Amores passados

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A mulher se sentou ao meu lado e eu dei um pulo. Agradeci a pouca luminosidade pois pude ver algo de si, cabelos brancos, vestido rosa elegante e tinha um contorno de corpo fantástico. Ela deveria ser quase uma modelo. Senti suas mãos macias puxarem meu rosto e suas unhas grandes roçavam minha pele. Se eu estava perfumada, não era nada perto daquela mulher.

- Parece um anjinho oriental, um passarinho inexperiente ou, vejamos, uma andorinha. Deveria adotar esse nome, combina contigo, pequena. - Ela me soltou, não por querer, mas por que Strange me puxou.
- Clea, o que está pensando? - Ele parecia indignado e me sentou atrás dele. Quem era aquela mulher? Por que Stephen se dava tão mal com ela? - Não ouse descontar nela o que houve conosco!
- Eu a tratei muito bem, não sei de onde tirou isso! Assim você me insulta Stephen. - O modo que ela falou parecia que se sentia realmente insultada. Mas não demorou a rir-se de maneira chamativa - Você fica uma graça bravo. Devia ver a cara dele, pequena. Desculpe, você não pode.

Eu ouvi um barulho e logo em seguida senti Stephen me puxar pelo braço. Clea gritava algo que eu não podia entender. Conforme andávamos deixava de ouvir sua voz e comecei a ouvir Stephen.

- Desculpe por aquilo, aquela era minha ex-mulher. - Ele parou e me ajudou a sentar num banco. Senti uma brisa fria e notei que estávamos do lado de fora. Rapidamente senti sua capa voar para os meus ombros e me aquecer. - Ficaria agradecido se não a considerasse uma pessoa ruim, ela ainda está muito chateada com o fim do nosso relacionamento. Mas creio que você seja madura o suficiente para lidar com isso.
- Não se preocupe, Stephen. Eu apenas queria saber o que foi aquilo no sofá. - Eu tentava focaliza-lo, sentindo um leve cheiro de cigarro. Notei que ele se virava. Parecia levemente inquieto.

- Sinceramente? Nem eu sei. Faz tempo que não sinto algo assim. E olha que sou bem velho. - Ele riu um pouco, tragando o cigarro novamente. - Foi um pouco de desejo, estava com vontade de fazê-lo mas não queria abusar de sua forma fragilizada. Convenhamos, você é uma ótima pessoa. Mesmo antes de salvar sua vida, tentou me oferecer seu cobertor e você estava tremendamente desnutrida. Era bom te visitar quando estava na cama, passamos muito tempo lendo, mesmo que com Hong você parece ler coisas mais interessantes e femininas. - Ele tornou sentar do meu lado. - A facilidade com que solta um sorriso sincero, gosto disso. - Seu tom de voz mudou um pouco com pesar. - Mas devo confessar, te ver lutando foi fantástico. Mesmo fraca, ferida e sendo violentamente atacada, você se levantava e tentava atacar. Um animal teimoso que se negava á morrer. Você é fantástica, pequena Andorinha.

Eu fiquei surpresa com Stephen, ele parecia anotar tudo de mim na sua mente e analisar com doçura. Não sentia que ele sentia tudo aquilo por mim, por cada ato.

- Deixemos de conversa triste e vamos aos doces! - Eu o vi criar um portal para a mesa de doces e comecei a rir. - Não ria alto ou vão nos notar.

Passamos aquela noite comendo doces e quando Stephen notou que estava muito tarde, pegou-me no colo e eu adormeci deliciosamente em seus braços. Acordei num quarto com fraca iluminação sem janelas. Senti algumas cortinas suaves, finas, roçarem meu rosto. A cama era grande e eu sentia apenas a camisola de roupa de baixo que Hong mandava eu vestir. Ouvi a voz de Strange antes de chutar o sofá bem a frente da cama.

- Yu? - Ele saia do banheiro provavelmente, cheirando espuma de barba em spray. Eu cai no sofá, sentindo uma coberta e um travesseiro. Ele havia dormido no sofá? - Se machucou?
- Quarto novo, sem bengala...Não dá muito certo. - Eu ri levemente enquanto ele me amparava pelos ombros. - Você dormiu aqui?
- Apenas trocamos beijos, ainda não posso invadir sua cama. Se bem que você fica linda de camisola, minha andorinha. - Ele falou de modo galante e me causou um arrepio. Beijou minha testa e voltou ao banheiro. Claro, me deu a bendita bengala. Essa qual me ajudou a achar a cômoda e o divisor de ambientes, atras de onde me troquei.

Minhas roupas tinham etiquetas com a cor da roupa, facilitando meu dia á dia imensamente. Quando sai de tras do divisor topei com algo, ou melhor, alguém. Um peitoral quente e firme, que deixou meu rosto queimando de vergonha e meu corpo paralisado. Ele me sacodiu levemente e riu. Era Strange. Mas por que diabos ele estava de peitoral nu e úmido?
- Calma, criança. Vejo que esta trocada, bom. Vou vestir algo, me aguarde que e não me demoro. - Ele tornou a beijar minha testa e se afastar. Voltou após se vestir. Eu ainda estava encabulada.

Demorei algum tempo para me acalmar e Stephen teve que ser muito paciente. Mas não demorou a me levar para uma barulhenta sala de refeições onde eu sentia alguns puxões no meu vestido. Quando Stephen me sentou senti a presença mágica de Hong. Ele serviu deliciosos petiscos orientais. Um pouco de caldo de legumes, bolinhos pequenos de arroz e algumas frutas coreanas.

- Parece até um café da manhã de onde eu vim! - Eu conseguia usar os talheres orientais com dificuldade. Mas me sentia satisfeita com qualquer avanço motor. A alegria me foi roubada quando senti uma forte energia negra e o corpo enfraqueceu de maneira que desmaiei pouco depois de Stephen me amparar.

Mergulhei na Coreia do Norte de quando eu era criança.

Doutor Estranho e sua aprendizWhere stories live. Discover now