Capítulo 1

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_Vamos crianças. Julia, cuidado para não cair. Mark cuide de sua irmã, por favor querido. _falou Dóris carinhosamente com o filho.
Mark observava enquanto mãe acabava de arrumar as malas no bagageiro. Muito sério, o pequeno garoto de seis anos, pegou a mão da irmã caçula e ajudou-a entrar no carro.
Enquanto arrumava a bagagem, Dóris lutava para não demonstrar aos seus filhos o desespero  diante da situação em que viviam. Embora tentasse demonstrar tranquilidade, em seu interior, ela estava emocionalmente arrasada. Quando finalmente achava que tinha encontrado o rumo certo na sua vida, que havia conseguido dar a volta por cima, tudo desmoronara sem que pudesse fazer nada.
Ficara desempregada, e sem o emprego no posto de gasolina, não conseguiu manter o aluguel da pequena e modesta casa que morava no subúrbio de Cheyenne. Teve que tirar as crianças da escola integral que freqüentavam, e mais uma vez, deixar tudo  pra trás, e ir embora.
Seus sonhos  de uma vida segura e tranquila junto a seus filhos, desabaram e novamente sua vida se transformava nessa roda viva interminável.
Dóris arrumou a pequena Julia na cadeira de bebê e prendeu o cinto de segurança na cintura de Mark. Num gesto carinhoso, sorriu para os filhos e os beijou nos cabelos. Definitivamente ele não mereciam a vida que vinham levando! Por mais que soubesse que fazia tudo o que era possível para manter sua pequena família, ela sentia-se culpada. Essa culpa arrasadora que finca pé no coração de uma mãe solo que tenta a todo custo dar o melhor para seus filhos.
Há mais de dez anos, seu único objetivo era ter uma  vida digna  para si e mesma e  para seus filhos, só que infelizmente, ela estava perdendo a batalha.
-Para onde vamos Mamãe?- perguntou Mark interrompendo seus pensamentos.
Olhando-os ansiosa, Doris acomodou-se melhor no banco do carro.
Seus dois filhos tinham os olhos  azuis fixos em sua figura apática.
Ela sentiu o coração apertar.
_Parem de roer as unhas mocinhos! Vamos para Denver, uma cidade  linda onde eu morei com minha família._ falou Doris com um  alegria e segurança que não sentia, mas que valeu a pena, pois as crianças sorriram relaxadas.
Dóris suspirou. Com essa simples frase, ela parecia ter transmitido a confiança necessária para Mark e Julia.
Confiança que  ela estava longe de sentir.
Quando deu a partida no carro, suas mãos agarravam o volante do velho Chevrolet como se fosse uma tábua de salvação.
Seus filhos não sabiam. A simples referência à sua família  lhe trazia lembranças que pareciam mortas e enterradas. Mas agora, sentia-se desesperada sem saber se sua decisão era a mais correta. Ela falara a primeira coisa que lhe viera na mente, sem pensar nas conseqüências do que foi dito.
Voltar a Denver seria como voltar ao ponto de partida.
Afinal, fora dali que partira para buscar realizações pessoais, para realizar sonhos que nunca se concretizaram. Denver era também um lugar do qual ela guardava muitas recordações doloridas que desejava esquecer. Mas se tinham que ir um lugar, então que fosse para Denver. Naquela altura da sua vida, tudo estava despedaçado e pela primeira vez, Dóris sentiu medo.
Abrindo a janela do carro, ela deixou que o vento úmido desmanchasse seus cabelos. Perto de cruzar a saída da cidade, deu  um adeus imaginário a Cheyenne, como dera adeus a dezenas de outras cidades nos últimos dez anos. Suspirando fundo, notou que suas mãos tremiam e ela lutava, tentando segurar as lágrimas que insistiam em cair. Não podia permitir que o desespero tomasse  conta de sua vida, pois seus filhos precisam de sua força, de sua serenidade para mais uma vez, recomeçarem a vida em outro lugar.
Sabia mais do que ninguém que não podia continuar fugindo de si mesma. Mas a realidade era algo que não estava sabendo lidar. Saber que estava sozinha criando dos filhos, sem nenhuma perspectiva de emprego, com pouco dinheiro na bolsa e sem ninguém para apoiá-la em mais esse momento difícil a deixava em pânico.
-Oh Deus! O que farei?- murmurou Doris infeliz.
- O que foi que disse mamãe? - perguntou Mark sonolento.
Dóris olhou pelo retrovisor e viu nos olhos do filho um sinal de alerta.
-Não disse nada meu amor, volte a dormir. - Ela disse carinhosa para Mark.
Ela inclinou a cabeça a tempo de ver o filho se encolher ao lado da irmã que dormia no banco traseiro. Eles tiveram um dia exaustivo e deviam estar com fome. O pacote de biscoito e o suco que havia comprado já haviam terminado. Pobre crianças!
Essa cena tão vulnerável, lhe trazia lembranças de sua  própria infância ao lado da mãe e da sua irmã Grace.
_Será que algum dia lembraria daqueles dias sem sofrer tanto?-pensou Doris.
Lembranças de uma  vida vazia e solitária quando tudo o que mais sonhava era ter uma família igual às outras.
Distraída com seus pensamentos, Doris só notou que estava próxima ao seu destino quando as luzes de Denver piscaram na curva da estrada.
Um arrepio percorreu seu corpo frágil. Estava de volta!
Há alguns anos, partira dali com a intenção de arrumar um marido, que lhe desse uma vida estável, repleta de sonhos realizáveis, onde não tivesse que acordar sem saber o que comeria naquele dia.
Sonhos.
Sonhos  tolos de uma jovem ambiciosa e inocente que terminaram mais rápido do que ela havia imaginado.
Agora estava de volta, amadurecida e sofrida, com um único objetivo em sua vida: Arrumar um emprego, alugar uma casa pequena e matricular os filhos numa boa  escola de ensino integral. Dóris estava cansada de viver preocupada com o dia de amanhã. Cansada de pular  de cidade em cidade. Fizera aquilo sua vida inteira e sentia-se simplesmente esgotada.
Ela e Grace quando eram crianças nunca se acostumaram com a vida  nômade que levavam. Envergonhavam-se por terem estudado em diversos colégios, por vestirem roupas doadas pelos outros e por viverem em bangalôs sempre nas áreas mais pobres e violentas das cidades.
Suas mãos tremiam enquanto apertavam o volante. Na época, não conseguia entender por que a mãe agia daquela forma e sofria muito por isso. Esses fatos aconteceram há tanto tempo, só que as feridas ainda doíam demais. Ainda se lembrava com exatidão de uma briga que tivera com a mãe, alguns anos depois quando ela descobriu que era portadora do vírus HIV.
-Você não pode continuar assim mãe. Bebendo, fumando, saindo todas as noites com um homem diferente. Você está doente, tem que se cuidar...
Sandra virou as costas para a filha e acendeu um cigarro com as mãos trêmulas
-Por acaso está achando que eu vou morrer? Sim, eu vou. Todos nós vamos morrer um dia. Mas se você está pensando que vou deixar de viver a minha vida por causa dessa maldita doença, você está muito enganada.
Doris balançou a cabeça e falou suavemente com mãe, esperando que ela a ouvisse.
-Pois você deveria ter um pouco de juízo e cuidar da sua saúde, e principalmente da saúde dos outros, mãe. Isso que você faz, não é justo! Eu sei que a gente não vive para sempre, mas porque? Porque faz isso com você mesma? Olha o que aconteceu com você, por ter sido negligente e não ter ser cuidado.
Sandra ficou nervosa e puxou os cabelos louros com a raiz negra aparecendo para trás. Desde que Sandra soubera que estava com o vírus, ela se descuidara  totalmente de si mesma e por não aceitar ser portadora da doença se recusava a se tratar, afundando cada vez mais na bebida, com homens entrando e saindo do bangalô.
-Cale a sua maldita boca, você não sabe de nada.
E saiu arrastando suas sandálias, deixando Dóris falando sozinha como em todas as outras vezes que tentara lhe alertar  sobre sua saúde. A situação em sua casa, nessa época não era nada boa.
Sua mãe,  mal falava com ela, e  enquanto isso, sua irmã Grace, absorvia toda a situação silenciosamente.
Quando Doris completou dezessete anos, arrumou um emprego de garçonete de dia e passou a estudar a noite. Foi a partir daí, que jurou para si mesma que se daria uma vida melhor, queria uma vida diferente da vinha levando. Passou a almejar viver no luxo e com muita riqueza. Não estava mais disposta a viver a dura realidade de sua família.
Sua beleza nesta época começou a despertar a atenção dos homens.
Seus cabelos negros batiam na cintura, e seus olhos cor de violenta davam a ela uma beleza exótica que a diferenciava das demais garotas.O corpo era muito bem moldado com cintura fina e pernas grossas.
Por causa de sua intensa beleza, começou a ser assediada pelos rapazes da região, mas quando lhes negava qualquer tipo de envolvimento, principalmente o sexual, sofria muitas humilhações e desacatos, pois aos rapazes esperavam que ela tivesse o mesmo comportamento promíscuo da sua mãe.
Grace ficava deprimida quando era apontada na escola como uma vadia Farlow.
Mas Doris, não. Ela reagia vê xingava os agressores, revidava de todas as formas possíveis que conhecia, mas nunca levou desaforos para casa.  A partir de então, ela passou a ser reservada para fazer amizades e fechou-se para o mundo masculino.
Até que  numa noite, o destino a fez conhecer o caubói Gabe Foster, que participava do rodeio anual da cidade. Gabe era moreno, alto, incríveis olhos verdes e fartos cabelos negros. Ele era peão de uma fazenda em Montana, mas participava de rodeios montando touros brahma.
Uma noite depois de uma apresentação, Gabe foi beber uma cerveja no bar onde ela trabalhava. Foi paixão á primeira vista. Durante todo o tempo que durou o rodeio, ele freqüentou o bar. Flertavam  silenciosamente durante todas aquelas noites,  até que  numa ele a esperava na saída do bar e a pediu pra levar  para casa.
Dóris assentiu com um leve aceno de cabeça.
Seu coração palpitava e ela entrou na sua picape nervosa e excitada como toda adolescente no seu primeiro encontro.
Gabe era muito bonito e difícil de resistir. Mas apesar de toda a atração que sentia por ele, Doris não estava disposta a se entregar tão facilmente.
Algumas noites depois, ele a levou para casa, e a beijou possessivamente.
_Te quero doçura...
Dóris o afastou lentamente.
_Não. Por favor..._ ela disse resistindo ao apelo da voz sensual.
Gabe a olhou e arrumou seus cabelos atrás da orelha.
_Não adianta fugir de nós dois. E você sabe muito bem disso.
Dizendo isso ele  entrou no carro e partiu, deixando-a sozinha e irritada consigo mesmo por quase ter cedido aos apelos daquele caubói arrogante.
_Como ele ousava? Quem ele achava que era?
Quando o campeonato de rodeio terminou, ele voltou para  seu trabalho em Montana.
E ela, por mais que tentasse mentir para si mesma, teve que admitir que sentia muita falta do caubói petulante e dono de si mesmo.
Mas Dóris procurava sufocar o que sentia, porque por mais que Gabe fosse  interessante, bonito, carinhoso e atraente, nessa época, ele não tinha o perfil de seu homem ideal.
Ela desejava conhecer um homem rico que pudesse lhe dar garantias de uma vida segura, que ela nunca teve.
Queria ser presenteada com jóias caras,  mimada com viagens e passeios em carro do ano, queria jantares em restaurantes luxuosos e roupas sob medida, em lojas da moda.
Nessa época, seu maior sonho era comprar roupas no seu próprio manequim para deixar de vestir roupas velhas doadas pelos outros.
Mas como o coração não obedece à razão, duas semanas depois, Gabe voltou para vê-la, e Doris se deixou envolver apaixonadamente. Ela simplesmente, cedeu aos apelos másculos e sensuais do bonito caubói.
Foi com Gabe que ela conheceu pela primeira vez a magia do amor e do sexo. Foi com Gabe que desvendou os segredos de seu corpo e que aprendeu a malícia da paixão.Todo sofrimento evaporava na companhia dele.
Mas além de lindo, Gabe era extremamente gentil e sua virilidade estonteante fez com que mantivessem uma relação apaixonada e estável por quase um ano.
Dóris se arrepiou ao lembrar dos momentos inesquecíveis passados ao lado de Gabe.
Tudo com ele era tão intenso e maravilhoso.
Numa tarde, ambos acabaram de fazer amor e ainda permaneciam deitados na cama no hotel barato onde Gabe sempre se hospedava quando vinha a Denver.
Ela sorriu para ele e tocou seu rosto carinhosamente. Gabe pegou suas mãos e a fitou de  um modo penetrante e singular.
_Dóris, eu queria te falar uma coisa.- ele disse muito sério.
Dóris apoiou-se no cotovelo, arrumando o lençol sobre o corpo nú, e o olhou assustada. Não havia gostado do modo que Gabe lhe falara aquelas palavras.
Havia uma ternura imensa no belo rosto másculo, e um brilho diferente nos olhos verdes.
_Dependendo do que seja, eu não quero nem ouvir _ela respondeu  tensa.
Gabe recostou-se na cama e lhe deu um sorriso compassivo e carinhoso.
Os últimos raios de sol penetravam pela janela levantando pequenos grãos de poeira.
_Calma Doçura.Eu sei que  o que vou dizer, vai ser-nos pra nós dois.
Apesar de notar que havia uma tensão no rosto de Dóris, Gabe não se preocupou e continuou a falar.
_Bem, eu andei pensando, já estou com vinte e sete anos, e tenho algumas economias, então que tal se nós...
Dóris sentou-se na cama rapidamente.
_Nós o que, Gabe?
Ele então notou que a reação de Dóris não era de aceitação. Jurava que ela ia ficar feliz com seu pedido de casamento, mas pelo visto, ele estava enganado.
Dóris levantou-se da cama,  nervosa. Ela o olhava enfurecida com os longos cabelos negros lhe encobrindo totalmente os seios pequenos e rijos. Não ia deixar ele completar aquele pensamento maluco.Gabe fitou a bela visão da mulher atormentada a sua frente e sentia-se completamente aturdido.
Tentando reverter a situação, sem saber se conseguiria, Gabe falou suavemente tentando acalma-la.
_Eu amo  você, e achei que gostaria de vivermos juntos. Eu gostaria muito de me casar com você.
Doris riu. Um riso nervoso, quase histérico. Ela estava fora de si. Seu queixo tremia tanto, que seus dentes batiam uns contra os outros.
_Por favor, de onde você tirou essa ideia? Não me fale de casamento. Como você pode me propor isso? Olhe só para você. É apenas um peão de rodeios que ainda nem venceu um campeonato nacional. Eu tenho apenas dezoito anos, e muitos, muitos sonhos para viver. Eu vou  sair daqui e pretendo seguir para San Diego ou Las Vegas. Eu quero uma vida maravilhosa e não terminar meus dias como mulher de caubói, limpando botas, lavando e cozinhando para meia dúzia de crianças.
Gabe se sentiu mortalmente ferido pelas palavras de Dóris. Os olhos verdes escureceram de desolação e dor.
Apesar de saber que o magoava muito, Dóris lhe deu as costas por não conseguir encará-Gabe passou a mãos pelos cabelos nervosamente, deixando os totalmente desalinhados. Lentamente, ele conseguiu se levantar da cama,  e vestiu sua calça jeans desbotada e a camisa azul. Silenciosamente, calçou as botas surradas que estavam caídas no chão.
Incomodada  pelo silêncio, Dóris o olhou.De repente, ele havia se transformado num estranho de olhos frios.Um estranho e perigoso inimigo.
_Eu sinto muito Gabe. Mas eu tenho meus planos, e...
Gabe colocava seu cinturão de couro e mal a olhava.
_Você é como sua mãe e sua irmã. Não vale droga nenhuma, saia daqui agora, fora daqui antes que eu perca a cabeça.- disse ele com uma voz irreconhecível.
Doris não conseguiu se mover. Sua boca abriu para revidar, mas não conseguiu.Ela não conseguia acreditar que ouvira aquelas palavras de Gabe.
Olhou-o bastante confusa com sua atitude agressiva, mas depois, ergueu o queixo orgulhosa. Sentia-se profundamente ofendida com tudo aquilo.
_Porque ele não entendia que ela procurava um homem melhor do que ele?
Fingindo indiferença, vestiu o vestido amarelo e calçou seus tênis surrados.
Quem ele pensava que era para falar com ela daquela maneira?Não sentiu nem um pingo de piedade ao ver a raiva ir se transformar em dor nos olhos verdes.
Por Deus, porque Gabe fazia aquele drama todo?
Tudo o que ela mais queria nessa vida era não magoá-lo. Também nutria um sentimento forte e maravilhoso por ele, Mas não poderia casar-se  com eles de modo algum.
Para ela, Gabe seria apenas uma doce aventura de verão,  nada mais que isso. Não iria deixar que o amor destruísse os planos que tinha para sua vida. Se ele a amasse, ele a entenderia, pois iria querer o melhor para ela.
E  segundo seus pensamentos, ele definitivamente não era o melhor para ela.
Confiante no que fazia ao deixá-lo, Dóris pegou sua bolsa e quando falou sua voz estava cheia de ressentimento.
_Se me ofender, faz você se sentir melhor, tudo bem, me ofenda. Mas deixe minha irmã fora disso ela é apenas uma criança. E não a compare com minha mãe, seu bastardo! _revidou ela de forma agressiva.
Gabe  caminhou até a porta do quarto  e aabriu com violência, indicando que ela deveria sair.
_Você que pensa que ela é inocente. E bastarda é você, Sta Dóris Farlow._ Disse ele com hostilidade.
Dóris o olhou estupefata.
Nunca em toda sua vida sentira tanta raiva e indignação.  Antes de sair pela porta já aberta, ela parou e o encarou. Sem que Gabe esperasse, ela o esbofeteou, e saiu do quarto sem olhar para trás.
Confusa e amargurada voltou andando para casa.
Estava arrasada pelo que acontecera.
Caminhando lentamente, pensou sobre o que acontecera nas duas últimas horas. Na entrega total e apaixonada que tivera com Gabe, momentos antes do fatídico pedido de casamento. Estava furiosa pela troca de ofensas que trocaram,  quando nunca tiveram  uma briga sequer  em um ano de relacionamento.
Seu coração se apertou, e ela sentiu uma enorme náusea.
Ela  amava Gabe e perdê-lo daquela maneira foi a pior coisa que lhe acontecera na vida. Será que  ela estava certa em não aceitar seu pedido? Será que devia voltar e tentar conversar de maneira madura e honesta?
Não. Não podia voltar.
Não podia se arrepender de sua escolha.
Por mais que estivesse apaixonada não podia casar-se com Gabe. Ele nunca poderia lhe oferecer aquilo que queria para si, e na naquela altura da sua vida, não podia mais abrir mão de nada, principalmente de seu sonho.
Além do mais, quem ele achava que era para falar mal de Grace daquela maneira?
Não. Tudo estava no seu lugar, pensou Dóris. Tudo acontece da maneira que tem que ser. Nunca mais queria ver Gabe Foster. Iria esquecê-lo e com certeza,?em bem pouco tempo, conheceria um homem rico que lhe daria tudo aquilo que ela merecia.
Chegando no bangalô que morava com sua mãe e irmã, Dóris tirou a jaqueta e as sandálias e sentou-se no velho sofá, tomando coragem pra tomar um banho e tirar de sua pele o cheiro de Gabe.
Fechando os olhos, ela revivia as cenas vividas no hotel.
Estava esgotada física e emocionalmente. Depois que tomasse um banho, e se recuperasse de todo aquela emoção conturbada que sentia, iria contar tudo que acontecera para Grace.
Entretanto, um barulho na porta do quarto chamou-lhe atenção.
Levantou-se sobressaltada ao ver um homem sair do quarto de dormir. O homem passou por ela, e não a cumprimentou.
Assustada, deu dois passos vem direção ao quarto.
Seria sua mãe? Não. A essa hora ela estava cantando no bar.
Tensa, Doris se aproximou lentamente da porta do quarto e viu Grace, nua  e sentada na cama,  contando algumas notas.
Sentindo que ia desmaiar, ela se apoiou na parede. Não queria acreditar no que via! Não podia ser verdade!
Entrou no quarto correndo e jogou as notas que estavam em suas mãos, no chão.
_Grace?  O que acha que está fazendo? Que merda é essa?
Grace se virou e a olhou fixamente.
Em seus olhos ela viu primeiramente um misto de vergonha e timidez, mas depois, o olhar de Grace se tornou frio e quando ela falou, em seu rosto não havia nenhuma emoção.
_Porque  não? _Perguntou cínica.
Dóris  sentiu as lágrimas saltando de seus olhos e  lentamente cobriu o corpo nú da irmã e a abraçou.
Inicialmente, Grace aceitou o carinho e ambas ficaram em silêncio por alguns minutos, até que Grafe a afastou.
_Pare de chorar Dóris. É apenas sexo. Você e Gabe também não fazem?
Doris balançou a cabeça.
Agora, ela chorava tanto que as coisas estavam fora de foco. Suas lágrimas a impediam de ver o rosto bonito da irmã.
_Não Grace, com Gabe é diferente. Eu o amo, e ele me pediu em casamento.
Grace  se aproximou lentamente da irmã e enxugou carinhosamente suas lágrimas, com a ponta do lençol.
_E você aceitou?
Dóris engoliu em seco.
_Não.
Grace a olhou demoradamente. E, então, abraçou-a ternamente, como se abraça uma criança.
_Está tudo bem. Mas não pense que você é diferente. Na verdade, voce é como nós, Dóris._disse Grace referindo-se á mãe.
Dóris então sentiu que algo se despedaçava dentro dela, e de alguma forma, ela pressentiu que juntar os cacos novamente seria uma das tarefas mais difíceis da sua vida.

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