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John envolveu Sherlock pela cintura. O moreno sangrava pelo nariz ainda e isso deixou o mais velho nervoso.

- Você pode dar um copo d'água pra ele? - falou colocando o menino [que não era tão menino assim] sentado no sofá.

Sherlock precisava de um momento para se recuperar do que havia acontecido à cinco minutos atrás. Ele precisava de um tempo para tudo. Aquilo estava enlouquecendo-o.

A vidente apareceu no cômodo segurando um copo de água na mão esquerda e na direita segurava uma maleta de primeiro socorros.

- Eu faço isso. - John levantou do sofá tão rápido que sua cabeça se embaralhou e sua visão ficou cinza.

- Não se incomode querido, eu posso...

- Escute, ele é meu namorado! Eu trouxe ele aqui. Eu meti ele nessa coisa e o forcei a fazer isso, então por favor, deixe-me cuidar dele. - Tomou a maleta de primeiros socorros na mão.

- Estou com um pouco de dor de cabeça. - Foi a única coisa que Sherlock disse. Ele não tinha mais fôlego para dizer tudo que estava guardado na sua cabeça.

- Ela deve ter analgésicos aqui. - O loiro disse abrindo a maleta.

John retirou de lá algodão, soro fisiológico e um remédio específico para enxaqueca.

Suas mãos estavam trêmulas, ele nunca tinha cuidado de Sher assim antes. O moreno era durão, nunca se mostrava fraco ou doente.

- Não se mexa, tudo bem? - Passou o algodão úmido no buço do garoto. - Está quase saindo. Logo vamos estar em casa.

Enquanto John limpava toda aquela "bagunça", Sherlock o analisava tão bem. Mesmo com a cabeça quase explodindo de dor e a boca salivando com gosto de metal, ele lia cada parte e cada reação do corpo do médico.
Ele não queria se mostrar fraco, não dessa vez. Não queria deixar seu... namorado?... tão preocupado.

Sherlock pousou sua mão direita no antebraço de John e olhou delicadamente para ele. Seus olhos de alguma forma se conectavam e por alguns segundos ele se sentiu tão bem ali que nunca mais queria ficar longe do seu homem.

- Eu estou bem... - Sherlock falou. - Só dor de cabeça mesmo.

John sorriu. Foi um sorriso tão doce que Sherlock queria observá-lo para sempre. Ali. Parado. Apenas os dois.

O loiro depositou um beijo na testa de Sher e logo em seguida deu  analgésicos e água para ele.

- Tome apenas um. Eu vou conversar com a anfitriã da casa e depois nós vamos embora. - Passou as mãos no cabelo do moreno e a imagem de Sherlock criança apareceu na sua cabeça. Um menino tão doce correndo pelo pátio da igreja agora estava ali, arruinado.

John olhou para a mulher que havia acabado de deixar a sala, ele tinha certeza que ela estaria na cozinha.

- Tem como apagar a memória dele? - O loiro falou tão baixo que a mulher mal ouviria se não estivesse ao lado dele.

- Perigoso de mais. - Sua voz saiu num fio. - Ouça, eu não quero alterar o futuro de vocês. Se eu fizer isso talvez Sherlock possa sofrer as consequências mais à frente.

- Ele já está sofrendo! Olha, eu não queria nada disso, eu não queria me apaixonar por aquele menino. Você sabe a diferença das nossas idade? Deus, eu poderia ser o pai dele se quisesse. Eu não queria perder minha esposa num acidente à anos atrás, mas isso não é escolha minha! A única coisa que eu posso fazer é cuidar da pessoa que eu amo.

- Olha, eu não posso mexer no futuro de vocês. Vá para casa agora, pense no que pode fazer. Calcule as consequências de tudo e depois volte aqui, tudo bem?

Watson passou a mão pelos cabelos, deixando-os totalmente bagunçados.
Precisou apenas de alguns segundos para voltar a realidade e caminhou de vagar até o cômodo onde Holmes estava.

- Vamos para casa, tudo bem? Você está melhor? - perguntou tão rápido que se Sherlock não tivesse o pensamento ágil talvez não conseguisse entender.

- Estou bem, John. Vamos voltar.

Os meninos agradeceram a gentiu senhora e deixaram a casa.

O caminho de volta para casa era perigoso, não havia quase nenhuma iluminação nas estradas de pedra e John sentia um arrepio na espinha só de pensar no que poderia acontecer ali. Tomou um fio de coragem e percebeu que Sherlock era a única coisa concreta que ele tinha agora. Ali. Emaranhado na sua jaqueta, parecendo uma criança. Ele amava tanto aquele homem que isso quase não cabia no seu peito.

- Tente dormir um pouco, quando chegarmos em casa eu acordo você. - Disse ao garoto, que mesmo de olhos fechados concordou.

•••

Ali dentro daquele carro, Sherlock começou a sentir-se sufocado. Sua cabeça parecia explodir e ele não aguentaria ficar ali dentro nem mais um minuto.
Sua respiração estava tão acelerada que ele já perdido o auto-controle.

Apesar de sentir-se seguro ali dentro, seu coração e sua mente não davam a menor chance para o garoto se quer descansar.

Ele abriu os olhos de vagar e viu uma luz tão intensa que podia jurar que sua hora havia chegado. Colocou os braços ao redor da cabeça e uma dor enorme se alastrou por ela. Ele gritou.

Querendo sair dali, ele tentou  fugir de dentro do carro, mas se sentia cada vez mais preso.

Olhou para os lados e viu que John não estava ali dentro. Tudo estava escuro e a luz que antes o cegava agora estava distante.

Holmes passou a mão na testa, sentiu seus cabelos úmidos de suor e agora que a ficha havia caído, seus dentes começaram a tremer e ele sentiu frio.

Piscou várias vezes tentando limpar seus olhos, ele sabia que estava delirando. Suas pernas estavam tremendo e suas mãos fracas de mais para destravar o cinto de segurança e abrir a porta do carro.

Fechou os olhos, respirou e começou a chamar por John, tão baixo que nem ele mesmo conseguia ouvir.

De repente ouviu a porta do passaseiro se abrir e agradeceu a Deus - apesar de ser ateu - por alguém ter aparecido para tirá-lo daquele sofrimento.

- Sher? - John o chamou.

Watson havia parado o carro no meio da estrada, num mercadinho não muito movimentado, para comprar algumas coisas pro preparo do jantar.

O loiro agarrou Sherlock pelos ombros e o colocou sentado no banco de uma forma que suas pernas ficassem para fora do carro e ele pudesse recuperar o fôlego. Tomou a temperatura do moreno com as mãos, ardendo de febre.

- Nós vamos pro meu consultório, tudo bem? Você está ardendo de febre, eu tenho que checar se não tem algo de errado com você.

- John... só preciso descansar. - sussurrou e de vagar fechou seus olhos, relaxando todo o corpo.

Ele havia desmaiado, deixando John Watson quase beirando a loucura.

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