amargo da bebida

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Meu coração dispara
Quando estou com você
Cantarolando na esquina
Quando vejo aquela mina

Dividindo um prestígio e outros vícios
Quando eu gaguejo
Quando eu te ensino
Quando eu te beijo

Quando vejo seu olho fechar ao sorrir
Seu sotaque a me confundir
Suas poucas palavras e as muitas tentativas
As gargalhadas engasgadas e as brigas como quem não quer nada

E o abraço gostoso que você me dá com aquele pedido de desculpas sussurrado, que me faz suspirar
Quando te sinto, quando te gosto

Quando comemoramos mais uma vitória
Quando perdemos,ganhamos e cantamos
Quando nossa voz e nossa risada se cruza sentimos a vibração da lua que aos poucos clareia nossas mãos juntas

Quando meu coração se despedaça te vendo indo e quando você volta logo após, sorrindo

Quando tua voz ecoa na sala e seus olhos trêmulos e assustados me procuram sem sucesso
E eu te toco e o seu tremor passa pra mim que com um sorriso se vai

E sinto o calor do seu corpo e dos seus lábios me agradecendo
E vejo a paz que seus olhos exalam e me transborda

O primeiro olhar de surpresa
O primeiro sorriso tímido e nítido à metros de mim
Até nossos olhares se encaixarem e não se desfocarem mais

Aquela ansiedade que mata de dentro pra fora que chega até ser animadora, pois sei que vou te ver
e te ver chegar e te ver partir

Teus lances, tuas jogadas colam como tatuagem machucadas que saram aos poucos com seus beijos

E teus dedos entrelaçados em meus cabelos e seu cheiro que me deixa meio tonta e vejo que não tenho pra onde ir

E testo nossos movimentos rápidos e impulsivos e vejo o medo que só você sabe o nome
te acalmo, te deito e te convenço que está tudo bem se entregar

vejo suas mãos tremulas que repassam pra seu corpo que flutua procurando um canto, um caminho para se encaixar

te seguro com minhas mãos e nossas mãos se juntam em uma coreografia que eu nunca pensei que existiria

Com cabelos molhados, corpos soados e o breu
sinto a culpa da espera e me pergunto se fomos os culpados dessa tragédia

E ela vem a tona e me faz repensar se estamos aqui e se vamos partir
Ou se eu já acabei me entregando ao surto e se estou gozando da dúvida

Quando estou com você
meu estômago embrulha e eu vomito borboletas
e as acabo comendo para que elas continuem dentro de mim

E começo a sentir o salgado do mar
Que aos poucos pigam em meu rosto e nos meus lábios
E acabo deixando o vento me levar, que ela lave minha alma e que eu me encontre com você

E veja o brilho do seu sorriso encadeando meu rosto na mesma hora que eu te imito e sorrio ao sentir o amargo da bebida em minha garganta

E meu coração disparando
Quando estou tomando uma breja com você.

Aline Gazzarolly, amargo da bebida
Revisão: Luiz Buscariolli

pedaços de mim com manchas de vinhoWhere stories live. Discover now