CINQUENTA E UM (Parte dois)

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As horas caminhavam vagarosamente e Micaela já não sabia mais contabilizar a quanto tempo permanecia presa no cativeiro de Kartehn o bersaref. Estava há incontáveis dias trancada em uma espécie de câmara escura no solo, com espaço suficiente apenas para se manter em pé, sem se movimentar muito. As paredes e o chão eram formados por rochas incandescentes que faziam seus pés borbulharem e quando o cansaço lhe tomava o corpo lhe obrigando a se apoiar, era a vez das costas arderem.

Kartehn por mero prazer havia lhe roubado tudo que possuía. Confinada em um mundo onde a morte era proibida de entrar, sequer podia optar por tirar a própria vida. Somente o bersaref poderia libertá-la, portanto estava condenada a sofrer os abusos nas mãos do maníaco que lhe aprisionara. Assim como qualquer drohkine, sua existência se resumia apenas em obedecer e satisfazer os desejos de seu mestre - algo que aprendera a duras custas.

Sentia que lentamente sua sanidade lhe abandonava. Contava constantemente a quantidade de rochas que lhe cercavam para manter a mente ativa e quando percebia que começava alucinar, se jogava contra as paredes para que o fogo lhe despertasse, em uma desesperada espécie de terapia de choque.

Sabia que aquilo não ia funcionar por muito tempo. Precisava sair dali.

Foi então que naquele dia, enquanto clamava sem forças por misericórdia e se concentrava para não desmaiar de fraqueza, subitamente a tampa que cobria sua vala foi retirada e uma luz forte invadiu o local lhe cegando os olhos.

Olhou para o alto e pôde aos poucos perceber o rosto redondo de Kartehn surgir.

- (Olá drohkine.) – Cumprimentou a enorme figura, estranhamente sisuda e sem rodeios.

A naskiden nada respondeu.

- (Terei alguns convidados especiais hoje e você irá nos servir.) – Continuou o bersaref.

Sem dizer mais nada, apontou o dedo para a direção dela e o sinuoso fio começou a eclodir de seu anel. Em poucos segundos Micaela estava envolvida nele e subindo para a superfície.

Ao ser solta, caiu então desengonçada aos pés de Kartehn e rapidamente tratou de se pôr de joelho com a cabeça no chão, em sinal de reverência e agradecimento.

- (Muito bem. Parece que finalmente aprendeu a se portar.) – Constatou o beriarti.

Ela permaneceu ajoelhada e em silêncio.

- (Estou disposto a lhe dar mais uma chance, mas dessa vez será a última. Será que finalmente poderei confiar em ti?) – Questionou Kartehn lhe erguendo o queixo.

- (Sim meu slimordel.) – Concordou Micaela.

- (Então não precisarei me preocupar com alguma inconveniente surpresa elaborada por essa cabecinha?)

A naskiden apenas negou com a cabeça.

- (Quero deixar bem claro, que nunca mais sairá daquela cela caso me cause algum aborrecimento esta noite.)

Sob a ameaça, Micaela visivelmente amedrontada, baixou os olhos sem nada responder.

- (Ótimo drohkine. Vou considerar isso como um avanço em nosso relacionamento e lhe dar uma derradeira chance de se redimir dos últimos contratempos.) – Concluiu Kartehn empurrando a cabeça dela com força para trás, derrubando-a no chão.(Vamos então, serva imunda. Levante-se e me siga.)

Prontamente ela obedeceu.

Desde que chegara, Micaela havia resistido à opressão de Kartehn de todas as maneiras possíveis. Tentara fugir diversas vezes, além de desobedecer a suas ordens e agredi-lo verbalmente com constância. Em todo ato de rebeldia era punida severamente, mas como nada parecia surtir efeito sobre a ex-guillen, o bersaref supostamente teria desistido e a confinado eternamente naquela prisão infernal.

Elafium: A guerra ocultaWhere stories live. Discover now