#Análise

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Arkansas. 01 de maio, de 2016

- Oooh, mais um dia nessa merda, tanto tempo sem fazer algo de verdade. E novamente mais um dia de exames.

Do outro lado da porta uma das enfermeiras falou:

- Bom dia Sr. McCoy, queira levantar-se para tomar banho, hoje é dia de falar com a doutora.

Fala como se fosse fácil passar a vida nesse quarto escroto.

A vida no quarto psiquiátrico não é a melhor coisa do mundo, mas com certeza é bem melhor do que uma cela comum da prisão. Onde coisas piores podem acontecer com qualquer um. Uma das melhores coisas que pode se ter em um quarto desses é um banho decente.

Adoro sentir a água morna escorrer pelo corpo, mesmo me limpando apenas externamente.

Como é bom poder tomar esse banho todos os dias. Se eu estivesse junto daqueles vermes já teria me matado.

Após o banho, fui conduzido até a sala da doutora.

- Bom dia Sr. McCoy, pode se sentar. Bom, como sabe hoje é seu dia de exames e preciso que hoje você colabore.

- O que será hoje?

- Vamos voltar a fundo no que aconteceu. Quero que volte para sua infância, e me conte como ela foi.

- É sério isso? Que porra.

- Você precisa saber que isso é para o seu bem Sr. McCoy.

- Meu bem? Em quê isso irá me ajudar? Nada mais pode me ajudar, qualquer um sabe que não tenho outro destino a não ser o corredor onde estou.

- Mas isso poderá ajudar a entendê-lo melhor.

- Não preciso que alguém me entenda.

- Fique calmo, você sabe que ainda existe uma pequena chance. Vamos começar devagar.

- Infelizmente não posso sair daqui então vamos logo com isso.

Passei a olhar diretamente para a doutora, com os olhos fixos e sem sentimentos, mas, ela não se deixava levar por olhares como esse.

- Quero que você me conte como era sua família.

Reclinei-me na poltrona, olhando para cima, observei o chanfrado desenhado no gesso do teto, tentando relaxar para que minha memória me levasse de volta no passado.

Nevada - Missouri. 1990

Sempre que vou para o colégio nas sextas-feiras, acabo tendo algum problema com Bryan, mesmo não querendo brigar ele dá um jeito de conseguir me meter em confusão. Hoje não posso deixar isso acontecer.

- Dave?

Pelo menos alguém ficará do meu lado hoje para me ajudar.

- Oi Jules. Já estava achando que não iria vir para o colégio hoje.

- Minha mãe demorou para sair de casa e por isso atrasei.

Além de Jules, eu também posso contar com Michael, mas ele não vem hoje para o colégio por que o pai irá voltar para o Canadá, onde trabalha.

* * * * * *

Até o momento nada do Bryan aparecer, espero que continue assim até o final da manhã. Preciso ir logo para casa assim que a aula acabar, senão a mãe vai ter um ataque de nervos novamente.

No final da manhã...

- Dave, você vai pela rua de cima?

- Hoje não Jules, preciso chegar rápido em casa.

- Vai onde?

- Vamos no centro, na casa de uma tia. Minha mãe está tentando conseguir um jeito de trabalhar e não deixar Tiffy e eu sozinhos.

- Entendo. Bom, então até amanhã cara.

- Até mais.

Hora de correr. É sempre chato voltar sozinho pra casa...

- E aí imbecil!

Puta que pariu. Essa voz, só pode ser o...

- Estou falando com você idiota. Responde!

O que não poderia acontecer era isso. Odeio ter que encontrar com o Bryan na saída.

- Vem cá mané.

- O que você quer Bryan?

- O de sempre. Te bater, seu bosta.

- Eu não entendo porque você me perturba tanto.

- Hahaha. porque você é um merdinha, Dave otário.

- Não vem Bryan, preciso ir.

- Vamos ver.

Bryan veio correndo para cima de mim, aquele soco cruzado acertou em cheio meu maxilar. Porém o murro que lhe dei na barriga também não foi fraco. Ele apertava minha cara como se fosse massa para modelar, minha força estava bem abaixo da dele para que eu pudesse virar o jogo, tentei até meter os dedos nos olhos dele. Bryan é maior que eu, e logo me derrubou no chão, enchendo-me de porrada. Não parou até ver o sangue escorrer de meu nariz.

Ele tirou seu corpo de cima de mim e antes de sair andando, enfiou um chute contra minha barriga.

- Até mais idiota.

Tenho quase certeza que toda essa raiva dele por mim, é por causa das minhas notas serem boas e as dele não... Que merda, vou chegar em casa atrasado e todo surrado. Aquele filho da puta do Bryan adora me perseguir. E ainda por cima o pessoal na rua fica me olhando como se eu fosse um lixo.

- Filho, onde estava? O que aconteceu com seu rosto?

- O Bryan mãe...

- Você tem que dar um jeito nisso ou vou ter que ir no colégio.

- Já tentei mãe.

- Então tente de novo. Não quero você brigando por aí com esses vândalos.

- Está bem mãe, vou resolver isso.

Não sei como mas vou, preciso mesmo dar um basta nisso. Até porque não quero apanhar todos os dias.

No dia seguinte logo após sair do colégio, resolvi falar com Bryan.

- Você vai mesmo tentar falar com ele?

- Claro que sim Jules, preciso dar um basta ou minha mãe virá ao colégio e não quero que isso aconteça.

- Então é melhor se preparar pois o Bryan está vindo aí.

Olhei para trás e vi Bryan vindo em minha direção com a expressão de criança que acabou de ganhar doces.

- E aí mané, preparado?

- Bryan, preciso falar contigo! Isso tem de parar.

- Isso o que, mocinha?

- Você me bater, preciso que pare ou... ou... ou terei que fazer algo.

Bryan rolou de tanto rir, como se estivesse assistindo ao show de stand-up.

- O que você vai fazer comigo? Está falando sério?

E novamente caiu em gargalhada.

- É claro que estou falando sério.

- Hoje pelo seu senso de humor não irei lhe bater muito.

Mais rápido que um cometa, Bryan atingiu-me com um soco na barriga. Virou-se e saiu com os amigos.

- Até mais idiota.

- Você está bem Dave?

Nem Jules poderia intervir na hora do soco, mas estava ali para me apoiar.

- Ele terá o que merece Jules.

Sorrindo para a MorteWhere stories live. Discover now