Encantadora.

Linda.

Minha mão foi guiada pelos instintos. Rosas são as minhas flores favoritas e eu nunca vi uma tão bonita em toda a minha vida, quis tocá-la, correr os dedos pelas pétalas, cheirá-la. Aproximei-me da redoma e fiz menção de retirá-la, mas Adam segurou meu pulso. Franzi a testa para ele, que mostrou a palma direita.

– Quando eu tentei tocar, isso aconteceu.

Ao longo do tempo que suas atitudes começaram a mudar, ele tocou nas minhas mãos incontáveis vezes, inclusive o meu rosto, e eu admito que senti a textura da sua pele diferente em certos pontos, mas como ele é musculoso acreditei que seriam calos provindos de exercícios. Não queimaduras.

Tracejo meus dedos pela cicatriz delicadamente e seguro seu pulso para trazer sua mão perto do meu rosto. Beijo-a. Ergo o olhos para o rosto dele e vejo um rascunho de sorriso despontar no canto dos seus lábios.

– Até quando meu pai morreu, eu nunca entrei neste lugar. Não por falta de tentativas, quando eu era criança, tentava invadir o tempo inteiro, mas ou era pego, ou estava trancado. Quando eu tentava arrombar a porta, levava uma bronca porque sempre quebrava a maçaneta. – Solta uma risada fraca, nostálgica, quase sem humor.

– Molequinho travesso. – Comento, sorrindo.

– Ano passado foi a primeira vez que pus os olhos nessa redoma. Fiquei tão encantado quanto você e queimei a mão. – Continua depois de retribuir meu sorriso. – Esse lugar guarda mais segredos que eu poderia imaginar, viu toda essas antiguidades, são só uma pequena parte. Isso aqui é outra parte.

Adam caminha até o canto do cômodo e pisa com força no assoalho até algumas madeiras se soltarem, tira de lá uma caixa de sapatos e traz para mim. Está coberta de poeira, salvo por marcas de dedos. Abro-a. O conteúdo são várias cartas, algumas tão velhas que ficaram amareladas. Estas tem a assinatura de Layla Beamont, avó de Adam. Examino as cartas com muita atenção, passando os olhos pude perceber que as cartas dela eram sobre a "maldição" e que nenhum dos envelopes de Willian foi aberto.

– Eu não quero ler. Não ainda. Meu pai escreveu isso tudo porque provavelmente não teve coragem de dizer cara a cara. – Confessa, depois de eu perguntar o porquê.

– Em outras palavras, "eu sou teimoso e estou me recusando por vontade própria".

Ele revira os olhos.

– Bom, são os segredos que ele lutou para defender. Acha que seria o melhor desenterrá-los? 

– É a sua maneira de dizer que tem medo do conteúdo das cartas?

– Precisamente... – Murmura.

Assinto, mordendo o lábio. Se eu estivesse no lugar dele, teria lido as cartas no momento que as visse por não conseguir me conter. Eu quero abrir os envelopes, mas infelizmente não tenho esse direito, terei que engolir a minha curiosidade e tentar esquecê-las. Desço meu olhar para a caixa mais uma vez. Um único detalhe que não tinha visto antes, um pedacinho rasgado de folha de caderno. Puxo-o com cuidado. É um bilhete sem remetente.

Deixo meu filho para você. Cuide bem dele.

Eu sei que pode ser para qualquer pessoa, mas sinto que essa mensagem foi para mim. Pode deixar, respondo mentalmente.

Tampo a caixa e deixo-a em cima de uma poltrona. Adam apontou um alçapão no teto, a alguns metros de nós, fui ao seu encontro.

– Ali é onde eu me transformo toda noite.

– O que tem lá?

– Melhor você não saber.

Arqueio a sobrancelha, há outra frase que atice a curiosidade de alguém com tamanha eficácia?

Sombras da Luz (Pausada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora