– A lápide... – Começa, eu assinto, interrompo-o.

– Vou pegar as minhas coisas. – Digo, inexpressiva.

Lanço um olhar a Jake e a Susan, despedindo-me. Saímos juntos do lugar, em silêncio. Adam entra no carro que eu costumo usar, no banco do motorista, franzo a testa, mas ele ignora, ligando o carro. Bufo, irritada, sentando-me no banco do passageiro.

Não demora muito pra chegarmos ao cemitério. Parece um lugar vasto, com muitas lápides e poucos mausoléus, e é. Adam estaciona logo na entrada e me conduz até onde meus pais estão. Respiro fundo várias vezes, tentando não relembrar toda a mágoa que senti, a tristeza que tomou conta de mim no dia que tudo aconteceu e tentando esquecer as palavras de Adam. Sempre que ele fica perto de mim, elas martelam minha cabeça. 

Eu não queria que isso acontecesse, mas não posso mudar nada. 

Uma lápide em particular me chama a atenção, é bem maior que as outras, parece ser feita de granito, visto de longe, e é até aquela que Adam está me levando. Crispo os olhos.

Como eu já esperava, é a dos meus pais. Há uma foto dos dois juntos, sorrindo, a data de nascimento de cada um e a de morte.

– Você não pediu que escrevessem nada? – Sussurro, minha voz falha.

Adam solta um breve suspiro, passando as mãos pelo cabelo longo. Diria que sua reação foi quase que de arrependimento ou culpa.

– Eu... eu não quis fazer você escrever uma frase para resumir a vida dos seus pais. Já passei por isso, Belle, e sei que você não conseguiria. Comigo foi a mesma coisa. E eu não tenho o direito de escolher uma frase por você. 

Inconscientemente, meus lábios se curvam num meio sorriso. Odeio admitir isso, mas Adam tem razão e odeio mais ainda o fato de eu ter apreciado o resultado. Umedeço os lábios e desvio uns cachos do meu rosto, sem perceber a lágrima solitária descendo pela minha bochecha. Ele a limpou, hesitante e cuidadoso.

– Eu posso pedir que escrevam alguma coisa, se quiser. – Murmura, ainda mais hesitante. Nego com a cabeça.

– Está ótimo assim, obrigada. – Sussurro, dirigindo-lhe um rascunho de sorriso e um olhar agradecido.

Adam se permite relaxar pela primeira vez hoje e retribui meu sorriso. Fica parado ao meu lado o tempo todo, sem tirar os olhos de mim até eu decidir ir embora. 

Foram tantas lembranças que aquela foto na lápide me despertaram, até porque quem a tirou fui eu. Foi no aniversário do meu pai, há uns três anos, eu acho. Os amigos deles estavam lá em casa e eu tirei foto de todos com a câmera que minha mãe e eu compramos. Quem diria que Michael Levy tinha como passatempo a fotografia? 

Respiro fundo quando Adam para o carro na Delion, uma cafeteria que só os muito ricos frequentam. Já vim aqui uma vez com meus amigos, demos uma olhada nos preços e saímos logo em seguida. Escolho uma mesa mais ao canto e me sento.

– Quer alguma coisa? – Nego com a cabeça.

Fico em silêncio por muito tempo, olhando para o vazio. Sinto o peso dos olhos de Adam em mim e, por alguma razão, isso me deixa curiosa. E com raiva. 

– Você pareceu conhecer bem os meus pais lá no cemitério...

– Eu tive que passar muito tempo com eles no hospital, então, sim. – Responde.

– Algum sentimento de, sei lá, amizade ou algo parecido?

Adam crispa os olhos, claramente se perguntando onde eu quero chegar com isso.

Sombras da Luz (Pausada)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora