9. Morra de Vez

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***

23 de Julho de 2014 às 02h56. Montparnasse, Paris, França.

Com surpresa visível em seu olhar, Ethan viu a sua amada impulsionar o seu corpo para cima de uma escada de incêndio e sem muito esforço entrar por uma das janelas que aparentemente estava fechada.

Ele sabia da capacidade de Mia, mas vê-la em ação era completamente diferente. Era belo de uma maneira que ele não acreditou ser capaz e por mais que estivessem correndo contra uma ameaça que ficava cada vez mais próxima, tudo o que Ethan quis fazer foi beijá-la. Por uma infinidade de motivos, mas o maior deles era por finalmente ter sua Mia uma vez mais consigo.

Um ruído calmo soou no interfone ao seu lado e soube que a porta para o prédio estava finalmente aberta, graças à Mia, e contando rapidamente soube que era o terceiro apartamento no segundo andar e correu pelas escadas com pressa.

Precisavam se alimentar rapidamente e trocar suas roupas, Mia especialmente, já que não chegariam muito longe com a mulher vestida apenas com um roupão e sua roupa íntima. Além disso, ele precisava de algo mais confortável que um terno para correr atrás de um abrigo para Mia. Tinha algumas ideias do que fazer, porém sabia qual fosse sua decisão, teria que ser pelas costas de Bloody.

A mulher jamais permitiria que ele tomasse o controle e também jamais contaria com a sua ajuda, por mais que Ethan estivesse ali justamente para esse fim, para proteger e salvar. Para garantir que a sua amada estivesse viva. Era por isso que ele havia partido da primeira vez e era exatamente por isso que ele havia retornado. Ele precisava saber que ela estava em segurança e mesmo enquanto todo o mundo pensava que ele estava morto, tudo o que importava para ele era que Mia estivesse viva e segura.

E ela estivera. Ainda que se aventurando da pior forma possível como a maior pistoleira da América, porém o que Ethan poderia fazer?

O apartamento que invadiram era pequeno, mas pelos sons vindos dos quartos mais ao fundo, ele serviria para o que precisavam. Haviam três quartos, notavelmente o dos pais e seus dois filhos, uma menina e um menino. E ao contrário do que acreditava, Mia não estava no quarto do casal recolhendo as roupas da mãe, mas no da garota.

Parando no batente, assistiu a nudez de Mia como se fosse a coisa mais entorpecente do universo. Ela era linda e a cada vez que a via essa sensação de impotência se fazia maior. Queria tocá-la, queria beijá-la e possuí-la, mas sabia que qualquer movimento na direção de Mia só fazia com que ela escapasse por entre os seus dedos, com a intenção de nunca mais retornar.

O vestido azul que ela deslizava pelo seu corpo era bonito, mas de uma forma juvenil. Era algo que ele certamente não esperaria ver em Mia há muito tempo e que era completamente averso ao que Bloody usaria. A peça não era apenas de um azul suave, mas tinha a estampa de pequenas âncoras num tom mais escuro que combinava com as sapatilhas que ela também havia achado no armário.

Ainda de costas, sem virar-se para Ethan, Bloody apontou para as roupas que havia separado para o seu acompanhante forçado. Já havia recuperado um suéter e uma calça jeans no armário do casal e sabia que elas serviriam perfeitamente em Ethan. Já o havia sentido ali na entrada do quarto, como sempre acontecia quando aquele homem se aproximava. Sentia a sua presença de forma visceral e sempre que chegava perto, causava aqueles arrepios maravilhosos que a faziam se entregar a ele.

- Deveríamos nos esconder.

Bloody colocou o casaco fino e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto antes de voltar o corpo para a porta onde Ethan ainda a observava com os olhos brilhantes.

- Jamais. Eu não sou do tipo que se finge de morta para fugir dos problemas.

- Você deveria usar "sem ofensas" depois de comentários assim. – lembrou ele enquanto pegava as roupas da cômoda e retirava a camisa com cuidado, sabendo que Mia o observava com a mesma atenção quanto ele fazia com ela. Sabia que não havia tempo para aquilo, mas a sedução estava intrínseca em seus ossos, em sua pele, deixando aquele apartamento quente demais,

- Não deveria não. Eu tive a intenção de ofender, Ethan. Eu quero te ferir e vou usar toda e qualquer oportunidade de te machucar. – ela parecia inabalada por aquele momento em que o corpo dele estava tão quente e pronto. Seus olhos estavam faiscantes, mas não de prazer, de ódio, de dor e todos os sentimentos que Ethan sabia que ele mesmo havia trago para a vida de Mia – Porque ainda sangro e a sua falta não fez a ferida estancar.

Ethan deu um passo à frente, mas ela afastou-se dois passos atrás. Ela parecia a velha Mia naquele vestido azul, tão inocente e jovem quanto ele se lembrava, evocando memórias de um passado bom, uma época em que tudo era tão certo. Uma época da qual Ethan sentia falta e sabia que Mia também, ainda que ela jamais admitisse.

Ele havia ferrado com tudo e todas as desculpas que sonhasse em pedir, jamais seriam o bastante.

- Mia, eu...

- É Bloody, Ethan. Mia morreu com você naquele mar e assim como desejo que ela jamais retorne dos mortos, eu desejo que você morra de vez.

Com os braços abertos, ele avançou novamente, permitindo que ela o visse por inteiro.

- Então aqui estou eu, faça o que tem de fazer.

Bloody o encarou com atenção, o fogo disparando pelas suas íris. Ela o queria. Ignorar isso era apenas perda de tempo, suas entranhas sentiam aquele desejo, sua pele se aquecia apenas ao ouvir o som da voz de Ethan. Porém, ela sabia que não deveria ceder àquele desejo, nada de bom viria daquele momento e ambos tinham plena certeza disso.

Precisavam estarem vivos antes de estarem juntos.

- Não serei eu a puxar o gatilho, mas serei eu a comemorar quando isso acontecer.

E sem dizer mais nada, atravessou a porta, deixando-o para trás para que pudesse se trocar com as roupas do dono da casa enquanto Mia entrava no quarto do garoto com o coração pesado, mas um sorriso nascendo em seu rosto quando notou o iPod esquecido sobre o criado mudo. Pelos pôsteres de heavy metal pendurados pela parede, aquele iPod era tudo o que Mia precisava.

Calar o mundo e focar-se apenas em si, no poder que o seu corpo retia e na capacidade de destruir que ela sabia possuir. Ethan era uma distração, mas se ele queria tanto acompanhá-la que fosse.

Não iria esconder-se, mas lutar. Talvez ganhar alguma vantagem, mas antes de tudo iria armar-se. Tanto com todas as pistolas que conseguisse angariar com amigos do submundo quanto com todas as barreiras para manter Ethan longe.

A cada segundo ao seu lado ele parecia mais vivo, mais presente e mais capaz de fazê-la destruir tudo o que havia construído em busca de uma nova chance. E isso era irracional. O que o impedia de partir de novo, tão morto quanto antes, assim que visse que ela estava em segurança e longe das ameaças da Interpol?

Não se entregaria mais. Mia se entregava. Bloody lutava até que não houvesse mais ar em seus pulmões ou força em seus dedos para puxar o gatilho.

Ela lutaria e se manteria viva.

Fosse com ou sem Ethan Wyatt. 

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