no Rio de Janeiro.

— Nem me fale disso. Assim que fizer dezoito vou te buscar. Dane-se sua mãe, danem-se seus patrões e qualquer coisa. Vamos nos casar e viver juntos pra sempre. Ouviu? — Tocou a ponta de meu nariz.

Meu peito aqueceu de forma extraordinária. Eu sabia que seria difícil realizarmos nossos sonhos, mas a forma com que Pedro disse foi tão determinada que eu confiei nele. Sabia que tudo daria certo e ficaríamos juntos.

Vamos poder fazer isso muitas vezes — falei sorrindo, me referindo ao sexo.

Gostou? Foi bom pra você? — Ele me abraçou e beijou minha cabeça.

Foi dolorido, mas no final eu gostei, acho que com o tempo vai ficar melhor, né?

Prometo que na próxima vez serei um príncipe. Vou te dar muito prazer e ser muito carinhoso.

Eu te amo tanto — suspirei.

Eu te amo mais... bem mais...

Lembrar toda aquela cena tão vívida ainda na minha memória não ajudou muito. Chorei mais ainda, me sentindo um trapo.

Ele não foi um príncipe.

Ele não foi carinhoso.

Foi cruel.

Foi estúpido.

E pior de tudo, eu ainda senti prazer com aquele homem delicioso me invadindo. Como pode?

— Ahhhhhhrg. Sai da minha cabeça, maldito! — gritei.

Janaína bateu à porta, se despediu pois já havia ultrapassado seu horário e se foi. Eu tranquei todo o prédio, entrei em meu carro e fui pra casa. Não podia aparentar abalada em casa, respirei fundo antes de chegar.

Assim que cheguei, senti um aroma maravilhoso invadir minhas narinas. Tinha cheiro de cebola frita e frango. Ahh, comida caseira, adoro.

A sala estava vazia e segui direto para a cozinha. Ao chegar lá fiquei maravilhada com a cena que vi.

2- Imensurável {AMOSTRA}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora