— Não seja estúpida! — Retruquei no mesmo instante. — Você realmente não presta atenção no que eu falo, não é?

— Eu presto mais do que você imagina... Mas eu faço mais que ouvir suas palavras, eu escuto o que você quer dizer realmente. — Respondeu com naturalidade, ainda me observando.

Não consegui tirar meus olhos dela, até que a caminhonete passou por um buraco e eu tive que voltar minha atenção para a rua.

— É ali, apontei com a cabeça.

Eu deixaria a caminhonete na minha casa e iriamos apenas com a moto. Estacionei e reparei no meu irmão sentado no quintal. Eu não fazia ideia de onde ele tinha tirado aquela cadeira de praia.

— Olha só quem o meu irmãozinho trouxe pra casa... Parece que a coisa está ficando séria mesmo. — Merle debochou, tragando um baseado, como se aquilo fosse uma coisa perfeitamente normal pra se fazer no quintal de casa à luz do dia. — E aí cunhadinha? Aceita um trago?

— 'Tô de boa. — Natalie respondeu, se aproximando e estendendo a mão para que meu irmão batesse. Quando é que eles tinham inventado aquele cumprimento de "mano"? — Mas eu aceito isso aí eu você está bebendo. — Apontou a garrafa que estava ao lado.

— Ah bom. Pensei que a Darlyna estava te deixando careta. — Merle riu, estendendo a garrava e eu me limitei a revirar os olhos.

— Não bebe demais, você ainda vai pilotar aquela merda! — Devolvi, de mau-humor e Natalie assentiu, fazendo uma continência e murmurando um "Sim, senhor" sem som. — Eu vou... — Apontei com o polegar em direção a minha casa, mas não soube bem como terminar.

— Vai lá, eu te espero aqui. — Ela sorriu naturalmente, não precisando que a frase tivesse um fim.

Quase respirei aliviado, eu tinha que pegar os capacetes dento de casa, porém seria estranho convidar a garota para entrar e, mais estranho ainda, não convidar.

Os dois ficaram lá fora conversando e eu entrei, subi rapidamente as escadas, achei os capacetes e desci novamente. Pela janela da frente eu podia vê-los, Natalie ria de alguma coisa que meu irmão dizia.

Era estranho que os dois se dessem bem, primeiro porque ninguém conseguia se dar bem com o Merle, segundo porque o próprio Merle não tinha capacidade de manter uma conversa de cinco minutos sem tirar alguém do sério, principalmente garotas.

Para o meu irmão, mulheres serviam para um único propósito, e era um propósito bem depravado, diga-se de passagem.

Mas Natalie tinha conquistado algo muito próximo de respeito, claro que ainda tinha as piadinhas e deboche, mas Merle gostava dela, eu podia ver isso.

Não tinha mesmo como resistir, constatei ao vê-la revirar os olhos e fazer uma careta de deboche.

Ouvi o som de passos ao meu lado e nem precisei me virar para saber quem era, meu pai passou como se eu sequer estivesse ali. Estava sóbrio. Dei dos passos em direção a saída e ele olhou pela janela.

— Não fica trazendo essas putas baratas para a minha casa, moleque, você e o Merle que paguem um moquifo pra comer essa vadia.

— Ela não é uma vadia e não estamos comendo ninguém! — Rebati, antes que pudesse me controlar.

Will Dixon olhou de mim para a garota lá fora e tombou a cabeça.

— Ah, não me diga que está gostando dela? — O deboche em sua voz me dava asco. Era como se ele pesasse exatamente quanto cada palavra iria me ferir. — Porque você sabe que só conseguiria uma garotinha como aquela se pagasse, de outra forma ela nunca se interessaria por um fodidinho como você... A menos que tivesse algum problema mental.

LIFELINE¹ - BEFORE THE END | Daryl Dixon ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora