Prólogo

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Você está vendo essa menina sentada na varanda, olhando para o nada? Pois essa sou eu: Cristina ou Cris, que é como todos me conhecem. Uma mulher de mentira, com um sorriso de mentira. É assim que levo a minha vida. Tenho medo de mostrar quem sou de verdade e assustar a todos. Venho tendo crises de ansiedade desde que descobri que a empresa onde trabalho é uma fraude. Por causa dessa empresa estou mentindo para a minha família e amigos, por causa dela estou com o meu nível de estresse altíssimo. Com a volta da Clarisse, a minha melhor amiga e quase irmã, para o Morro de São Paulo tive uma rápida melhora, mas nada considerável.

Há um ano eu estava no Morro de São Paulo, quando vi uma oportunidade de emprego no jornal. Era tudo o que eu queria, trabalhar na área de moda, então fui a Valença atrás desse sonho. Deixei o meu currículo em uma renomada empresa, a Guerra Modas, muito conhecida e disputadíssima no ramo. A Guerra Modas teve sua história contada em uma série produzida na França, onde tudo começou, e hoje recebe profissionais de todo o mundo. Sei que é um sonho muito audacioso para mim, mas tentei e para a minha felicidade, consegui. Em poucos dias fui chamada para uma entrevista e contratada. A entrevista foi feita por uma simpática funcionária, a Josiane. Ela se tornou muito importante para mim, o meu porto seguro durante esse tempo que se passou.

Fiz toda a mudança do Morro para Valença e embarquei no meu sonho. Passei um ano trabalhando normalmente, levando a minha vida do jeito que eu queria. Tinha Josiane como amiga, visitava os meus pais nos finais de semana. Estava satisfeita. Os meus desenhos estavam tendo muito sucesso e eu recebia muitos elogios dos chefes e amigos. Porém, ao passar um tempo tudo mudou. Passei a ser muito exigida, mas do que o normal em qualquer empresa. Trabalhava dia e noite, todos os feriados e finais de semana. Não tinha mais descanso e não assinava mais os meus desenhos. Tiraram-me da minha sala e fui para uma bem menor. Comecei a ter esgotamento físico, chorava dia e noite, sem entender o porquê dessa mudança. Josiane me aconselhou a falar com o Chefe do meu setor para saber o que estava acontecendo e foi aí que eu soube que uma nova funcionária, chamada Sônia, e filha de um amigo do Doutor Augusto Guerra, dono da empresa, era a nova diretora. Rafael, que é o meu chefe, disse que Sônia conversou com o Doutor Guerra para ela fazer os desenhos e assinar, eu seria a sua assistente. Pelo jeito que Rafael me contou, o dono da empresa não desconfiava das intenções da Sônia. Então fui rebaixada de Designer Oficial para uma simples assistente, o que Doutor Guerra não sabia, era que quem continuava desenhando era eu.

Depois dessa revelação fui questionar Sônia e tive uma desagradável surpresa. Eu havia assinado alguns papeis meses atrás. Quando voltei de férias e a conheci, Sônia me disse que a empresa estava passando por mudanças e eu precisava assinar um contrato de direitos de imagem, já que como criadora dos principais desenhos eu em breve iria aparecer nos desfiles e nos portfólios. Como confiava neles, assinei sem ao menos ler e esse foi o meu erro.

Agora estou aqui, de volta ao Morro de São Paulo, tentando aproveitar o resto do fim das minhas férias. Estou sentada na varanda esperando a hora de ir à casa do Evandro para abrir as minhas dolorosas feridas, e o pior de tudo, Sérgio vai estar com ele.

Um novo dia, um novo recomeço para felicidade (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora