CAPÍTULO 06 *Uma Semana*

872 189 159
                                    


faz uma semana que eu não vejo o Nataniel e isso me deixa deprimida.

"–O que? – perguntei nervosa.

–Uma vez eu... Eu já tive vários surtos. – disse mudando a posição calma, para as pernas cruzadas e os braços inquietos. – Lembra, que quando você sentou na pia eu disse que minha mãe ia achar que eu tive outro surto? – concordei com a cabeça. – Pois é. Às vezes, por alguma coisa, eu ficava com tanta raiva que... Eu começava a quebrar tudo na minha volta e machucar as pessoas. Meus pais nunca me levaram ao médico.

Teve uma época que meus pais eram muito ricos. E eu tinha uma namorada. Legal, divertida. Até que um dia eu descobri que ela só estava comigo por causa do dinheiro. Cara, eu fiquei irado.

Eu fui até a casa dela, comecei a quebrar tudo! E comecei a espancar ela também.
Os vizinhos escutaram e chamaram a polícia. Nossa! Saiu na televisão! – ele falava isso com tanta naturalidade que eu me assustava. – Meus pais conseguiram convencer os policiais que eu tinha problemas mentais, e então eu fui levado a uma clínica psiquiátrica.
Meus pais tostaram todo o dinheiro no tratamento e hoje não somos mais ricos nem nada. E aquela menina, nunca mais a vi!

–Por que você me contou isso? – eu estava tremendo.

–Porque você me contou seu problema, e eu não conseguiria viver conversando com você e escondendo tudo isso! – ele disse aparentemente nervoso e aliviado.
– Você tinha razão. Eu... Eu não consigo... – e, então, eu sumi."

Mas o que me dói mais ainda, é que ele não me chamou. Recebo muitos outros chamados e toda vez que atendo não é ele.
Eu fico desapontada e me desato a chorar. Mas eu não sei porque eu tenho tanta esperança em que ele me chame. Deixei claro que não consigo mais vê-lo. Tenho medo.

E todos os dias, quando eu me lembro dele, eu choro. Fico com um aperto no coração.
Alguns sentimentos adormecidos à tempos, voltam.

Às vezes tenho a impressão de que me apaixonei, e que um dia, ele vai me chamar de novo.
Mas eu sei que isso é impossível. Eu estou morta e ele é um psicopata, eu acho.
Eu acho que na verdade psicopata é um exagero meu, mas eu ainda morro de medo.

Eu comecei a ficar com saudade, de alguém para conversar. Alguém que me trate como alguém viva.
Talvez eu tenha me precipitado. Talvez ele tenha sido curado.
Talvez...

Mas eu tenho muito medo. Muito medo daqueles olhos castanhos profundos. Daquele sorriso sincero. Das piadas.
Eu tenho medo, medo do desconhecido. Um desconhecido lindo.

Mas é mesmo medo? O coração bater toda vez que eu penso nele. Ou, eu me sentir viva quando eu conversava com ele.

Novas vozes surgiam e a porta do banheiro era aberta.
Duas meninas entravam papeando sobre o dia.

– Você nem está sabendo! – a outra disse abrindo uma bolsa e começando a se maquiar.

– O que? – a outra perguntou enquanto ajeitava o cabelo.

– Sabe aquele menino esquisitinho da segunda série? – ela passava uma camada generosa de rímel.

– O Nataniel? – a outra perguntou fazendo uma trança no cabelo.

– Ele mesmo! – ela pegou um batom. – Disseram que ele teve um surto em casa, começou a quebrar tudo! Uma loucura!

– Sério? Quem te disse? – a outra terminou a trança e colocava uma presilha.

– Passou no jornal! Ele tava dizendo que era por causa de um fantasma que assombrou ele, sei lá. Não prestei muita atenção!

– Nossa que horror! O Natan era doido mesmo, ainda bem que nunca andei com ele! – as duas terminaram de se arrumar e foram embora.

Acho que eu sei do que eu tenho medo...

De me apaixonar!


°.°.°

644 palavras


A Loira do Banheiro Tem Medo de GarotosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora