Um Conto de Natal

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Numa noite de Natal. Tomei meu neto pela mão e fomos passear. Levei-o a visitar o menino lá da outra rua. Meu neto estranhou e cochichou-me:

— Como é feio este lugar! Aqui também é Natal?

— Sim, meu amor, aqui também é Natal.

— Papai Noel vem aqui?

— Não, aqui ele não vem.

— Por que, vovó?

— Porque... É difícil explicar.

— E por que ele vai lá em casa, então? Leva o que a gente quer e até o que a gente grande quer que a gente queira!

(Silêncio)

Novamente peguei meu neto pela mão e voltamos para casa. Mostrei-lhe o presépio pequenino escondido entre bolas e presentes. Apontei para a imagem do Menino estendido sobre palhas. Disse-lhe eu:

— Ele existe de verdade nesta casa, na outra rua e na roça. Veio para salvar-nos e ensinar que a vida tem de ser amor.

E meu neto perguntou:

— E o Papai Noel não vem mais aqui? Acabou?

De repente, na casa toda festiva, toca o sino, que alegria! Chegou, chegou! O Papai Noel chegou. Meu neto salta-lhe ao colo, afaga sua barba mal colocada, e ela cai. Grita então:

— Vovó! Ele é o pai daquele menino da outra rua. Agora sei porque ele não vai lá; ele mora lá!

— Mora sim. E escondido nesta roupa, ganha o pão para seus filhos.

— Ah! É como o palhaço do circo que faz rir as criancinhas? Dizem que o palhaço, quando não é palhaço, também chora às vezes. É verdade? Sabe vovó, quando eu crescer, quero ser Papai Noel, para ir ver as crianças da outra rua e levar para elas um montão de presentes.

— Faça isto, meu amor. Mas depois, no fim da festa, tire a barba, mostre o rosto. Elas irão gostar mais, porque você será de verdade! Sem a barba, sem o gorro, poderá ir vê-las, não só no natal, mas sempre, fazendo de cada dia um Natal. Assim faz Jesus, sempre nos vê.

— Mas nós não vemos "Ele vendo a gente..."

— Não, não vemos, porque Ele é Deus; é espírito. Sentimos sua presença, pois espalha bondade e beleza por toda parte.

Há mais de dois mil anos pastores e reis visitaram Aquela criancinha nascida nas palhas do estábulo, Jesus. Muitos outros o viram crescer, viver, amar, até ir vivo para o céu. Uma multidão ouviu suas palavras que até hoje são lembradas. Nós ainda podemos vê-lo em toda criação: no velho, no jovem, na criança... Vê-lo, como diz o poeta: "No santuário, no campo, no mar, na flor; em tudo que diga afeto, em tudo que diga amor."

Nota: Minha avó me mostrou esse conto uma vez em sua casa, isso há muitos e muitos anos atrás, imediatamente eu pedi para levar o conto, pois estava convencido que era digno de um prêmio. Disse para ela que digitalizaria o conto e enviaria para um concurso. Eu fiquei maravilhado com toda singeleza e pelo espírito natalino da história. O conto não ganhou o prêmio, mas minha avó ganhou um fã. Acredito que o neto do conto foi inspirado em mim, pois tem certo espírito questionador e foi fácil imaginar as perguntas do personagem saindo de minha boca. 

Desejo um feliz Natal a todos.

Feliz Natal!

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