Capítulo Único

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Admito que no começo você foi uma descoberta peculiar, uma mulher com atitudes impossíveis de prever. E foi isso que me atraiu, essa vivacidade, a diferença, a inteligência única. Ela era a mulher. Tinha fé em assuntos que eu recriminava com tanto afinco que até eu começava a acreditar pelo menos um pouco em coisas que rejeitava veemente com a razão.

Antes, nunca tive sentimentos ou interesses que se afastassem do carnal quando o assunto era o sexo oposto. Sexo era só uma troca, prazer em troca de prazer e um pouco de concentração provida pela ocitocina, o que realmente ajudava em certos casos policiais que eu precisava desvendar. Mas essa brincadeira entre paredes desde sua primeira consumação teve um toque unique.

Você me ensinou coisas, foi a única que conseguiu mostrar-me algo que eu não conhecesse, aprendi algo novo com sua forma de viver e isso é aterrorizante. Essa empatia me pertubava e me intoxicava sem que eu percebesse a ação do veneno. Eu respirava você, eu assistia seus membros se movendo levemente ao completar uma obra, cheirava sua essência. Eu resumia minha existência egocêntrica para que você me amasse.

Você era como uma cobra que envenenava sua presa apenas para paralizá-la sob seu controle, para que pudesse estar sempre por cima, observando, me manipulando. Antes do seu bote eu era frio, insentimental, mas você espalhou essa toxina na minha corrente sanguínea e tornou-me humano. Fingiu ser a perfeição que encaixava nessa personalidade excêntrica muito bem por conhecê-la como ninguém. Você me fez o homem mais feliz e o mais miserável do mundo.

Mas sou grato, Irene. Sou grato por ter me empurrado em um caminho diferente do seu com os experimentos, conhecer pessoas que estivessem fora de seu alcance, de sua influência. E uma dessas pessoas acabou por plantar sementes que eu não vi florescerem, mesmo em líquido tão tóxico que era, o meu sangue. E então ao me diferenciar levemente de você, com essas novas folhagens, pude derrotá-la. Seu egocentrismo falhou em ver essa mudança. Eu sempre estava andando pelos caminhos que você trilhava, então não conseguiu ver seu plano inteiro se voltando contra si quando mudei a forma de andar. Você preveu tudo que eu faria, tudo o que eu seria, só que cometeu um erro ao ignorar a constante que nivelou minha vida. E para provar que não sou o mesmo que você é, deixarei meu ego abaixar por um breve momento, no qual dou os devidos créditos e atenção para mulher que não cai nos seus jogos, não é feita de boba e não pode ser calculada, Irene. Esta é Watson, Joan Watson.

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