✖ Parte Um : A infância - O início de tudo ✖

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Sabrina sabia que não era normal. Tinha ouvido a vida inteira sua mãe lhe dizer isso, mas ela queria viver normalmente. Por isso, quando sua herança finalmente saiu, ela não pensou duas vezes e foi embora para o outro lado do Brasil, literalmente. Saiu do Amazonas, onde cresceu e viveu todos os seus vinte e um anos, e foi para o Rio de Janeiro, a cidade do povo alegre, como ela sempre ouviu falar.

Estava cansada do olhar de pena que todos lhe dirigiam, afinal, ela era a garota órfã, que havia perdido os pais em um trágico e misterioso acidente no Rio. Para outros, ela era a louca que atraía a morte e conversava com espíritos. Alguns diziam que ela era a responsável pela morte dos pais, outros que os pais preferiram morrer a ter que continuar convivendo com a maldição da garota. A realidade era que muitos estavam preocupados em falar sobre a vida de Sabrina, mas poucos estavam realmente preocupados com a garota.

Desde os sete anos, Sabrina é a esquisita da cidade. Tudo começou na noite seguinte ao seu aniversário de sete anos. Já era madrugada alta, e todos estavam dormindo na casa. Sabrina estava em seu quarto, sozinha, quando sentiu algo puxar o seu pé. Achou que era seu primo, Marcos, que às vezes passava férias em sua casa, então apenas resmungou que a deixasse em paz. Porém, o aperto aumentou e começou a queimar sua pele, como se houvesse fogo na mão que a tocava. Assustada, Sabrina levantou a cabeça. A primeira coisa que viu foi o relógio de parede, que marcava três da madrugada. Ao olhar para o seu pé, congelou de medo.

Poucas vezes na sua pequena vida, Sabrina havia sentido tanto medo. Um medo que a paralisava e fazia seu pequeno coração bater tão alto, que ela começou a achar que ele saltaria do seu peito, como um desenho animado. Um arrepio frio e intenso percorreu todo seu corpo, um frio tão forte que parecia que cortaria sua pele. O que tornava tudo mais estranho, já que era o auge do verão amazonense e as temperaturas estavam nas alturas. Mesmo com medo, Sabrina voltou a encarar aquilo que agarrava sua perna. Tinha forma humana, mas fedia como se estivesse morto. Parecia que sua pele estava descolando de seu corpo. Havia buracos em sua cabeça e restos de cabelos queimados caíam deles. A coisa resolveu encarar Sabrina, e foi então que ela gritou. Um grito tão forte e assustado, que parecia ecoar todo medo que ela carregava n’alma naquele momento. 

A coisa tinha um dos olhos pendurados, metade do rosto caindo, pendurado por pedaços de pele queimados. Sua carne estava apodrecendo. Porém, o mais assustador era que Sabrina conhecia a coisa. Era D. Maria, a vizinha mais antiga do bairro, uma senhora boa e que todos adoravam. Menos Sabrina, que agora passou a ter um medo absurdo da senhora. 

Devido ao grito que dera, os pais de Sabrina saíram correndo para ver o que estava acontecendo no quarto de sua filha. Encontraram a menina sentada em sua cama, paralisada e suando frio, apontando para um ponto fixo no quarto, onde eles não enxergavam absolutamente nada. A reação de Marta, mãe de Sabrina, foi abraçar a menina e tentar acalmá-la, dizendo:

— Calma, meu anjinho. Foi apenas um pesadelo. Mamãe e papai estão aqui para te proteger.

— Ela estava aqui, mamãe. Ela é uma bruxa horrorosa e queria me roubar! Eu vi, mamãe. Olha meu pé!

— Quem esteve no seu quarto, filha?

— A Dona Maria, mãe! Ela é uma bruxa, machucou meu pé!

Então, a mãe foi olhar o pé da menina, e o que ela viu a deixou severamente preocupada. Havia uma marca de mão, como se marcada com algo quente. A pele da filha estava queimada e fedia a coisa morta. O que quer que tenha acontecido naquele quarto, não havia sido apenas um pesadelo. E assim começava o tormento de Sabrina. O problema não eram os sonhos que a perturbavam profundamente, mas a realidade que eles traziam. 

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O dia seguinte ao sonho foi perturbador. Assim que Sabrina finalmente acordou, depois de passar horas tentando dormir e só conseguir porque foi dormir com os pais, encontrou D. Maria em sua casa. Ainda tomada pelo medo, a inocente menina começou a chorar e gritar:

REAL ? (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora