Primeira carta

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Querido Papai Noel,

Mamãe disse que eu já podia escrever minha cartinha pro senhor, por isso eu tô aqui. Não sei se o senhor lembra de mim, sou a Ana, nada de "Ana Júlia", "Ana Luísa", "Ana Clara", só Ana. Mais nada. Ano passado eu pedi um par de patins, não sei se o senhor se lembra, eles eram bonitos, mas acho que vieram com defeito. Eu tentava andar e não conseguia, vivia caindo em cima das coisas, uma vez derrubei um vasinho de planta da minha mãe... Ela não gostou nada, nada, disso.

Ah! Lembra daquelas meias listradas que o senhor me deu quando eu era pequena? Ainda tenho elas, estão em algum lugar do meu armário. Eu tinha uns dois anos... Quase não me lembro desse Natal, a única coisa que lembro é que as pessoas ficavam me pegando no colo toda hora, eu não gostava nadinha disso. Hoje em dia ninguém quer mais saber de me pegar no colo, mamãe diz que é porque eu já tô grande.

É um pouquinho comum eu quebrar as coisas, mas é sem querer, juro. No Natal passado acabei quebrando um negócio de cozinha da minha mãe, acho que o nome é quebra-nozes, não lembro direito, minha mãe que sabe. Mas é sempre sem querer, sou uma menina boazinha, faço sempre os deveres de casa, obedeço a minha mãe... Mereço ganhar meu presente de Natal, não é?

Esse ano eu não vou querer uma boneca nova, uma bicicleta, ou outro tipo de brinquedo. Brinquedos não são tão importantes assim. O presente que eu quero é mais barato, e mais importante. Eu só quero que os meus pais fiquem felizes juntos de novo. Minha mamãe sempre manda eu ir pro quarto, mas ainda assim eu posso ouvir eles brigando. Eu não gosto disso. Tenho saudades de antes, dos outros Natais... Eles me levavam com eles pra casa da vovó, a gente passava o Natal lá, ela fazia as melhores rabanadas.

Mas é só isso que eu peço pro senhor, faça os meus pais pararem de brigar, faça eles ficarem felizes juntos de novo, por favor. Não sei se vou aguentar vê-los brigando por muito tempo, eu não sei porque eles brigam tanto, toda vez que eu pergunto pra mamãe ela diz que é coisa de adulto. Eu não gosto quando ela diz isso, mas eu prefiro ficar quieta pra não magoar ela. O papai, às vezes, tenta fingir que tá tudo bem e que eu não preciso me preocupar, eu posso ser uma criança, mas não sou burra, dá pra ver na cara deles que não tá tudo bem.

Então, você já sabe o que eu quero de Natal: que a mamãe e o papai fiquem felizes juntos de novo, e a gente volte a ser a família feliz de antes. E pode ficar tranquilo que o seu prato com biscoitos e o seu copo de leite vão estar em cima da mesa.

Com amor,
Ana.


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496 palavras.

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