Capítulo 15

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Acordo com os feixes de luz alaranjada no rosto. Solto um grunhido, devo ter esquecido as cortinas abertas ontem à noite, droga. Esfrego os olhos, levantando da cama para escovar os dentes e lavar o rosto.

– Eu estava esperando você acordar, Belle.

Solto um arquejo pelo leve ataque cardíaco que Adam me causou, ele ri.

– Você me assustou! Não bate na porta?! Não respeita a privacidade alheia?! Não se anuncia?! – Disparo.

– Sim, eu te assustei, sim, eu bati na porta, sim, eu respeito a privacidade alheia e "estava esperando você acordar" soa como um anúncio para mim.

– Um anúncio nem um pouco estranho, decerto. – Resmungo, respirando fundo para me acalmar.

Adam ri mais uma vez e me puxa para um abraço.

– De qualquer forma, você me assustou. – Murmuro contra o seu peito.

– Eu sei, me desculpe. – Responde, roçando os lábios na minha testa.

– Não estou me referindo a agora.

– Nem eu, mas o que eu poderia dizer? Além do mais, você me acertou com um sapato. – Solta uma risada baixa. – Mesmo se eu fosse te atacar, você conseguiria se defender sozinha.

Reviro os olhos, me desvencilhando dos seus braços e sorrindo. Adam segura meu queixo e levanta o meu rosto a fim de que nossos olhares se encontrem.

– Preciso da sua discrição quanto àquilo. Entende isso?

– É claro. – Assinto. – Não me tome um uma idiota incapaz de pensar, Adam.

Roçando seus lábios contra a minha testa, ele murmura um "obrigado". O tom que usa soa aliviado e sinto que seus ombros estão relaxados. Há quanto tempo ele tem guardado esse segredo? Só posso imaginar o peso que tem que carregar. Quero poder ajudá-lo de alguma forma, quero que ele saiba que pode se abrir comigo sempre que precisar.

Sussurrei isso tudo a ele, que me pegou pela cintura e começou a me conduzir para fora do quarto. Mais especificamente, para a Ala Oeste. Lancei diversos olhares de dúvida a ele, mas não consegui resposta alguma, no máximo, ele me enlaçava com um pouco mais de firmeza.

A arquitetura desta casa é um pouco antiga, dá para perceber pelos corrimãos um tanto extravagantes, muito embora tenha passado por algumas reformas. Os eletrônicos são de última geração e os móveis são novos, mas a Ala Oeste não foi levada em conta quando a mansão passou pelas mudanças. Vejo poltronas e mesas no estilo vitoriano cobertas por pó e até pinturas nas paredes. Willian me disse uma vez que quando os Beamont vieram da França, no começo do século XVIII, já eram uma família influente. Levando isso em consideração, não seria surpresa que construíram um império comercial aqui e uma casa enorme que passa para cada herdeiro.

Há uma pintura antiga pendurada na parede, provavelmente de um dos primeiros Beamont. Está torta e empoeirada, mas quem quer que seja, tem o mesmo olhar de Adam. Um azul que lembra gelo. Os olhos dele me encantam de uma maneira que poderia escrever sonetos sobre, mas isso não é o mais interessante.

O que me chamou a atenção foi o fato de estar rasgado, como se alguém tivesse perfurado-o com uma faca num momento de fúria.

O retrato foi só o começo. Quanto mais fundo Adam me conduzia no cômodo, mais objetos quebrados e espatifados apareciam, nos cantos há estilhaços de vidro e a poeira cobre quase tudo. Quase. Há uma mesa de centro redonda que aparenta ser feita de madeira bem velha, em cima dela está uma redoma de vidro e, dentro desta, paira uma rosa vermelha. Rubra, carmesim, escarlate, seja o que for, é vibrante. Cor de paixão. Cor de sangue.

Sombras da Luz (Pausada)Where stories live. Discover now