2. Não Converso Com Mortos

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17 de Julho de 2014 às 18h33. Paradise, NV.

Os tênis Converse que Bloody usava não emitiam ruído algum, e mesmo que emitissem, os sons que vinham do banheiro os ocultariam. A suíte do hotel era espaçosa e cara, esbanjando luxo por todos os cantos. Uma enorme parede feita de espelhos refletia a imagem dela e sorriu satisfeita para o seu reflexo.

Parecia uma garota normal. Seus cabelos escuros estavam compridos, alinhados a sua cintura e o capuz de sua blusa preta ocultava grande parte dos seus olhos cor de mel, combinando com as calças e os tênis tão negros quanto o capuz. O seu reflexo sorridente parecia confiante e capaz e era justamente o que Bloody era: capaz.

Os fones de ouvido brancos contrastavam com a aparência escura e perigosa da garota. O pequeno ipod de menos de cinco centímetros estava preso contra o sutiã e ela tinha certeza de que ele não cairia dali. Estalando o pescoço uma vez para a direita e outra para a esquerda, ela apertou um botão discreto no fone deixando que o som das guitarras pesadas dos anos 80 embalar a sua missão.

Missy diria que ela era uma louca por utilizar fones de ouvido nesses momentos, mas Bloody achava que precisava de uma trilha sonora, bem alta e pesada de preferência, por melhor que fosse no que fazia, o som que tudo aquilo provocava lhe deixava aflita. E aflição não combinava em nada com o que fazia para ganhar a vida.

Aproximou-se do banheiro enquanto Heart cantava aceleradamente em seus fones de ouvido, a arma foi pega na velocidade da canção, e quando a porta foi aberta suavemente, o homem e a mulher ali dentro a olharam com a mais pura expressão de surpresa e espanto.

Bloody deu de ombros para o arquear de sobrancelhas do homem, um senhor que tinha idade para ser seu avô e mesmo assim tinha suas mãos enrugadas e nojentas no meio das pernas de uma garota pelo menos quarenta anos mais nova. Em certos momentos, ela realmente adorava o que fazia.

A arma foi destravada e apenas o casal pode ouvir o estalo, fazendo com que seus corpos nus se paralisassem de medo do próximo passo da figura de preto à porta. Com um sorriso sacana, Bloody mirou a testa do homem, deixando que seu dedo escorregasse para o gatilho, sentindo o impacto suave da bala saindo da arma e disparando contra a gravidade a caminho da pele do idoso asqueroso.

Simples. Direto. Limpo.

Um tiro e pronto. Lá estava o corpo sem vida no chão, nu, infelizmente, porém morto, o que significava que o trabalho de Bloody estava concluído.

- Dê o fora. - aconselhou a garota que olhava assustada do corpo do cliente para Bloody, temendo ser a próxima vítima e não bastou um segundo aviso para que ela recolhesse o roupão do hotel, o vestindo apressada e correndo de volta para a sala, pronta para juntar as suas coisas e fazer exatamente o que a assassina havia dito: dar o fora.

A moça de cabelos compridos não esperou para saber se sua dica seria seguida, abrindo a porta de vidro que dava acesso à varanda, ela se pendurou no balaústre, pulando para a próxima varanda, repetindo o processo até conseguir pular para o telhado do prédio ao lado, correndo pelas telhas, buscando ser o mais leve possível enquanto se distanciava do local do crime através dos céus, contando com a escuridão da noite para ocultar o seu rastro.

Depois de pular sobre mais dois ou três prédios, chegou ao local desejado, abrindo a porta de acesso às escadas, descendo-as no ritmo da música, ainda muito acelerada, tanto pelas guitarras ecoando em seus ouvidos quanto pelo que acabara de fazer. Os lances de escada se seguiam e ela os descia com um sorriso radiante. Era boa no que fazia e como Missy sempre a lembrava, muito conhecida por isso, não era a toa que seus clientes se propunham a pagar somas cada vez maiores para Bloody, a melhor assassina dos Estados Unidos. Uma soma que a Interpol triplicava mensalmente atrás de pistas sobre a cruel matadora. A polícia a desejava, viva ou morta.

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