Prólogo

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Cidade de Grace – Natal de 2006

O tiro atingiu a porta de vidro, que despencou em uma chuva de pó brilhante.

Brandindo a pistola com os dedos rígidos, o policial disparou novamente. Do outro lado do salão de festas, os três homens se curvaram em uma corrida desajeitada, evitando os tiros e mergulhando noite afora. O policial à paisana se apressou por entre as mesas circulares, esmagando cacos de vidro com a sola dos sapatos e empurrando cadeiras pros lados de qualquer jeito. Seu coração martelava, como uma máquina descompassada.

Quando atravessou a porta que acabara de destruir, precisou achatar as costas contra a parede. Os criminosos Mascarados atiravam em sua direção, agachados atrás dos carros do estacionamento.

O vento frio do inverno pareceu congelar seu suor, fazendo com que calafrios percorrerem sua espinha. Seus nervos pareciam se esticar e se contrair na mesma intensidade, o que lhe dava a impressão de que estava prestes á desmaiar. Sentiu a escuridão se aproximar como fumaça negra, e de repente quis vomitar.

Contudo, assim que os estampidos das balas cessaram, o policial se jogou para o chão em posição de atirar. A arma de fogo pulsou entre as palmas de suas mãos, enquanto os Mascarados se jogavam dentro dos carros apressadamente. As balas atingiram a lataria de um dos veículos, fazendo um barulho metálico, mas esse saiu cantando pneus e deixando duas marcas negras sobre a neve muito branca.

O policial se levantou em um salto no momento em que o segundo carro se moveu no estacionamento, dando a ré e invadindo a pista.

Ele se viu correndo para fora da calçada, tentando mirar nas rodas do veículo. Os pneus queimaram o asfalto no momento em que o motor roncou. O carro avançou, virando abruptamente na esquina e deixando o oficial para trás.

Ao longe, as viaturas do Departamento de Polícia ligavam suas sirenes, avisando à pequena cidade de Grace que uma perseguição havia começado.

O que era realmente uma novidade...

Ainda com a mente a mil por hora e sem querer parar para pensar no que havia acabado de acontecer, o policial correu para o estacionamento, ouvindo o bipe familiar ao destravar o alarme do seu reluzente Chevrolet.

Abriu a porta, jogando sua arma do banco de passageiro e enfiando a chave na ignição com as mãos trêmulas. Puxou a gravata, folgando-a. Depois pisou fundo no acelerador, virou o volante e invadiu a pista. Ouviu um chiado de interferência, demorando um segundo a mais para agarrar o radio comunicador.

- Oficial Campbell à escuta. Câmbio. – Disse, arfando.

O rádio omitiu um ruído antes de uma voz se sobressair, grave e apressada.

- Aqui é Parker. Duas viaturas estão indo para o Leste em direção à costa marítima, em perseguição a dois Mustangs pretos. Alguma informação adicional? Câmbio.

O oficial Campbell engoliu em seco. Virou a esquina rapidamente, pegando a interestadual e subindo a encosta que levava aos precipícios do litoral.

- Estou indo em direção a Costa Leste. São três homens mascarados, Richard é um deles. Ele está sozinho em um dos Mustangs. Câmbio.

O homem do outro lado da linha hesitou.

- Tome cuidado, Daron. – A voz disse. – Por favor, haja com um bom senso.

- Bom senso é algo que deixei naquele salão de festas, junto com o corpo da minha esposa. Cambio desligo.

Parker e os outros policiais não estavam longe. Daron Campbell podia ouvir o barulho agudo das sirenes, distorcido pelos ventos do mar. A lua jogava sua luz prateada sobre a paisagem coberta de neve. As colinas ao redor pareciam estar fracamente acesas, como mantos cinza fluorescentes sobre a vegetação. A pista estava banhada com tons de chumbo e quando Campbell chegou ao topo da colina, percebeu que o mar se agitava em ondas azul-cintilantes.

Doce Dezembro - Os Mascarados Livro IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora