Capítulo Quatro - Velhos conhecidos.

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Aaron.

Algumas semanas se passaram desde o pequeno incidente no laboratório, a ponto de apenas restar uma pequena marca rosada na barriga de Lillian no local onde o ácido havia caído. É claro que, como tínhamos que comunicar o ocorrido aos superiores da instituição, a história acabou se espalhando pela universidade (com alguns detalhes omitidos, obviamente. O sutiã de Lillian não precisava virar assunto entre discentes e docentes), o que me deu uma estranha fama de "herói", me levando de professor que ninguém conhece a alguém "popular" dentro da instituição. Acho que acidentes com ácido impressionam.

Era a última aula de uma sexta-feira. Os alunos tinham acabado de sair, deixando apenas os monitores e eu dentro do laboratório. Asher escorava o cotovelo na mesa e o queixo na mão, olhando par frente, com uma feição claramente entediada. Lillian, por sua vez, rabiscava um caderno com voracidade.

— Lilly, a aula acabou. — Ele murmurou enquanto eu apagava o quadro. — A gente pode fazer alguma coisa mais divertida. Tipo ir embora.

A garota finalmente parou de olhar para o caderno. Virou-se para Asher como se estivesse surpresa pela passagem rápida do tempo, oferecendo-lhe um sorriso cansado.

— Eu tenho que organizar os últimos detalhes para o baile. — Disse antes de retirar os óculos do rosto e apoia-los na bancada. Voltou-se para mim quando Asher a encarou com uma feição levemente carrancuda — Aaron, onde consigo uma máquina de neve falsa?

Lillian era parte do comitê do baile de Natal, que era um evento beneficente realizado pela faculdade todos os anos, onde havia arrecadação de doações para o hospital local. Aparentemente, havia muitos filantropos entre alunos e convidados, a ponto de ser extremamente benéfico à universidade patrocinar um evento daquele porte.

Em seu âmago, o evento era um baile de gala organizado por uma comissão de alunos e professores – da qual fiz questão de passar o mais longe possível, organizado com uma temática natalina tradicionalmente no dia vinte e quatro de dezembro.

— Eu não faço a menor ideia. — Respondi, largando o apagador no local apropriado, um suporte metálico logo abaixo do quadro.

— Você deveria saber. — Ela disse, voltando a riscar itens no que aparentemente era uma lista.

— Deveria? — Questionei ao mesmo tempo em que abria os botões do jaleco.

— Acho que sim. — Ela respondeu, ainda riscando seu caderno. — Você trabalhou numa farmácia.

Asher e eu erguemos as sobrancelhas ao mesmo tempo, enquanto nos encarávamos e segurávamos o riso diante daquela constatação.

— Pode ser uma surpresa para você — eu respondi, observando a concentração de minha pupila — Mas a gente prefere a máquina de bolhas na farmácia. Nada pessoal, mas máquinas de neve são consideradas traição entre os farmacêuticos. Você deveria saber, já que está bem perto de ser uma.

Asher soltou uma risada enquanto, de modo sorrateiro, puxou o caderno de Lillian e o escondeu embaixo da camisa, sob protestos da garota.

— Asher, eu não tenho tempo para isso! — Lillian bufou irritada, colocando a mão na cintura de modo autoritário. — O baile é domingo! Você tem noção do tanto de coisas que eu ainda tenho que arrumar?

Ele manteve o caderno escondido sob o tecido da camisa, mas se aproximou da namorada para roubar um beijo. Tentei não me incomodar muito com isso enquanto guardava meu jaleco.

— Idiota. — Lillian disse antes de beijá-lo de novo.

Na sequência, Asher conseguiu convencê-la de que ela precisava comer e descansar para estar viva no dia do baile, então eles foram para a lanchonete enquanto eu terminava de arrumar o laboratório depois que eu disse que eu dava conta do resto, mas Asher teve que prometer que a ajudaria a encontrar a "maldita máquina de fazer neve".

Sem Você (Concluído).Onde as histórias ganham vida. Descobre agora