Prólogo

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Riscou o fósforo e observou as pequenas fagulhas transformarem-se em chamas. Levou o fogo até o Marlboro, que aguardava pacientemente no canto da boca. Protegeu o cigarro do vento e puxou com vontade. O fumo incendiou, e ele aspirou aquele monte de fumaça, alcatrão, monóxido de carbono, amoníaco e, dizem, restos de rato morto e outras milhões de porcarias.

Olhou o pacote do cigarro e colocou um papel entre o plástico e aquela foto horrorosa dizendo que ele ia ter impotência sexual, câncer no pulmão, mau hálito e matar criancinhas, dentre outras barbaridades.

Soprou a fumaça e ficou encarando o sujeito que estava à sua frente. O homem olhava para os lados, batia com as mãos na mesa e estalava os ossos do pescoço, numa espécie de tique nervoso.

Os copos tremeram na mesa de madeira quando mais um caminhão passou a toda velocidade na frente do bar do posto de gasolina que se encontravam. Ele sempre marcava esses encontros na estrada, ou em cidades vizinhas.

— E então?

— Estou pensando — inalou mais um pouco de fumaça — O senhor sabe que esse serviço que estás me pedindo é muito perto da minha casa.

— O que podemos pagar é isso... — e deslizou um papel pela mesa.

O homem estudou o valor e suspirou.

— É muito arriscado...

— Tudo bem. Pensei que fosses um profissional...

Secou o copo de cerveja que estava à mesa e encarou o outro. Não gostava de ser provocado.

— Estamos acertados. Pagamento adiantado. Uma semana é o tempo que peço.

— Eu sabia que podia contar contigo.

Apagou o cigarro na madeira envelhecida da mesa e estendeu a mão amarelada de nicotina para o cumprimento. Foi embora com a sensação de que não deveria ter fechado aquele negócio.


Noite Escura (degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora