— Mas tem um probleminha, gênia. Eu não faço a mínima ideia de onde a caixa possa estar.

— Esse colar que estou usando — segurou o colar, mostrando para Charlotte. —, ele começa a pulsar quando estou perto da caixa, mas como não posso pegar a caixa, ele só pulsa até eu chegar na porta, depois ele simplesmente para.

— Então me dê o colar. — respondeu Charlotte, inclinando-se para pegar o colar, quando rapidamente, Milena se afastou.

— Não! Eu não posso tirar o colar. Tem um feitiço nele, Charlotte. Eu não sou uma protetora, sou uma vampira. Se eu tirar o colar, o poder dos anjos me mata por entrar em seu território com algo angelical. Com isso, eu estou protegida. Eles não podem me atingir.

Charlotte bufou, sentando na cama e passou as mãos pelo rosto, respirando fundo várias vezes.

O que fariam agora? Como pegariam a caixa sem saber onde a mesma estava? Charlotte estava preocupada, se sentia inútil. Tinha que pegar a caixa, era tudo o que importava, apenas pegar a caixa.

— Por que não contou pra eles? — perguntou Milena, olhando para a loira. — Achei que fosse da natureza de vocês se protegerem unindo suas forças e blábláblá.

— Sim, fazemos isso. Lutamos por quem amamos até a morte. E é por isso que não conto nada pra eles. Quero protegê-los. Se eles souberem, vão ter que contar para os líderes e eu não quero isso! Todos iriam morrer por nada!

— Tanto faz, agora saia do meu quarto, preciso me arrumar para um encontro com o nobre McCarter.

— Não brinque com meu irmão. Não o coloque nisso, Milena.

— Ele está me usando como uma simples distração. Por que não posso fazer o mesmo? Vamos, saia.

Assim que Charlotte saiu, Milena conferiu o horário, sorrindo e andou até o banheiro, pensando em que roupa iria usar.

(...)

Bostorn andava de um lado a outro esperando Marshall, o representante dos protetores de Jounfly chegar, para enfim começarem mais uma das reuniões sobre as invasões dos Phildach nos castelos dos Protetores, que estão ficando cada vez mais frequentes.

Elena, que estava sentada em uma poltrona, procurava um jeito de amenizar a inquietação do marido após aquela grande descoberta que o mesmo fez.

Sabia que por parte, Bostorn estava com medo de perder o controle do Castelo de Broolph, a cidade em que nasceu, cresceu e pretende morrer, defendendo seu povo, como seu pai fez, seu avô.

Bostorn não ficou no poder apenas por ser filho de outro líder, ele ficou no poder pois mostrou tudo o que os protetores precisam: confiança, justiça, paz, equilíbrio entre os phildach, os protetores e os anjos e amor. Era tudo o que vinham batalhando para conseguir.

— Preocupado, senhor Rooph? — Elena balançou a cabeça, se livrando daqueles pensamentos quando ouviu a voz de Marshall. — Um líder deve manter a calma não importa a situação.

— Marshall. — disse Bostorn, virando-se para o homem, o olhando. — Sinto lhe dizer, mas terei que ignorar seus comentários nada produtivos. Tenho uma teoria, e se estiver certa, garanto que o que está por vir é bem pior do que imaginávamos.

— Estávamos todos tentando descobrir como um phildach entrou no castelo sem ser convidado e após morrer, tornou-se um demônio. — Continuou Elena, levantando-se, ficando ao lado do marido. — Concorda, senhor?

— Certamente, senhora Rooph. Agora por gentileza, prossigam.

— Existe um feitiço, feito com algum tipo de magia negra, que torna tudo de ruim, bom. Como um demônio pode virar um anjo? Foi a única explicação que encontrei.

Bostorn então, andou até a mesa ao seu lado, pegando o livro e o mostrou para Marshall, abrindo a página do feitiço.

— Reinheit in der Dunkelheit. — disse Elena. — Tudo o que é sombrio, vira algo puro, angelical.

Marshall passou um tempo olhando para o livro, lendo e relendo o que tinha lá sobre o feitiço. Por fim, fechou o livro, encarando Bostorn e disse:

— Preciso fazer pesquisas. Pra começo de conversa, nunca poderia colocar as mãos em um livro desses. Como meu desejo é preservar a segurança de todos entre nós, este livro será levado comigo, onde alguns feiticeiros irão examinar o feitiço e assim descobriremos se sua teoria está correta ou não.

— Como queira, mas e se estiver? — perguntou Elena. — O que faremos? É um dos feitiços mais fortes existentes no mundo.

— Caso estejam certos, o livro irá para as mãos dos representantes de Bigallystockler, onde eles analisarão cuidadosamente. Agora tenho outros assuntos pendentes, nos vemos em algum outro momento.

E assim Marshall saiu, levando consigo o livro com os feitiços mais poderosos que já existiram.

(...)

Isabelle continuava parada, encarando a lápide de sua mãe, olhando fixamente para a foto dela que tinham colocado ali. A ruiva se lembrava de tudo o que a mãe tinha dito sobre morte: Era o momento em que sua história acabava, o momento em que tudo o que você construiu fica pronto, o momento em que você tem que dar adeus para os que você ama.

Mas Isabelle sabia que não tinha sido como a mãe queria. Sua história não tinha acabado ainda, as coisas que ela estava construindo não ficaram prontas. Isabelle e Jeremy não estavam prontos. Eles precisavam da mãe e do pai. E enquanto uma estava morta, o outro estava desaparecido, e ela não parava de se culpar por saber que poderia ter impedido aquilo, mas não o fez.

— Não sinto raiva por ter escondido essa outra vida de mim, mãe. Juro, eu não sinto. — disse, sentando ao lado da lápide, olhando para a foto. — Mas eu poderia ter salvado vocês, não poderia? Agora posso salvar outras pessoas, posso salvar muita gente desse grande mal que está a solta, só tenho que ser forte como a senhora foi.

E sem perceber, seu rosto já estava molhado pelas lágrimas que insistiam em cair. Isabelle sentia uma dor forte em seu peito. Saudade, culpa, tristeza, raiva. Era tudo o que a ruiva sentia no momento. Ela só queria se livrar de uma vez por todas daquilo.

— Anjo? — Ouviu alguém dizer.

Virou o rosto, vendo Christian ali parado, atrás do grande portão do cemitério, a olhando com as mãos no bolso, a pele pálida, o cabelo bagunçado e olheiras fundas. Parecia cansado, como se tivesse acabado de lutar.

— Está tudo bem? — perguntou, ainda olhando para o rapaz. — O que faz aqui?

— Queria saber se estava tudo bem com você. Depois do que aconteceu ontem.

— Depois de você quase ter me matado? — perguntou, com um tom de raiva em sua voz, limpando as lágrimas em seu rosto.

— Estávamos em território de bruxas, já disse. Você não fez o ritual de sangue, não é oficialmente uma protetora, qualquer ser mágico pode entrar na sua cabeça.

Isabelle pensou um pouco. Então alguém tinha entrado em sua cabeça? Com que objetivo? Por que pareceu tão real?

— Como posso saber se não planeja cravar seus dentes em meu pescoço novamente?

— Ah, linda, eu quero sim, mas não com o propósito de tirar seu sangue. — Christian respondeu.

Isabelle levantou, olhando em volta procurando algo com o que possa se defender caso o moreno tivesse um ataque e realmente sentisse vontade de sugar seu sangue.

— Fique tranquila, não posso pisar em solo sagrado. Mesmo sendo parte protetor, ainda sou parte vampiro.

— É a primeira vez que escuto você se referindo a si mesmo como Granach. — disse, ficando mais aliviada ao saber que dentro do cemitério estava segura.

— Se refere a si mesma como Dowlightach? — perguntou.

A ruiva ficou em silêncio, encarando o céu e depois olhou para baixo, mordendo o lábio inferior. Depois de um tempo, respirou fundo e olhou para o moreno, dizendo:

— Eu não sou um anjo.

E assim passou por Christian, andando até o seu carro.

Protetores - O muro de KrapiosWhere stories live. Discover now