II - Quente

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Rafael

O dia começou da mesma forma que todas as segundas feiras, acordei bem cedo e fui correr na orla por cerca de cinco quilômetros, depois cheguei em casa tomei um banho enquanto conversava com minha mãe pelo viva voz do celular. Peguei meu carro e segui para a empresa, onde excepcionalmente hoje receberíamos uma nova funcionária. Quente era o adjetivo perfeito para descrever a nova funcionária da P&P, de acordo com as fofocas da rádio peão, a garota não é muito santa, sabe-se que Lizzie não gosta nada da garota e que por este motivo é extremamente proibida. Não que eu corra de mulheres deste tipo, não sou hipócrita, mas minha melhor amiga praticamente me implorou para que não me relacionasse com ela, somente por este motivo estou tentando me controlar. Porém o predador em mim gritou desde o momento em que ela cruzou o refeitório pela manhã, comecei minha vistoria pelos pés calçados em um salto agulha e preto impressionante, passando pelas pernas longas e torneadas em uma bela calça social, os peitos do tamanho certo para minhas mãos e terminando naquele rosto que parecia ter saído de um catálogo de moda, olhos castanhos com nuances esverdeadas moldados por longos cílios e o sorriso de quem esconde segredos. Sorriso esse que me deixou pronto e me era estranhamente familiar, mas foi quando ela abriu a boca para pronunciar as primeiras palavras que meu corpo inteiro respondeu, de certo modo parece que ele já a conhecia, droga ela é proibida e extremamente quente.
Passei a manhã inteira tentando ser o mais babaca possível, mas o cheiro de maça verde que irradiava dela fazia com que eu salivasse imaginando o contorno de seu corpo na minha cama, e a sensação de reconhecimento aumentava a cada inspiração. Então evitei-a dando-lhe um trabalho muito acima de sua capacidade e notei o quão desesperada a garota ficou, ela jamais poderá fazer um relatório de marketing eficiente sem nunca ter estudado sobre marketing, porém ela me surpreendeu mostrando-se extremamente dedicada fazendo me perguntas perspicazes e dando palpites interessantes. Cada vez que ela vinha até a minha mesa fazer uma pergunta eu prendia o fôlego, precisava urgentemente de uma mulher ou eu atacaria a única proibida para mim e sem nem mesmo dispensar a garota para almoçar saí e a deixei lá mordendo a ponta de um lápis de nariz franzido de maneira extremamente sensual.
Quando dei por mim quase duas horas depois, após um encontro rápido com uma das minhas muitas ficantes fixas na hora do almoço, lembrei-me da garota em meu escritório que deveria estar faminta, como não sei do que gostava comprei meu sanduíche favorito e um suco de laranja. O que nos traz a este momento constrangedor que estamos passando, ao entrar no escritório ela estava tão compenetrada que se assustou comigo, derrubando suco de laranja no corpo e eu já estava no ponto novamente só de ver seu rosto corado e o contorno do sutião rendado sob a blusa.

− Por Deus, eu estou frito! – sussurrei após ela deixar a sala para se arrumar após meio litro de suco sujar sua roupa.
Eu havia flertado com ela enquanto ela estava toda suja de suco e agora estou de quatro no meu escritório limpando o chão, já que as faxineiras estão ocupadas. Nunca perdi o controle desta forma, eu preciso me afastar dessa mulher ela é perigosa, e parte do perigo estava nesta quentura que ela exalava.

− Rafael desculpa e obrigada, estava tão perdida nas anotações que não te vi chegando e me assustei. - Disse retirando o pano das minhas mãos e se ajoelhando ao meu lado – Deixa que eu limpo, afinal fui eu quem derrubei.

− Nada, deixa que eu limpo e coma, eu esqueci de te liberar para o almoço! – Só então eu a olhei e percebi que havia trocado de roupa. - De onde surgiu a roupa limpa? – Perguntei mais para eu mesmo do que para ela, antes de prosseguir falando. - Você tem uma hora de descanso Lydia, use a sala de descanso comum coma seu sanduíche e beba o que restou do seu suco, todos os dias quando eu sair para almoçar você pode fazer o mesmo. - Ela acenou exitante. - Vá eu termino fique tranquila... - peguei o pano tocando levemente sua mão, ela realmente era quente e eu estava fritando nessa quentura.

− Tudo bem, estou indo. - Ela disse se levantando.

− Lydia? - Chamei enquanto ela saía. - De onde surgiu a roupa limpa?
A visão dela inclinando-se para trás e gargalhando mexeu com meus instintos mais primitivos. Céus ela é linda ,tão linda que quero mordê-la, arranhá-la e fazê-la gemer.
- Eu sempre ando com uma blusa na bolsa. - Respondeu trazendo-me de volta à realidade. - Sou muito desastrada com comida, sempre me sujo... - Deu de ombros – Aprendi ao longo dos anos. - Virou e saiu, deixando-me boquiaberto.

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Lydia me entregou o relatório a cerca de trinta minutos e desde então estou intrigado com o conteúdo do mesmo. Todas as suas perguntas, observações e resmungos (ela resmunga bastante) fizeram com que eu criasse uma alta e boa expectativa em torno do relatório, retirando as contas e estatísticas apresentadas o relatório era uma verdadeira necessidade fisiológica, nunca vi tantos erros de português reunidos na mesma folha. Depois do almoço sentei com ela discutindo ideias sensacionais que ela teve apenas com o vislumbre do que realmente faziamos. Analisei alguns futuros clientes e a ensinei a fazer as pastas de cada um. Neste momento ela folheava as apostilas que dei para que estudasse com o cenho bem franzido e Lúcia tagarelava feito louca ao seu lado, falando sobre nossos últimos treinamentos e projetos. Enquanto tentava assimilar a contradição da bela e proibida mulher a minha frente Lizzie ligou solicitando que eu fosse até sua sala e o assunto só poderia ser um Lydia.
− Meninas, Liz me chamou, qualquer coisa me liguem na sala dela.
− Pode deixar Rafa! - Disse Lúcia, enquanto Lydia acenava com a cabeça.
Mesmo não sendo religioso caminhei até o escritório da minha melhor amiga rezando e nem mesmo entendia o porque, de estar tão apreensivo. Liz, é uma das pessoas mais generosas que já conheci e me estendeu a mão quando resolvi que não queria ser apenas um herdeiro e sim um homem com conquistas próprias, poucas pessoas sabem mas, meus pais são donos de uma das maiores empresas de telecomunicações do país e eu amo atuar nessa área, no entanto eles deixaram que eu escolhesse e trabalhasse em outros ambientes até que um dia precise assumir o império construído por eles. Assim conheci Lizzie e ela me trouxe para cá onde o foco é marketing empresarial e sou um de seus braços mais importantes, ela não sabe que sua oportunidade fez com que eu me tornasse muito mais que um riquinho metido a besta. Ela salvou a minha vida quando estava prestes a me afundar e por ela faria tudo.
Bato em sua porta e tento esconder a expressão de desespero, ela me conhece e vai identificar na hora meu desejo pela nova funcionária.
- Entre Rafa. – ouvi sua voz dizer.
- Pois não chefinha! – Falei zombando dela, como sempre fiz ao sentar-me a sua frente.
− Então, me diga, como está nossa funcionária nova? - Ali estava a pergunta que não queria calar e mudaria tudo.
Eu sei a confiança que ela deposita em mim e se eu disser que a garota tem futuro ela fica, se eu disser que não ela roda nos primeiros quarenta e cinco dias. E eu sei que ela tem futuro, ela é curiosa, esperta, inteligente, mesmo não sabendo escrever direito. Sentia uma necessidade tão grande de provar para ela que ela era capaz e nem sei o motivo. Arqueei uma sobrancelha respondendo.

- Além de muito gostosa? – Escapou dos meus lábios e mesmo disfarçando o tom para uma brincadeira velada, eu sei que ela sabe que eu acho exatamente isso. – Está se saindo bem, é esperta e bastante inteligente, mas...

- Mas o que? - O rosto de Lizzie se encheu de esperança e o meu peito de uma sensação estranha.

- Mas eu notei que ela tem alguma dificuldade em analisar e redigir documentos. – Respondi com toda a sinceridade.

- Como assim? - Minha amiga não fazia ideia de quão linda ficava com o nariz arrebitado franzido, D. era um homem de sorte, porque além inteligente, Liz é linda!
- Não sei, Lizzie, mas hoje pela manhã dei alguns relatórios sobre as empresas dos projetos em andamento, para que ela tomasse conhecimento e assim quando eu fosse explicar o que realmente fazíamos ela não estivesse boiando, acontece que ela ficou branca quando entreguei os papéis e estava boiando quando fui explicar. – Anuiu encorajando-me a prosseguir. – Porém enquanto eu explicava ela foi capaz de entender rapidamente a dinâmica da coisa, me fazendo questionamentos muito pertinentes e levantando excelentes hipóteses que quero comentar com vocês na reunião de planejamento na quarta-feira.

- E quanto a outra dificuldade apresentada?

- Ah, sim! Após explicar, mostrei para ela como geralmente montamos as pastas dos projetos, como realizamos as pesquisas de marketing das empresas e montamos os esboços de cada cliente. – Isso que estava me intrigando e pelo jeito a Lizzie também – Assim entreguei para ela os meus rascunhos e mandei para ela os modelos, para que ela pudesse redigir um pré-projeto para mim, afinal como você sabe acredito que a prática é a melhor forma de aprendizado...

- Por que sinto que existe um, mas no final da sua frase?
- Porque, o pré-projeto voltou totalmente sem pé nem cabeça, com muitos erros de português e incoerente.
- Eu sempre soube que ela tinha problemas na escola, uma vez que estudou com a minha irmã, mas não neste ponto de não ter boa compreensão e produção textual. Isso pode vir a ser um problema, porque grande parte dos nossos processos envolvem isso. – Ela falou em uma espécie de diálogo particular. – Vamos observar isso mais atentamente nos próximos dias. – Concluiu e me deixou sem perspectivas. – Mais alguma observação importante?
- Sim, notei que ela não tem a mesma dificuldade com a matemática, todos os cálculos estavam corretos, mas eu tive que minuciar as informações para que ela executasse as contas. – Disse com uma esperança que nem sabia qual era – Liz, eu sei que vai soar estranho, mas não se precipite, a garota é muito perspicaz e desenvolta, pode nos ser útil em outras coisas. - Meu Deus, porque eu estava tão desesperado?
− Sei exatamente em que coisas ela pode lhe ser útil Rafa, mas por favor evite, certo? – Sorriu brincalhona. – Eu me lembro exatamente do climão que ficou neste setor quando você e a Jéssica, pararam com o que seja lá que vocês tinham, demorou meses para que vocês se comportassem normalmente novamente.
Ela nunca deixaria que eu me esquecesse dos tortuosos dias após Jessica me dar um pé. Nunca namoramos, eu nunca tive um relacionamento, mas com Jess cheguei muito próximo disso. Eu gosto dela, de gostar mesmo de sentir um afeto grande e genuíno, sei que ela é mais velha que eu, mas e daí? O único problema é que ela só queria meu corpo e as noites inteiras de satisfação que eu lhe proporcionava. Nunca confessei meus pseudos sentimentos para ninguém já que ironicamente a melhor amiga de Liz é Jess e deste modo eu sei que a lealdade feminina fala mais alto já que ela nunca me perguntou como eu me sentia depois de tudo que aconteceu.
− Sim senhora, quer que eu chame a Lydia? – Perguntei já abrindo a porta.

− Sim por favor. – Disse e eu fui em direção a intrigante funcionária.

Cheguei na minha sala e encontrei uma Lydia concentrada, olhando a tela do computador. Não queria ser bisbilhoteiro, mas acabei sendo olhando a tela através dela. Me surpreendi quando notei que ela assistia vídeo-aulas sobre marketing de relacionamento interno e não me arrependi de defendê-la para a Lizzie, ela parecia querer mesmo este emprego. Fiz um pequeno ruído para que não se assustasse antes de fazer o que Liz pediu.
− Lydia. - Ela me olhou desconcertada. - A Lizzie quer te ver na sala dela.
− Ah! Tá! Certo. - Levantou e pude ver o medo em seus olhos, qual era o problema entre essas duas? O que fazia com que ambas tivessem reações tão extremas?

− Fique tranquila, ela é uma das melhores pessoas que conheci. - Disse tentando tranquilizar a garota. - Seja sincera e ela será o mesmo contigo.

− Certo. - Disse se aproximando da porta. - E obrigada, mais uma vez. - Falou ao sair.


Sim (Nome Provisório) Where stories live. Discover now