— Eu nunca irei entender o motivo de cancelar nosso casamento pelo simples motivo de que você precisa se encontrar.

Peguei minha bolsa e me preparei para me levantar.

— Lia...

— Quando eu sair por aquela porta, você será nada para minha vida. Esquecerei todos os momentos e juro que não derramarei uma lágrima.

— Eu sempre a amarei...

— Espere que encontre o que está procurando Eduardo, e que não seja aquilo tudo que pensou que seria. Que sinta o remorso por ter deixado fora da sua vida a pessoa que sempre te apoiou.

Sair de cabeça erguida exigiu todas as minhas forças. Eduardo tinha feito sua escolha, me excluindo da sua vida.

Eu faria o mesmo.

Não consegui cumprir com minha palavra, e assim que botei os pés no apartamento, uma onda de lágrimas tomou conta de mim.

Não sei o que era pior, ouvir o barulho dos meus soluços ou ficar desidratada (se isso fosse possível) de tanto chorar.

No final da tarde quando Ana chegou do seu estágio, eu já tinha acabado com dois potes de sorvete de flocos, três barras de chocolate e uma caixa de lenço.

— Lia, passei em uma loja e achei o vestido perfeito para usar no seu casamento... Jesus! O que aconteceu aqui? O que aconteceu com você? – perguntou quando viu a bagunça do quarto e o meu estado.

Pela sua cara, eu deveria estar parecendo a Samara do filme "O chamado", aquela parte em que ela sai do poço.

— Não haverá mais casamento... – funguei.

— Lia, entendo seu nervosismo. Tem cuidado praticamente sozinha dos detalhes do casamento e ainda tem o seu TCC.

— Ele terminou tudo...

Uma nova onda de choro chegou e quando me toquei, já estava soluçando de novo.

— Como assim, ele terminou tudo? O casamento? Com tudo praticamente pronto? Não faz sentido...

Se eu não estivesse presente no momento em que ele vomitou tudo, eu também estaria com a cara que Ana estava fazendo.

— Preciso de mais um pote de sorvete. Acabei com nosso estoque – falei enquanto limpava meu nariz com o último lenço em minhas mãos.

— Ok, vamos com calma... Até semana passada vocês estavam escolhendo o hotel em Veneza onde passariam a lua de mel, o que mudou em sete dias?

— Essa é uma pergunta que vale um milhão de dólares.

— Vocês brigaram?

— Não. Estávamos bem, iríamos viajar nesse fim de semana para ver meus pais...

— Não faz sentido. Eduardo parecia está apaixonado e decidido...

— Ele estava agindo estranho nos últimos dias, achei que fosse algum problema nas empresas da família...

— Talvez seja isso. Ele está assumindo sozinho desde que ficou de maior e Gabriel não quis voltar para o Brasil depois que se formou. Ele deve estar apenas confuso...

Joguei meu último lenço dentro do pote de sorvete vazio e olhei para ela.

— Foi isso que ele me falou quando me levou para almoçar no mesmo restaurante em que me fez o pedido... Terminou comigo porque não tinha certeza do que estava fazendo, que precisava de tempo para se encontrar.

— Viu? Ele está confuso. Daqui a pouco ele vai entrar essa porta e falar que estava confuso e que o casamento vai acontecer. Vocês estão juntos desde o ensino médio, acha mesmo que um relacionamento como o de vocês vai terminar assim?

Funguei mais uma vez e avaliei o que Ana tinha acabado de falar.

— Agora vamos limpar essa bagunça e lavar esse rosto inchado. Você não quer que Eduardo te veja assim quando vier te pedir desculpas, quer?

Balancei a cabeça negando.

— Ótimo. Deixa que eu cuido da bagunça, vai tomar banho, é melhor. E nada de doce pelas próximas semanas ou não vai entrar no vestido.

Mas isso não aconteceu. Duas semanas se passaram e Eduardo não me procurou. Nesses dias me isolei, não consegui sair do quarto, ir a faculdade e muito menos cuidar do meu TCC. Eu não tinha cabeça para isso.

Ana pediu licença no estágio por dois dias para ficar comigo. Perdi cinco quilos, pelo menos uma coisa boa nisso tudo, eu vivia brigando com a balança.
Eu precisava começar a me reerguer, mas como fazer isso quando tudo o que você tinha vontade de fazer era ficar na cama e se alto flagelando?

— Já chega Lia. Chega de ficar nesse quarto – disse Ana entrando no meu quarto em uma tarde depois de chegar do estágio – te dei tempo para chorar e se entupir de chocolate. Eduardo é um idiota pelo que fez, mas você é mais forte do que isso. Vamos levantar da cama, dar um jeito nessa aparência de morta- viva e comer alguma coisa.

— Não estou com vontade – falei puxando o edredom sobre minha cabeça.

— Mas vai ter q encontrar vontade. Sou sua melhor amiga e te ver assim está me matando.

Ana arrancou o edredom de mim, me obrigando a me sentar na cama.

— Odeio você - choraminguei saindo da cama contra minha vontade.

— Não odeia nada. Agora levanta essa bunda pálida da cama e vamos sair para comer alguma coisa.

Tomei um banho vigiado pela Ana. Por acaso ela achava que eu iria me afogar no chuveiro?

Depois me ajudou a escolher uma roupa apresentável, jeans e regata azul desbotada. Iria colocar tênis, mas Ana me empurrou uma rasteirinha que eu nem lembrava mais que tinha.

— Nada de comida japonesa, pelo amor de Deus. Não suporto - falei enquanto entrava no seu carro.

— Ok, nada de japonesa. Beto está esperando a gente naquele restaurante de comida mineira.

— Que ótimo, além de me tirar de casa, ainda vou ter que segurar vela - bufei.

— Você não vai segurar vela. E outra, foi ideia dele te tirar de casa. Todos estamos preocupados com você.

— Eu agradeço, mas não precisam se preocupar...

— Claro que precisamos. Você não sai do quarto a não ser que seja para tomar banho, não está indo as aulas e não tem se alimentado direito... Gosto muito do Eduardo, mas estou puta com ele por ter fugido e te deixado para lidar com tudo isso.

Descobri na primeira semana que Eduardo tinha deixado a empresa através dos advogados e tinha comprado uma passagem só de ida para algum lugar que ele não falou para ninguém.

Quando chegamos ao restaurante, um ambiente muito familiar e agradável, Beto já nos aguardava. Ele se levantou assim que nos viu e ficou em pé esperando a gente se aproximar.

— Que bom que Ana conseguiu te tirar de casa - disse ao me cumprimentar.

— Não tive muita opção - bufei ao me sentar.

— Acabei pedindo uma entrada enquanto esperava vocês.

Só então olhei para a mesa e vi uma pequena porção de pão de queijo e no mesmo momento virei a cabeça para o lado e vomitei meu café da manhã e o almoço.


A sua esperaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora